|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
UM TETO TODO SEU
Casa própria é realidade para 73% dos moradores
Índice da região supera a média de São Paulo,
de 67,3%; para urbanista, expansão está ligada à invasão, via loteamentos irregulares
Eduardo Anizelli/Folha Imagem
|
|
Ana Rosa Scapechi, com seu marido Pedro Scapechi, dona da casa onde moram desde 1949
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O número de pessoas donas
do próprio teto na região noroeste ficou acima da média da
cidade- 73% na região disseram ter casa própria, enquanto,
na cidade, o mesmo foi dito por
67,3% dos entrevistados.
O índice foi ainda maior em
Brasilândia (78%), Jaraguá
(77%), Anhangüera e Cachoeirinha (ambos com 76%).
Na região há, atualmente,
159 loteamentos irregulares -a
maioria no Jaraguá (48) e na
Brasilândia (34), segundo a Secretaria Municipal de Habitação. Para a urbanista Marta
Grostein, coordenadora do Lume (Laboratório de Urbanismo
da Metrópole) da FAU-USP
(Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de
São Paulo), os altos índices de
casa própria estão diretamente
ligados a esse tipo de invasão.
"A expansão periférica de São
Paulo está associada ao loteamento ilegal ou irregular. O alto índice de casa própria tem a
ver com isso", diz.
Como conseqüência da invasão, a infra-estrutura da região
é precária. "Os loteamentos feitos nessas regiões são loteamentos onde bastava existir
uma avenida e uma linha de
ônibus, não precisava mais nada porque o acesso à moradia é
mais importante. Os equipamentos [públicos] vêm a posteriori."
Telhas
"Temos essa casa aqui desde
1949. Meus pais compraram.
Na época, quando se comprava
o lote, ganhava-se também os
tijolos e as telhas", conta a aposentada Ana Rosa Scapechi, 70,
moradora de Cachoeirinha.
Na rua dela, conta, apenas
duas casas são alugadas. "Todo
mundo aqui é antigo, mudou na
mesma época", ressalta.
A algumas casas de distância,
o feirante Cláudio Roberto
Garcia, 50, diz que a sogra, na
casa de quem mora, vive na
mesma residência desde 1950.
Para ele, o preço das casas contribui para o alto índice de moradores donos do próprio teto.
"As casas são um pouco mais
baratas, o local é mais pobre.
Não tem essa história de prédio
vir para cá", afirma.
"E pagar aluguel é furada.
Amanhã você está desempregado e fica difícil pagar. Tem
muita gente que veio do centro
para invadir aqui, ou comprar
baratinho, só para parar de pagar aluguel", diz, referindo-se
aos loteamentos irregulares.
As porcentagens de moradores que têm casa própria chamam atenção justamente porque as reclamações deles são muitas: faltam escolas, hospitais, opções de lazer e as casas
inundam após as chuvas.
"Olha a marca ali no muro",
aponta a doméstica Maria Emília Gomes, 48, para a linha escura na parede que alcançava
mais de um metro e meio.
"Minha casa está para cair
por causa de tanta enchente. Já
perdi de tudo aqui", diz a moradora do Jardim Vista Alegre, na
Brasilândia. A casa dela fica
atrás de um córrego, para onde
o esgoto das casas de todos os
vizinhos é dirigido, por meio de
canos plásticos improvisados.
Quando um deles quebra, os
dejetos ficam expostos ao ar livre, em uma área onde até
crianças brincam.
Enchentes e canalização de
esgoto foram a terceira maior
reclamação dos moradores
(13%), atrás apenas das falhas
elétricas e do asfaltamento.
Mesmo tendo que comprar fogão e armários com uma freqüência acima do normal e
com as rachaduras na casa,
própria, que cortam as paredes
do teto até o chão, a doméstica
não pretende se mudar.
"Se eu for para outro lugar,
não vou poder pagar aluguel",
explica. "Além disso, aqui todo
mundo é família. Nunca roubaram minha casa", diz.
(TB)
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Frase Índice
|