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ESPÍRITO DE SEATTLE
Atentados terroristas nos EUA podem inviabilizar os protestos contra a ordem capitalista
Ativistas crêem que repressão vai aumentar
RICARDO GRINBAUM
DA REPORTAGEM LOCAL
Os ativistas antiglobalização, que combatem
o capitalismo dentro
do próprio capitalismo, foram diretamente atingidos
pelos atentados ao World Trade
Center e ao Pentágono.
Desde que apareceram na imprensa mundial, num surpreendente e eletrizante protesto em
Seattle, em dezembro de 1999, os
militantes atacaram com pedras,
paus e palavras de ordem todos os
grandes símbolos capitalistas e
norte-americanos.
Em protestos que se espalharam
por todos os continentes nos últimos dois anos, os ativistas destruíram lanchonetes do McDonald's e lojas da Gap, atacaram filiais do Citibank, protestaram
contra o que julgam ser bases do
poderio econômico americano, o
FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
Nem por isso, os ativistas antiglobalização comemoraram os
atentados. Pelo contrário. Eles temem que os ataques aos símbolos
do poder econômico e militar do
capitalismo americano possam
inviabilizar o que descrevem como resistência pacífica ao regime.
"Estou completamente inseguro em relação ao futuro do nosso
movimento", disse à Folha, o
americano Soren Ambrose, da organização 50 Years is Enough,
que combate o FMI e o Banco
Mundial. "Não há dúvida que o
movimento perdeu a força que vinha ganhando desde Seattle."
Imperialismo
Quem vai ouvir discursos contra o imperialismo e a favor do
cancelamento da dívida dos países pobres num momento em que
as pessoas cerram fileiras em torno do presidente conservador
George W. Bush, compram bandeiras e apóiam, segundo pesquisas, uma guerra de retaliação?
"Há um clima de histeria parecido com o da época da Guerra do
Golfo. Acho difícil que alguém
queira ouvir nossa mensagem",
diz Normam Solomom, diretor
do Institute for Public Accuracy,
organização dedicada à análise
dos meios de comunicação.
A mensagem dos ativistas é, em
geral, revolucionária, antiimperialista e pacifista. Eles dizem que
os EUA exercem, de maneira arbitrária e injusta, um poder imperial sobre o resto do mundo.
Os EUA, dizem eles, impõem
sua cultura por meio dos filmes de
Hollywood, dos parques de Disney, dos softwares da Microsoft.
Redefinem estilos de vida, com
suas lanchonetes e lojas de roupas
padronizadas, como o McDonald's, a Starbucks e a Gap.
Instalam o modelo econômico
de seu interesse por meio do FMI
e do Banco Mundial. Quando tudo isso não é suficiente, usam a
força que têm, como maior potência militar do planeta, para garantir seus interesses.
"Os EUA merecem ser atacados? É óbvio que não. Esse argumento é horrível e perigoso. Mas
existe outra questão: a política externa americana criou as condições para que essa lógica torta tivesse condições de florescer?",
pergunta a canadense Naomi
Klein, autora do livro "No Logo",
referência entre os ativistas.
Mais repressão
Mas, mesmo protestando contra a "lógica torta" dos atentados
terroristas, os ativistas acham que
serão alvo de maior repressão policial daqui para a frente.
Formado por uma costura meio
frouxa de grupos de direitos humanos, ambientalistas, feministas, socialistas, comunistas, anarquistas, sindicatos e organizações
anticapitalistas, o movimento teme ser enquadrado como ameaça
à segurança pública.
"Mesmo o "black block" (anarquistas radicais), não defende a
violência", diz Pablo Ortellado,
um dos organizadores dos protestos no Brasil. "Mas, num momento como esse, os países aprovam
leis que fortalecem o poder dos
órgãos de segurança e limitam a
liberdade de manifestação."
Em dois anos de protestos, os
ativistas colecionam histórias de
confrontos com a polícia, depredação de ruas e de lojas. Milhares
de pessoas foram presas, centenas
ficaram feridas e um manifestante
foi morto pela polícia, em Gênova, em julho. Os ativistas atribuem a violência à ação de minorias radicais e à repressão policial.
"Repudiamos a violência e o
terrorismo. Além do mais, quem
vai se beneficiar da radicalização e
das restrições à democracia é o
governo americano", diz Maria
Luisa Mendonça, organizadora
do Fórum Social Mundial.
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