São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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SEM JORNADA

Anhangüera é recordista de SP em desemprego

O distrito, que tem baixo índice de escolaridade, ainda oferece poucos postos de emprego, segundo Ministério do Trabalho

JOÃO PEQUENO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Selma Monteiro, 44, ex-babá, estudou até o quinto ano do ensino fundamental. Maria Isabel Vieira de Jesus, 45, completou o ensino médio e costumava supervisionar produção em diversas fábricas. José Leonidas do Nascimento, 41, que era motorista havia "mais de dez anos", nem se lembra em qual série parou de estudar.
Em comum, os três vivem em Anhangüera e não conseguem arrumar emprego, problema relatado ao Datafolha por 25% dos entrevistados deste distrito -maior índice de São Paulo, junto com Marsilac e Vila Andrade. Eles também estão fora da parcela de 8% de moradores de Anhangüera que possuem curso superior -pouco mais que a metade da média municipal (15,8%). O distrito de Moema (zona sul), dono do maior índice de nível superior (66%), também é o que registra a menor taxa de desemprego (2%).
A distância de quase 30 km da região central dificulta ainda a procura por emprego -o distrito ocupa o segundo lugar entre os que menos oferecem vagas formais em São Paulo, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego. São apenas 3.046 postos -dados de 2006- para a população que mais cresce na cidade, saltando de 38.037 moradores, em 2000, para 64.046, em 2007, segundo a Fundação Seade -aumento de 68,38%.
Na Lapa (zona oeste), José Leonidas teve seu último emprego, entregando tintas. Largou-o, "fazendo um acordo" para receber a indenização com a qual comprou a casa onde morava no Morro Doce até se separar. No divórcio, perdeu a casa. Depois, perdeu a carteira de trabalho e não tira outra por "falta de dinheiro para dar entrada".
Ele continua no Morro Doce, mas foi viver com a mãe, Antonia Maria Souza, 66, com quem cata materiais recicláveis todo dia em caçambas de lixo. Aposentada por idade, ganhando um salário mínimo, ela diz que nunca assinou carteira nem aprendeu a "a assinar o próprio nome", mas sabe de cor os valores por quilo de cada material.
"O que dá mais é cobre, R$ 9. Depois, alumínio, R$ 2,80. Mas são muito difíceis de achar. Mesmo plástico, que é só R$ 0,30, ninguém mais joga fora. Guarda e vende", conta ela, que repassa o que cata a um ferro-velho, ganhando até "R$ 300, que dão pro aluguel, de R$ 200".
Moradora do Sol Nascente há cinco anos, Maria Isabel Vieira de Jesus se mudou de Osasco (Grande SP) em busca de um "ar mais puro" para a filha, de quatro anos -a qualidade do ar tem 7,2 em Anhangüera, contra 5,2 na média municipal. Hoje, porém, enfrenta uma hora de ônibus só para procurar emprego no Centro de Apoio ao Trabalhador, posto da Prefeitura que intermedeia vagas.
Já Selma Monteiro perdeu seu último trabalho de babá, na Consolação, por não poder dormir na casa da patroa. "Tinha meu próprio filho [então com 11 anos] para criar", justifica.
De acordo com o economista Juarez Mota, coordenador de informações da Secretaria Municipal do Trabalho, o grau de ensino passou a pesar mais na busca por emprego a partir dos anos 90, com uma substituição de postos na indústria pelo ramo de serviços.
Ainda de acordo com ele, o desemprego em áreas de ocupação recente é comum e deve se reverter em médio ou longo prazo, com atividades em comércio, serviços e na construção civil -as vagas em Anhanguera em 2006 ainda aumentaram 12% em relação a 2005.


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