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SEM JORNADA
Anhangüera é recordista de SP em desemprego
O distrito, que tem baixo índice de escolaridade, ainda oferece poucos postos de emprego, segundo Ministério do Trabalho
JOÃO PEQUENO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Selma Monteiro, 44, ex-babá,
estudou até o quinto ano do ensino fundamental. Maria Isabel
Vieira de Jesus, 45, completou
o ensino médio e costumava
supervisionar produção em diversas fábricas. José Leonidas
do Nascimento, 41, que era motorista havia "mais de dez
anos", nem se lembra em qual
série parou de estudar.
Em comum, os três vivem em
Anhangüera e não conseguem
arrumar emprego, problema
relatado ao Datafolha por 25%
dos entrevistados deste distrito
-maior índice de São Paulo,
junto com Marsilac e Vila Andrade. Eles também estão fora
da parcela de 8% de moradores
de Anhangüera que possuem
curso superior -pouco mais
que a metade da média municipal (15,8%). O distrito de Moema (zona sul), dono do maior
índice de nível superior (66%),
também é o que registra a menor taxa de desemprego (2%).
A distância de quase 30 km
da região central dificulta ainda a procura por emprego -o
distrito ocupa o segundo lugar
entre os que menos oferecem
vagas formais em São Paulo, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. São apenas
3.046 postos -dados de 2006-
para a população que mais
cresce na cidade, saltando de
38.037 moradores, em 2000,
para 64.046, em 2007, segundo
a Fundação Seade -aumento
de 68,38%.
Na Lapa (zona oeste), José
Leonidas teve seu último emprego, entregando tintas. Largou-o, "fazendo um acordo"
para receber a indenização com
a qual comprou a casa onde
morava no Morro Doce até se
separar. No divórcio, perdeu a
casa. Depois, perdeu a carteira
de trabalho e não tira outra por
"falta de dinheiro para dar entrada".
Ele continua no Morro Doce,
mas foi viver com a mãe, Antonia Maria Souza, 66, com quem
cata materiais recicláveis todo
dia em caçambas de lixo. Aposentada por idade, ganhando
um salário mínimo, ela diz que
nunca assinou carteira nem
aprendeu a "a assinar o próprio
nome", mas sabe de cor os valores por quilo de cada material.
"O que dá mais é cobre, R$ 9.
Depois, alumínio, R$ 2,80. Mas
são muito difíceis de achar.
Mesmo plástico, que é só R$
0,30, ninguém mais joga fora.
Guarda e vende", conta ela, que
repassa o que cata a um ferro-velho, ganhando até "R$ 300,
que dão pro aluguel, de R$
200".
Moradora do Sol Nascente há
cinco anos, Maria Isabel Vieira
de Jesus se mudou de Osasco
(Grande SP) em busca de um
"ar mais puro" para a filha, de
quatro anos -a qualidade do ar
tem 7,2 em Anhangüera, contra
5,2 na média municipal. Hoje,
porém, enfrenta uma hora de
ônibus só para procurar emprego no Centro de Apoio ao
Trabalhador, posto da Prefeitura que intermedeia vagas.
Já Selma Monteiro perdeu
seu último trabalho de babá, na
Consolação, por não poder dormir na casa da patroa. "Tinha
meu próprio filho [então com
11 anos] para criar", justifica.
De acordo com o economista
Juarez Mota, coordenador de
informações da Secretaria Municipal do Trabalho, o grau de
ensino passou a pesar mais na
busca por emprego a partir dos
anos 90, com uma substituição
de postos na indústria pelo ramo de serviços.
Ainda de acordo com ele, o
desemprego em áreas de ocupação recente é comum e deve
se reverter em médio ou longo
prazo, com atividades em comércio, serviços e na construção civil -as vagas em Anhanguera em 2006 ainda aumentaram 12% em relação a 2005.
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