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ENSINO MÉDIO
Particulares cobram mais gramática que interpretação
Crítica é de professores que analisaram vestibulinhos de sete escolas
JULIANA CARIELLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Imagine a seguinte situação:
uma livraria publica, em seu site, a opinião dos leitores a respeito de textos consagrados pela nossa literatura. Você foi escolhido para escrever sobre "O
Espelho", de Machado de Assis.
Essa é a proposta de redação
que integra o processo seletivo
do Bandeirantes e é um dos tipos de desafio por que passam
os candidatos ao ensino médio
das 20 escolas da capital mais
bem classificadas no Enem.
Das 20, 19 aplicam provas,
sendo que em três o objetivo é
só fazer um diagnóstico do conhecimento dos alunos e nas
outras 16 é selecioná-los.
Os vestibulinhos costumam
ter concorrência equivalente à
dos vestibulares. Aluno de escola estadual e do Cursinho do
XI, Vinícius Pereira da Silva, 13,
vai prestar o Cefet, que é federal e tem a maior concorrência
entre as 20 melhores no ranking do Enem. A relação chega
a 50 candidatos por vaga, mais
que o dobro da enfrentada por
sua irmã, que vai prestar relações públicas na USP.
Os dois estudam juntos, em
casa, matemática, física e química. "Vários conteúdos são
comuns às duas provas", diz.
Caso não passe neste ano, Vinícius diz que não desistirá.
"Como meu sonho é estudar no
Cefet, se não for aprovado, faço
de novo a prova."
A pedido da reportagem, sete
escolas disponibilizaram seus
exames, que foram analisados
pelos cursinhos Elite e Intergraus e pelo professor da Unesp
João Palma Filho, da disciplina
sociedade, Estado e educação.
As avaliações se centraram nas
questões de português e matemática -algumas escolas cobram outras matérias.
Nos vestibulinhos analisados, o número de questões varia de 25 a 75, e a duração das
provas vai de três horas e meia
a quatro horas e meia (a Escola
do Futuro não limita o tempo).
No geral, dizem os professores, as provas de matemática
cobram os conteúdos fundamentais, o que é positivo. Já nas
questões de português, foi criticada a cobrança excessiva de
gramática em detrimento do
conhecimento linguístico e de
leitura nas provas do Agostiniano Mendel, do Bandeirantes e
da Escola do Futuro. "As provas
mais avançadas de língua portuguesa se baseiam no texto como ponto de partida para pedir
as questões gramaticais", diz
Carlos Artexes, diretor de
orientações curriculares do
Ministério da Educação.
As provas do Cefet e das escolas técnicas (o exame é o mesmo nas duas estaduais) foram
consideradas bem elaboradas.
No caso do Bandeirantes, os
professores dos cursinhos consideraram a redação inadequada à "maturidade intelectual"
dos candidatos. "Resenha crítica é uma modalidade em que os
alunos desse nível escolar têm
muita dificuldade, e o texto de
Machado exige um conhecimento literário superior ao adquirido por eles", diz Vitor Hugo Haidar da Silva, do Elite.
O Bandeirantes diz que o texto pedido era apenas uma carta
em que o aluno poderia concordar ou discordar da tese defendida pelo personagem. "Esse
gênero é trabalhado no último
ano do fundamental em nosso
colégio, e a redação é considerada de dificuldade mediana
para os nossos padrões", argumenta a coordenadora de português, Izete Torralvo.
No caso do Santo Américo, os
avaliadores do Elite e da Unesp
divergem quanto ao excesso de
gramática. Para José Ruy Rubino Junior, professor do colégio,
"a prova não prioriza a gramática descritiva, mas enfatiza situações de uso da língua e efeitos de sentido produzidos por
recursos linguísticos".
A Escola do Futuro disse que,
como dois dos três pilares do
colégio estão ligados à formação do leitor e do escritor, precisa de alunos com base em gramática, já que, em suas aulas,
prioriza interpretação.
O Mendel adiantou que o
exame será reformulado com
base no Enem, e, portanto, a
ideia é diminuir ou acabar com
gramática "pura e simples".
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