São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001

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ANÁLISE

Amanhã será o Dia D

ANDREW HILL
DO "FINANCIAL TIMES"

Muito dependerá do que houver amanhã de manhã.
Será que quatro dias são o bastante? Foi esse o período durante o qual os mercados de capitais dos Estados Unidos ficaram fechados depois do horripilante ataque ao World Trade Center, em Nova York, na terça-feira.
O fechamento dos mercados permitiu que os bancos e outras empresas, cuja infra-estrutura física foi danificada ou destruída nos ataques, se reagrupassem.
O prazo deu aos BCs a chance de injetar liquidez nos sistemas financeiros de todo o mundo. Permitiu que as autoridades regulatórias e em alguns casos as instituições financeiras implementassem medidas de proteção, que poderão ocorrer quando os mercados forem reabertos.
As operações de títulos de renda fixa foram retomadas na quinta-feira, o primeiro passo improvisado rumo à restauração da normalidade na devastada Wall Street. Mas as discretas operações de quinta e a reação tímida das Bolsas internacionais até agora não oferecem indicação clara de como os mercados de ações se comportarão nesta semana.
Alguns operadores de bônus estavam reiniciando seu trabalho em novos locais e com sistemas de apoio improvisados, tentando lidar com colegas que talvez mal conheçam ou porque os veteranos morreram na tragédia de 11 de setembro ou porque ainda não conseguiram voltar ao trabalho.
Os mercados de bônus também estavam no vácuo. Os operadores mais sofisticados agem em diversos mercados ao mesmo tempo. Com uma das peças mais importantes de um sistema interdependente fora de ação, havia pouca chance de fazer "hedge".
Houve certas indicações de investimento em refúgios seguros, como a alta das notas de curto prazo do Tesouro norte-americano, mas é difícil realizar uma verdadeira "fuga rumo à qualidade" se você está preso ao mercado do qual deseja escapar.
Richard Grasso, presidente da Bolsa de Nova York, descreveu a decisão de abrir os mercados amanhã como "a coisa certa para os EUA". Um fechamento prolongado agravaria as preocupações sobre a estabilidade do país.
Instabilidade parece inevitável, no curto prazo. Os números do desemprego e confiança do consumidor divulgados na quinta ambos registrados antes do atentado ao WTC teriam bastado para deprimir os mercados de ações, caso todos os mercados financeiros tivessem ficado abertos.
As autoridades regulatórias e econômicas, e até mesmo investidores, fizeram declarações confortadoras depois do ocorrido.

Confiança do consumidor
A principal questão, porém, não é determinar qual será a reação dos mercados de capitais no curto prazo, mas determinar se os ataques abalarão a confiança dos consumidores.
Sob as circunstâncias, o momento não pareceria auspicioso para investir, e poucos analistas estavam dispostos a apostar que a queda das ações tinha chegado ao fim, sem que os mercados se reabrissem. Mas há alguns indícios positivos.
Diversos fatores podem ajudar a estabilizar os mercados e a economia. A BCAresearch.com, um site de análises econômicas, indicou na semana passada que o Federal Reserve já relaxou acentuadamente a política monetária, e que novas medidas de estímulo fiscal e monetário são prováveis.
Mas, ao mesmo tempo, existe claramente o medo de que os ataques da terça-feira sejam vistos por muitos, entre os quais investidores estrangeiros cujo capital ajudou a dar sustentação ao dólar, como o "catalisador" há muito esperado para decretar o abandono das ações norte-americanas.
Como sempre em momentos de incerteza, a principal recomendação dos analistas é paciência. De acordo com Edward Kerschner, do UBS Warburg, os investidores devem "esperar sentados até que informações melhores surjam".
"O consenso que surgiu depois do crash de 1987, da recessão de 1990/1991 e da crise global de 1998, provou-se errado ao final", diz Rich Bernstein, do Merrill Lynch.
"A história claramente sugere que esperar e analisar os fundamentos é em geral preferível", acrescenta ele.
Pode ser um bom conselho. Mas depois de uma semana que viu as análises racionais revertidas da maneira mais violenta, nem todos os investidores o aceitarão.


Tradução de Paulo Migliacci

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