|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
2006
A Copa imita a vida
Classificação final na Alemanha reflete momento político das forças europeias
ESPECIAL PARA A FOLHA
Poucas vezes os estreitos vínculos entre futebol, política e
economia, que sempre acompanharam as Copas do Mundo,
foram tão evidentes como em
2006. O torneio na Alemanha
serviu para comprovar internacionalmente a capacidade gerencial e financeira do país.
A competição permitiu aos
alemães expiar a chamada
"grande culpa nazista" e mostrar ao mundo sua face moderna. As manifestações patrióticas, banidas no pós-Guerra,
reapareceram de forma espontânea e sem ranços do passado.
O jogo ofensivo da seleção
anfitriã resultou no melhor
ataque e no artilheiro da Copa
-Klose, com cinco gols.
No caso da campeã Itália, os
vínculos, embora de outra natureza, não eram menos claros.
À imagem de seu governo
corrupto, vários dirigentes e jogadores da Azzurra passavam
por investigação judicial devido
ao escândalo de jogos manipulados no campeonato nacional.
À imagem do racismo de parte significativa da sociedade,
Materazzi provocou a célebre
cabeçada de Zidane ao ofender
suas raízes não europeias. Em
2010, o zagueiro declararia que
no país os criminosos "quase
nunca são italianos", mas sim
imigrantes contra os quais deveria existir a pena de morte.
À imagem de uma nação ainda cheia de traços fascistas, o
vice-presidente do Senado italiano louvou, após a vitória na
final contra a França, a conquista do título mundial em cima de uma equipe de "negros,
muçulmanos e comunistas".
O Brasil não ficou imune ao
clima político. No futebol e na
política, interesses pessoais e
de pequenos grupos se sobrepunham aos interesses do país.
O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, pensava mais nas
finanças de sua instituição do
que na preparação do time. Argumentou depois que desconhecia os desmandos que levaram ao fracasso da seleção.
O presidente da República,
Luiz Inácio Lula da Silva, pensava mais nos ganhos de seu
partido do que nos ganhos do
país. Argumentou depois que
não sabia do mensalão.
Nunca na história recente
deste país houve corrupção tão
ampla e orquestrada e despreparo tão grande para uma Copa
do Mundo. Nos dois planos, o
Brasil se africanizou.
De fato, a qualidade dos atletas da África negra é reconhecida, mas não se impõe em suas
seleções devido ao enquadramento institucional deficiente.
No mundo crescentemente
mercantilizado do esporte, a
habilidade dos futebolistas é
apenas uma das variáveis em
jogo. Assim, a Comunidade Europeia ocupou todo o pódio.
A terceira colocada foi a Alemanha, país mais populoso e de
maior PIB do bloco. A França,
vice-campeã, é o segundo
maior território e população e
o terceiro PIB. Já a campeã Itália é o terceiro país em população e o quarto lugar em PIB.
A África apresenta economia
20 vezes menor. Dos 16 jogos
disputados, venceu três. E apenas um sobre um país da União
Europeia -Gana ganhou da
República Tcheca por 2 a 0.
(HILÁRIO FRANCO JÚNIOR)
Texto Anterior: Penta esfria tensão entre FHC e cartola Próximo Texto: "Boleiro", Lula irrita Ronaldo Índice
|