São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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UM TETO TODO SEU

Casa própria é realidade para 73% dos moradores

Índice da região supera a média de São Paulo, de 67,3%; para urbanista, expansão está ligada à invasão, via loteamentos irregulares

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Ana Rosa Scapechi, com seu marido Pedro Scapechi, dona da casa onde moram desde 1949

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O número de pessoas donas do próprio teto na região noroeste ficou acima da média da cidade- 73% na região disseram ter casa própria, enquanto, na cidade, o mesmo foi dito por 67,3% dos entrevistados.
O índice foi ainda maior em Brasilândia (78%), Jaraguá (77%), Anhangüera e Cachoeirinha (ambos com 76%).
Na região há, atualmente, 159 loteamentos irregulares -a maioria no Jaraguá (48) e na Brasilândia (34), segundo a Secretaria Municipal de Habitação. Para a urbanista Marta Grostein, coordenadora do Lume (Laboratório de Urbanismo da Metrópole) da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), os altos índices de casa própria estão diretamente ligados a esse tipo de invasão. "A expansão periférica de São Paulo está associada ao loteamento ilegal ou irregular. O alto índice de casa própria tem a ver com isso", diz.
Como conseqüência da invasão, a infra-estrutura da região é precária. "Os loteamentos feitos nessas regiões são loteamentos onde bastava existir uma avenida e uma linha de ônibus, não precisava mais nada porque o acesso à moradia é mais importante. Os equipamentos [públicos] vêm a posteriori."

Telhas
"Temos essa casa aqui desde 1949. Meus pais compraram. Na época, quando se comprava o lote, ganhava-se também os tijolos e as telhas", conta a aposentada Ana Rosa Scapechi, 70, moradora de Cachoeirinha.
Na rua dela, conta, apenas duas casas são alugadas. "Todo mundo aqui é antigo, mudou na mesma época", ressalta.
A algumas casas de distância, o feirante Cláudio Roberto Garcia, 50, diz que a sogra, na casa de quem mora, vive na mesma residência desde 1950. Para ele, o preço das casas contribui para o alto índice de moradores donos do próprio teto. "As casas são um pouco mais baratas, o local é mais pobre. Não tem essa história de prédio vir para cá", afirma.
"E pagar aluguel é furada. Amanhã você está desempregado e fica difícil pagar. Tem muita gente que veio do centro para invadir aqui, ou comprar baratinho, só para parar de pagar aluguel", diz, referindo-se aos loteamentos irregulares.
As porcentagens de moradores que têm casa própria chamam atenção justamente porque as reclamações deles são muitas: faltam escolas, hospitais, opções de lazer e as casas inundam após as chuvas.
"Olha a marca ali no muro", aponta a doméstica Maria Emília Gomes, 48, para a linha escura na parede que alcançava mais de um metro e meio.
"Minha casa está para cair por causa de tanta enchente. Já perdi de tudo aqui", diz a moradora do Jardim Vista Alegre, na Brasilândia. A casa dela fica atrás de um córrego, para onde o esgoto das casas de todos os vizinhos é dirigido, por meio de canos plásticos improvisados. Quando um deles quebra, os dejetos ficam expostos ao ar livre, em uma área onde até crianças brincam.
Enchentes e canalização de esgoto foram a terceira maior reclamação dos moradores (13%), atrás apenas das falhas elétricas e do asfaltamento. Mesmo tendo que comprar fogão e armários com uma freqüência acima do normal e com as rachaduras na casa, própria, que cortam as paredes do teto até o chão, a doméstica não pretende se mudar.
"Se eu for para outro lugar, não vou poder pagar aluguel", explica. "Além disso, aqui todo mundo é família. Nunca roubaram minha casa", diz. (TB)


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