São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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ENSINO MÉDIO

Particulares cobram mais gramática que interpretação

Crítica é de professores que analisaram vestibulinhos de sete escolas

JULIANA CARIELLO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Imagine a seguinte situação: uma livraria publica, em seu site, a opinião dos leitores a respeito de textos consagrados pela nossa literatura. Você foi escolhido para escrever sobre "O Espelho", de Machado de Assis.
Essa é a proposta de redação que integra o processo seletivo do Bandeirantes e é um dos tipos de desafio por que passam os candidatos ao ensino médio das 20 escolas da capital mais bem classificadas no Enem.
Das 20, 19 aplicam provas, sendo que em três o objetivo é só fazer um diagnóstico do conhecimento dos alunos e nas outras 16 é selecioná-los.
Os vestibulinhos costumam ter concorrência equivalente à dos vestibulares. Aluno de escola estadual e do Cursinho do XI, Vinícius Pereira da Silva, 13, vai prestar o Cefet, que é federal e tem a maior concorrência entre as 20 melhores no ranking do Enem. A relação chega a 50 candidatos por vaga, mais que o dobro da enfrentada por sua irmã, que vai prestar relações públicas na USP.
Os dois estudam juntos, em casa, matemática, física e química. "Vários conteúdos são comuns às duas provas", diz.
Caso não passe neste ano, Vinícius diz que não desistirá. "Como meu sonho é estudar no Cefet, se não for aprovado, faço de novo a prova."
A pedido da reportagem, sete escolas disponibilizaram seus exames, que foram analisados pelos cursinhos Elite e Intergraus e pelo professor da Unesp João Palma Filho, da disciplina sociedade, Estado e educação. As avaliações se centraram nas questões de português e matemática -algumas escolas cobram outras matérias.
Nos vestibulinhos analisados, o número de questões varia de 25 a 75, e a duração das provas vai de três horas e meia a quatro horas e meia (a Escola do Futuro não limita o tempo).
No geral, dizem os professores, as provas de matemática cobram os conteúdos fundamentais, o que é positivo. Já nas questões de português, foi criticada a cobrança excessiva de gramática em detrimento do conhecimento linguístico e de leitura nas provas do Agostiniano Mendel, do Bandeirantes e da Escola do Futuro. "As provas mais avançadas de língua portuguesa se baseiam no texto como ponto de partida para pedir as questões gramaticais", diz Carlos Artexes, diretor de orientações curriculares do Ministério da Educação.
As provas do Cefet e das escolas técnicas (o exame é o mesmo nas duas estaduais) foram consideradas bem elaboradas.
No caso do Bandeirantes, os professores dos cursinhos consideraram a redação inadequada à "maturidade intelectual" dos candidatos. "Resenha crítica é uma modalidade em que os alunos desse nível escolar têm muita dificuldade, e o texto de Machado exige um conhecimento literário superior ao adquirido por eles", diz Vitor Hugo Haidar da Silva, do Elite.
O Bandeirantes diz que o texto pedido era apenas uma carta em que o aluno poderia concordar ou discordar da tese defendida pelo personagem. "Esse gênero é trabalhado no último ano do fundamental em nosso colégio, e a redação é considerada de dificuldade mediana para os nossos padrões", argumenta a coordenadora de português, Izete Torralvo.
No caso do Santo Américo, os avaliadores do Elite e da Unesp divergem quanto ao excesso de gramática. Para José Ruy Rubino Junior, professor do colégio, "a prova não prioriza a gramática descritiva, mas enfatiza situações de uso da língua e efeitos de sentido produzidos por recursos linguísticos".
A Escola do Futuro disse que, como dois dos três pilares do colégio estão ligados à formação do leitor e do escritor, precisa de alunos com base em gramática, já que, em suas aulas, prioriza interpretação.
O Mendel adiantou que o exame será reformulado com base no Enem, e, portanto, a ideia é diminuir ou acabar com gramática "pura e simples".


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