São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2008

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MÚSICA

Reduto de escolas, região é inspiração para sambas

Germano Mathias, um dos mais tradicionais sambistas de SP, é morador da área onde estão Império de Casa Verde e Unidos do Peruche

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Morando há 15 anos em uma unidade da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) em Taipas, o sambista Germano Mathias, 74, já se vê como parte do "Samba da Periferia", gravado por ele em 2002 e que cita bairros da zona noroeste como Brasilândia e Cachoerinha. Colada a este último, a Casa Verde é um reduto de escolas de samba da capital, reunindo Unidos do Peruche, Império de Casa Verde e Mocidade Alegre.
De autoria de Elzo Augusto, amigo de longa data e "um dos últimos compositores brasileiros de samba sincopado", como todas as 14 faixas do CD "Talento de Bamba", a música fala em "gente que pega um ônibus lotado/ vai batalhar por trocado/ pendurado igual pingente (...) sou do reduto de Itaquera, Brasilândia, Sapopemba, Cachoeirinha".
De seu apartamento, praticamente no limite entre os distritos de Jaraguá -do qual faz parte-, Brasilândia e Pirituba, não chega a ser pendurado nos ônibus que ele sai. "Vou de perua, que passa em frente à minha casa e volto de táxi", conta o malandro sambista, que brinca com a própria idade em relação ao nome da rua onde mora, Ilha da Juventude -"justo com um velho que nem eu?"- e ao fato de não cantar sambas lentos -"senão, vão pensar que já é meu velório".
De sua última morada no centro, na avenida Ipiranga, a maior recordação é do "barulho dos carros", além da proximidade com antigas boates, já fechadas, em torno do largo do Arouche, onde costumava cantar nas décadas de 50 e 60, quando estourou com músicas que exaltavam o lado engraçado do cotidiano de tipos populares. Entre eles, destacam-se seu primeiro sucesso, "Minha Nega na Janela", composta por ele em parceria com Doca, em 1956, "Guarde a Sandália Dela" -também dele, em parceria com Sereno-, "Malvadeza Durão" e "Mexi com Ela", ambas de Zé Kéti.
Em 1959, Mathias participou dos filmes "O Preço da Vitória" e "Quem Roubou Meu Samba?". Em 1967,foi "condecorado" como "O Catedrático do Samba", pelo radialista a apresentador de televisão Randal Juliano, no programa Nosso Ritmo, da TV Globo -título que, não por acaso, batizou seu LP seguinte.
"Foi ele [Randal] que disse; então, se alguém mentiu foi ele", brinca Germano.
A década também era de glórias para a Unidos do Peruche, que, no mesmo ano, faturava seu terceiro título consecutivo. O último, porém, até agora -neste ano, ela venceu o desfile, mas no grupo de acesso, ganhando o direito de voltar à elite em 2009. O tricampeonato do Peruche começou com um enredo sobre o 4º Centenário do Rio de Janeiro, em 1965. No ano seguinte, a escola homenageou o compositor Carlos Gomes e, em 1967, fechou a série com "Exaltação a São Paulo".
Um esboço de retorno aos bons tempos ocorreu no final dos anos 80, quando, em 1988, a escola teve ninguém que o mangueirense Jamelão como um dos puxadores. No ano seguinte, Joãozinho Trinta foi o responsável por elaborar o desfile da escola. Mesmo assim, o Peruche obteve, respectivamente, a quinta e a segunda colocação.
Na década seguinte, a decadência do Peruche acabou ajudando a criar a Império de Casa Verde, dissidência fundada em 1994, que teve ascensão meteórica, subindo ao grupo especial em 2003 e conquistando o bicampeonato consecutivo com os títulos de 2005 e 2006.


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