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ONCOLOGIA
O mais jovem dos melhores
O oncologista Paulo Hoff ficou em dúvida entre medicina e direito;hoje,aos 40,é diretor clínico do Instituto do Câncer
Marisa Cauduro/Folha Imagem
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Paulo Hoff
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Por volta das 8h, o oncologista Paulo Marcelo Gehm Hoff,
40, já está fazendo visitas aos
pacientes internados no Instituto do Câncer de São Paulo
Octavio Frias de Oliveira. Às
quartas, começa mais cedo porque tem reunião com os médicos do instituto, em que são discutidos casos e pesquisas.
Sem perder o jeito manso de
falar, Hoff questiona o apresentador de cada trabalho de forma que ele mesmo qualifica como dura. "Isso não quer dizer
que a pesquisa não seja boa,
mas se exige muito rigor, porque é assim que ele será questionado pela banca, por exemplo", diz o diretor clínico do
Instituto do Câncer, que é também professor titular da USP.
A reunião termina por volta
das 10h, quando Hoff tem uma
pausa antes de partir para as
reuniões administrativas. Nem
sempre a pausa é um descanso
-na quarta-feira em que a reportagem o acompanhou, o
médico foi supervisionar a retirada dos tubos colocados para a
operação do vice-presidente
José Alencar, um de seus pacientes internados no Hospital
Sírio-Libanês, onde é diretor da
área de oncologia e mantém
seu consultório particular.
"A gente come de pé, correndo, acaba comendo demais à
noite. É por isso que continuo
gordinho", comenta Hoff. "Mas
não tenha pena. Faço tudo isso
porque gosto", acrescenta.
Dar uma má notícia ao paciente e à sua família é uma das
coisas mais difíceis da profissão, ele diz. "Precisamos pesar
a necessidade de informação do
paciente e o quanto dizer sem
tirar as esperanças dele."
Hoff conta que nos EUA, onde trabalhou por mais de 11
anos, o médico é obrigado por
lei a dizer tudo. Ele é a favor de
deixar o doente sempre a par do
que está sendo tratado, mas
acredita que nem sempre é produtivo entrar em detalhes.
"Acho que a profundidade da
informação deve ser trabalhada
de acordo com a expectativa e a
tolerância de cada um."
Já teve grandes surpresas.
Conta que uma vez, questionado sobre as chances de cura de
determinado caso, disse que as
estatísticas eram de 1%. "Imediatamente, um familiar virou-se todo animado e disse: "Viu?
Tem chance de cura!"."
Outra questão delicada é saber quando parar. Hoff diz que
todo tratamento de câncer tem
três objetivos: primeiro, curar;
se não for possível, aumentar o
tempo de vida e, em último caso, dar qualidade de vida ao paciente mesmo sem poder alterar a evolução da doença. "Parar não é interromper qualquer
tratamento, mas mudar o foco.
O problema é que todo mundo
espera um milagre. Tentativas
heroicas para mudar a história
da doença têm custo muito alto
para todos os envolvidos."
Precoce
Tudo aconteceu cedo para o
mais jovem entre os melhores
médicos do país, de acordo com
o Datafolha. Aos 16 anos, passou nos vestibulares de medicina e de direito. "Tem gente que
nasce médico, mas não era o
meu caso", afirma.
Nascido em Paranavaí (PR),
Hoff passou a infância em Passo Fundo (RS), onde o pai tinha
um laboratório de análises clínicas. "Isso deve ter tido alguma influência." No início dos
anos 80, a família se mudou para a região de Brasília. Hoff fez
o curso de medicina na UnB
(Universidade de Brasília).
No sexto ano da faculdade,
ganhou bolsa para estudar na
Universidade de Miami, onde
também fez residência médica.
Após especialização no M. D.
Anderson Cancer Center, foi
convidado como professor-assistente. Aos 32, foi eleito o
professor do ano no M.D. Anderson, um dos melhores centros de oncologia do mundo. Na
época, já tinham nascido duas
de suas três filhas -ele se casou
com uma colega da UnB.
Em 2006, ele voltou, com a
família, ao Brasil. Assumiu a
chefia do setor de oncologia do
Hospital das Clínicas da USP e
começou a elaborar o projeto
do Instituto do Câncer de São
Paulo Octavio Frias de Oliveira.
Com tantas funções, fica difícil perguntar o que ele faz no
tempo livre. Hoff diz que dá um
jeito, ao menos nos fins de semana e nas férias das meninas.
Por causa delas, conta que virou fã de videogames: "É bacana, porque todas elas e eu podemos participar".
(IARA BIDERMAN)
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