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MÚSICA
Reduto de escolas, região é inspiração para sambas
Germano Mathias, um dos mais tradicionais sambistas de SP, é morador da área onde estão Império de Casa Verde e Unidos do Peruche
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Morando há 15 anos em uma
unidade da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) em Taipas, o sambista Germano Mathias, 74, já se vê como parte do
"Samba da Periferia", gravado
por ele em 2002 e que cita bairros da zona noroeste como Brasilândia e Cachoerinha. Colada
a este último, a Casa Verde é
um reduto de escolas de samba
da capital, reunindo Unidos do
Peruche, Império de Casa Verde e Mocidade Alegre.
De autoria de Elzo Augusto,
amigo de longa data e "um dos
últimos compositores brasileiros de samba sincopado", como
todas as 14 faixas do CD "Talento de Bamba", a música fala em
"gente que pega um ônibus lotado/ vai batalhar por trocado/
pendurado igual pingente (...)
sou do reduto de Itaquera, Brasilândia, Sapopemba, Cachoeirinha".
De seu apartamento, praticamente no limite entre os distritos de Jaraguá -do qual faz
parte-, Brasilândia e Pirituba,
não chega a ser pendurado nos
ônibus que ele sai. "Vou de perua, que passa em frente à minha casa e volto de táxi", conta
o malandro sambista, que brinca com a própria idade em relação ao nome da rua onde mora,
Ilha da Juventude -"justo com
um velho que nem eu?"- e ao
fato de não cantar sambas lentos -"senão, vão pensar que já
é meu velório".
De sua última morada no
centro, na avenida Ipiranga, a
maior recordação é do "barulho
dos carros", além da proximidade com antigas boates, já fechadas, em torno do largo do
Arouche, onde costumava cantar nas décadas de 50 e 60,
quando estourou com músicas
que exaltavam o lado engraçado do cotidiano de tipos populares. Entre eles, destacam-se
seu primeiro sucesso, "Minha
Nega na Janela", composta por
ele em parceria com Doca, em
1956, "Guarde a Sandália Dela"
-também dele, em parceria
com Sereno-, "Malvadeza Durão" e "Mexi com Ela", ambas
de Zé Kéti.
Em 1959, Mathias participou
dos filmes "O Preço da Vitória"
e "Quem Roubou Meu Samba?". Em 1967,foi "condecorado" como "O Catedrático do
Samba", pelo radialista a apresentador de televisão Randal
Juliano, no programa Nosso
Ritmo, da TV Globo -título
que, não por acaso, batizou seu
LP seguinte.
"Foi ele [Randal] que disse;
então, se alguém mentiu foi
ele", brinca Germano.
A década também era de glórias para a Unidos do Peruche,
que, no mesmo ano, faturava
seu terceiro título consecutivo.
O último, porém, até agora
-neste ano, ela venceu o desfile, mas no grupo de acesso, ganhando o direito de voltar à elite em 2009. O tricampeonato
do Peruche começou com um
enredo sobre o 4º Centenário
do Rio de Janeiro, em 1965. No
ano seguinte, a escola homenageou o compositor Carlos Gomes e, em 1967, fechou a série
com "Exaltação a São Paulo".
Um esboço de retorno aos
bons tempos ocorreu no final
dos anos 80, quando, em 1988,
a escola teve ninguém que o
mangueirense Jamelão como
um dos puxadores. No ano seguinte, Joãozinho Trinta foi o
responsável por elaborar o desfile da escola. Mesmo assim, o
Peruche obteve, respectivamente, a quinta e a segunda colocação.
Na década seguinte, a decadência do Peruche acabou ajudando a criar a Império de Casa
Verde, dissidência fundada em
1994, que teve ascensão meteórica, subindo ao grupo especial
em 2003 e conquistando o bicampeonato consecutivo com
os títulos de 2005 e 2006.
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