São Paulo, domingo, 17 de maio de 1998

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POLUIÇÃO: IMPACTO OCORRE TODOS OS DIAS
Plástico ameaça oceanos


A população que mora ou passa os fins-de-semana nas praias é responsável por grande parte do lixo que se deposita no mar; um estudo dos EUA estima que os oceanos recebam 14 bilhões de quilos de lixo a cada ano


especial para a Folha

O oceano não é uma esponja absorvente, como já se chegou a pensar. Pelo contrário, os mares de hoje lembram bem mais uma lixeira.
Embora seja difícil saber a quantidade exata de poluentes lançados ao mar, uma coisa é certa: todos os dias, os oceanos recebem toneladas de resíduos -alguns tóxicos, outros nem tanto. Não importa. Caiu no mar, no mar fica.
E é aí que mora o perigo: 77% dos poluentes despejados nos oceanos vêm de fontes terrestres e tendem a se concentrar nas regiões costeiras, justamente o habitat marinho mais vulnerável. Ora, ele é também o habitat mais habitado por seres humanos.
A população que mora no litoral ou nele passeia nos fins-de-semana e feriados é uma das grandes responsáveis pelo lixo que acaba se depositando no fundo do mar. Produzimos cada vez mais lixo e nos descartamos dele com uma velocidade cada vez maior.
Um estudo feito pela Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos estima que 14 bilhões de quilos de lixo são jogados (sem querer ou intencionalmente) nos oceanos todos os anos. Não é à toa que as descargas de detritos urbanos produzam efeitos tão nocivos.

Plástico

Produzimos vários tipos de lixo, mas a grande "praga" dos mares é o plástico. Ele tem uma vida útil curtíssima, mas demora centenas de anos para se desfazer, seja no mar, seja na terra.
E, dentro do estômago de um bicho marinho, ele pode fazer um grande estrago, levando-o à morte. Para uma tartaruga, por exemplo, um saco plástico boiando na água pode parecer uma água-viva -ou seja, comida.
Mas o lixo não é o único problema enfrentado pelos oceanos. A ocupação desordenada do litoral está criando outro tipo de poluição: a ambiental, caracterizada pela destruição das restingas e manguezais próximos à costa e pela poluição crescente das praias.
No próximo século, estima-se que 60% da população mundial esteja vivendo em áreas costeiras, o que significa um número ainda maior de hotéis, casas e lixo nas praias e no mar.

Esgoto

O esgoto (industrial e doméstico) constitui uma das grandes ameaças para a vida marinha e para quem vive no litoral porque age como um fertilizante. Pode parecer um paradoxo, mas não é.
O esgoto leva para o mar grande quantidade de matéria orgânica, o que acaba contribuindo para uma explosão do fitoplâncton -uma explosão que, não por acaso, é conhecida como "bloom".
A vida microscópica cresce de forma desordenada, prejudicando os outros organismos marinhos, que ficam sem espaço, sem oxigênio e sem nutrientes.
Um dos exemplos mais conhecidos do "bloom" é a chamada maré vermelha, que resulta da proliferação dos dinoflagelados -um tipo de fitoplâncton que contém pigmento vermelho. Os dinoflagelados produzem substâncias tóxicas que podem causar a morte.
O esgoto também carrega para os oceanos diversos organismos nocivos, como bactérias, vírus e larvas de parasitas. Metade do peso seco do lixo humano é composto por bactérias. Delas, um grupo em particular costuma ser apontado como o grande vilão: os coliformes fecais. Tanto que são empregados como indicadores do nível de poluição das praias.
E uma má notícia. Pelo menos 30% das praias brasileiras têm mais coliformes fecais do que deveriam - um sinal de que tem esgoto demais por ali.
(VANESSA DE SÁ)



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