São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2009

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ONCOLOGIA

O mais jovem dos melhores

O oncologista Paulo Hoff ficou em dúvida entre medicina e direito;hoje,aos 40,é diretor clínico do Instituto do Câncer

Marisa Cauduro/Folha Imagem
Paulo Hoff

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Por volta das 8h, o oncologista Paulo Marcelo Gehm Hoff, 40, já está fazendo visitas aos pacientes internados no Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira. Às quartas, começa mais cedo porque tem reunião com os médicos do instituto, em que são discutidos casos e pesquisas.
Sem perder o jeito manso de falar, Hoff questiona o apresentador de cada trabalho de forma que ele mesmo qualifica como dura. "Isso não quer dizer que a pesquisa não seja boa, mas se exige muito rigor, porque é assim que ele será questionado pela banca, por exemplo", diz o diretor clínico do Instituto do Câncer, que é também professor titular da USP.
A reunião termina por volta das 10h, quando Hoff tem uma pausa antes de partir para as reuniões administrativas. Nem sempre a pausa é um descanso -na quarta-feira em que a reportagem o acompanhou, o médico foi supervisionar a retirada dos tubos colocados para a operação do vice-presidente José Alencar, um de seus pacientes internados no Hospital Sírio-Libanês, onde é diretor da área de oncologia e mantém seu consultório particular.
"A gente come de pé, correndo, acaba comendo demais à noite. É por isso que continuo gordinho", comenta Hoff. "Mas não tenha pena. Faço tudo isso porque gosto", acrescenta.
Dar uma má notícia ao paciente e à sua família é uma das coisas mais difíceis da profissão, ele diz. "Precisamos pesar a necessidade de informação do paciente e o quanto dizer sem tirar as esperanças dele."
Hoff conta que nos EUA, onde trabalhou por mais de 11 anos, o médico é obrigado por lei a dizer tudo. Ele é a favor de deixar o doente sempre a par do que está sendo tratado, mas acredita que nem sempre é produtivo entrar em detalhes. "Acho que a profundidade da informação deve ser trabalhada de acordo com a expectativa e a tolerância de cada um."
Já teve grandes surpresas. Conta que uma vez, questionado sobre as chances de cura de determinado caso, disse que as estatísticas eram de 1%. "Imediatamente, um familiar virou-se todo animado e disse: "Viu? Tem chance de cura!"."
Outra questão delicada é saber quando parar. Hoff diz que todo tratamento de câncer tem três objetivos: primeiro, curar; se não for possível, aumentar o tempo de vida e, em último caso, dar qualidade de vida ao paciente mesmo sem poder alterar a evolução da doença. "Parar não é interromper qualquer tratamento, mas mudar o foco. O problema é que todo mundo espera um milagre. Tentativas heroicas para mudar a história da doença têm custo muito alto para todos os envolvidos."

Precoce
Tudo aconteceu cedo para o mais jovem entre os melhores médicos do país, de acordo com o Datafolha. Aos 16 anos, passou nos vestibulares de medicina e de direito. "Tem gente que nasce médico, mas não era o meu caso", afirma.
Nascido em Paranavaí (PR), Hoff passou a infância em Passo Fundo (RS), onde o pai tinha um laboratório de análises clínicas. "Isso deve ter tido alguma influência." No início dos anos 80, a família se mudou para a região de Brasília. Hoff fez o curso de medicina na UnB (Universidade de Brasília).
No sexto ano da faculdade, ganhou bolsa para estudar na Universidade de Miami, onde também fez residência médica.
Após especialização no M. D. Anderson Cancer Center, foi convidado como professor-assistente. Aos 32, foi eleito o professor do ano no M.D. Anderson, um dos melhores centros de oncologia do mundo. Na época, já tinham nascido duas de suas três filhas -ele se casou com uma colega da UnB.
Em 2006, ele voltou, com a família, ao Brasil. Assumiu a chefia do setor de oncologia do Hospital das Clínicas da USP e começou a elaborar o projeto do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira.
Com tantas funções, fica difícil perguntar o que ele faz no tempo livre. Hoff diz que dá um jeito, ao menos nos fins de semana e nas férias das meninas. Por causa delas, conta que virou fã de videogames: "É bacana, porque todas elas e eu podemos participar". (IARA BIDERMAN)


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