São Paulo, domingo, 16 de setembro de 2001

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ADAPTAÇÃO

Empresas proíbem viagens aos EUA

Companhias querem manter imagem e demonstrar solidariedade com norte-americanos

Carol Guzy - "The Washington Post/Associated Press
Membro das equipes de resgate dorme em construção próxima aos escombros do World Trade Center, no sul da ilha de Manhattan, após horas de trabalho


ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

CLAUDIA ROLLI
DA REDAÇÃO

Logo após o choque dos aviões contra as torres do World Trade Center, a Coca-Cola decidiu que nenhum executivo partiria do Brasil para qualquer cidade americana até segunda ordem. A sede da Monsanto, uma das maiores fornecedoras de matéria-prima agrícola do mundo, localizada em St. Louis, recomendou o adiamento das viagens dos brasileiros.
Na Procter & Gamble, todos os comunicados da diretoria, instalada em Ohio, EUA, são enviados a cada empregado do grupo no Brasil. A Gessy Lever mandou comunicados também. A decisão de cancelar ou adiar vôos foi tomada independentemente do fechamento dos aeroportos nos EUA. As companhias temiam novos ataques e preferiram não arriscar.
O jogo é aberto: as empresas se dizem chocadas, falam em ajuda financeira aos americanos -a Coca-Cola liberou US$ 12 milhões a órgãos internacionais- e até dão dicas de segurança.
A ação não tem como objetivo apenas passar tranquilidade aos empregados e mostrar solidariedade. Segundo a Folha apurou em conversas com as companhias, há metas a cumprir em cada filial; os empregados, principalmente da gerência para cima, têm planos de ação mensal e é preciso cumpri-los, mesmo com atentados em terras americanas.
É preciso afastar o clima de incerteza e evitar o "moral baixo", como se refere um dos consultores que presta assessoria interna à Unilever na América do Sul.

Imagem arranhada
Há um cuidado das companhias em não ter a imagem arranhada e em mostrar solidariedade. Sites foram mudados e eventos cancelados para que não reste dúvida da preocupação dos grupos com a tragédia. A Coca-Cola decidiu tirar todos os recursos de seu site que "tivessem aspectos indicando alegria ou animação", segundo Maurício Bacelar, gerente de imprensa do grupo no Brasil.
O jingle -música das campanhas- foi tirado da página da empresa (www.coke.com). O mais novo slogan da empresa ("Gostoso é viver"), no ar desde abril, saiu da página. No lugar, há um comunicado com manifestações de apoio aos americanos.
A Danone, uma das maiores empresas alimentícias do mundo, cancelou um evento esportivo que reuniria 24 países e avisou os representantes na semana passada. O anúncio foi feito pelo próprio presidente mundial, Frank Riboud, que coordena uma empresa com US$ 15 bilhões de faturamento anual e 86 mil empregados. Agora, tudo fica para 2002.

Proibições
O grupo Philip Morris, presente em 200 países e com 178 mil funcionários, divulgou dois e-mails orientando seus empregados. A ordem para executivos de todas as empresas das divisões de alimentos, bebidas e cigarros, no primeiro e-mail, era não viajar em vôos domésticos nem internacionais em qualquer parte do mundo. A empresa, que movimentou em 2000 mais de US$ 80 bilhões, dizia lamentar os transtornos que isso causaria aos funcionários e às famílias, mas a segurança era a maior "preocupação".
Na quarta, novo comunicado autorizava os funcionários a retomarem suas atividades e viajarem -exceto para os EUA. Até ontem, diretores das empresas ligadas ao grupo -entre elas, Lacta e Nabisco, da divisão de alimentos Kraft Foods- só estavam autorizados a ir para a Europa, América Central, do Sul e parte da Ásia.
Algumas empresas estimulam funcionários e clientes a fazerem doações para as vítimas dos atentados. No site da Amazon.com, o internauta é incentivado a doar de US$ 1 a US$ 100 para a Cruz Vermelha. A razão é a mesma apresentada pelas empresas: num comunicado colocado no site, a empresa diz estar "muito abalada".


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