São Paulo, Quinta-feira, 18 de Março de 1999
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Dois filmes de Glauber Rocha entram na lista dos melhorea de todos os tempos no Brasil
Os dez melhores filmes de todos os tempos

da Equipe de Articulistas

Glauber Rocha continua soberano na preferência dos críticos e estudiosos de cinema brasileiro. Na enquete feita pela Folha com 24 deles, para definir os dez melhores filmes já produzidos no Brasil, dois clássicos do cineasta -"Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) e "Terra em Transe" (1967)- aparecem nas três primeiras colocações.
Além de ser o único diretor com mais de um filme entre os dez mais votados como os melhores do cinema brasileiro, Glauber teve outros três títulos lembrados: "A Idade da Terra", "Cabeças Cortadas" e "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro".
Outro cineasta bem votado foi Nelson Pereira dos Santos. Emplacou o segundo lugar da lista, com "Vidas Secas" (1963), e teve outras três obras lembradas: "Rio Zona Norte", "Memórias do Cárcere" e "Fome de Amor".
Além do consenso em torno de Glauber e Nelson Pereira, o cômputo final da votação mostra algumas tendências interessantes. A primeira delas é o predomínio absoluto da produção dos anos 60, a "época de ouro" do prestígio crítico do cinema brasileiro no Brasil e no exterior, embora o sucesso de público tenha sido maior na década seguinte.
Dos dez filmes mais votados, sete foram realizados nos anos 60: "Deus e o Diabo", "Vidas Secas", "Terra em Transe", "O Bandido da Luz Vermelha", "Macunaíma", "São Paulo S.A." e "O Pagador de Promessas".
Numa demonstração de que o cinema brasileiro vive de ciclos ou surtos (ou sustos, como diz o cineasta Sylvio Back), dois dos outros títulos da lista -"Limite", de Mário Peixoto, e "Ganga Bruta", de Humberto Mauro- são clássicos mudos da mesma fase, o início dos anos 30.
Um tanto desanimador é constatar que o filme mais recente da lista dos dez mais votados -"Pixote" (1980), de Hector Babenco- já vai fazer 20 anos.
O único filme dos anos 90 que quase conseguiu um lugar foi "Central do Brasil" (o 13º mais votado).
Outra constatação que salta aos olhos de quem observa a lista dos campeões é a sua pluralidade de gêneros e estilos.
Embora o predomínio seja do cinema novo -que comparece com quatro dos dez primeiros títulos- , há lugar também para outras concepções de cinema, da narração bem comportada de "O Pagador de Promessas" ao experimentalismo radical de "Limite" e de "O Bandido da Luz Vermelha".
Também a eleição dos três filmes mais importantes dos anos 90 -da chamada "retomada" da produção- mostra uma variedade interessante.
Os escolhidos representam tendências bem distintas: o "cinema de exportação" de Walter Salles ("Central do Brasil"), a poesia "suja" de Carlos Reichenbach ("Alma Corsária") e a tragédia urbana da estreante Tata Amaral ("Um Céu de Estrelas").
Os outros votos para a produção recente pulverizaram-se em dezenas de filmes -que vão do experimentalismo intersemiótico de Julio Bressane ("O Mandarim") à neochanchada de Carla Camurati ("Carlota Joaquina")-, o que mostra que ainda é cedo para que a escolha dos clássicos do período se torne um consenso.
A apreciação da crítica nem sempre coincide com a repercussão internacional dos filmes. Obras indicadas ao Oscar ("O Quatrilho" e "O Que É Isso, Companheiro?") tiveram poucos votos.
Cada um dos 24 críticos consultados votou, em ordem de preferência, nos dez filmes que considerava os melhores do cinema brasileiro em todos os tempos e nos três melhores dos anos 90.
Cada vez que um filme aparecia em primeiro lugar na lista de um crítico, ganhava dez pontos; quando aparecia em segundo, nove pontos, e assim sucessivamente, até o décimo lugar.
Da soma de pontos alcançadas pelos filmes em todas as listas é que se compôs a classificação geral. "Deus e o Diabo", por exemplo, conquistou 151 pontos. O segundo colocado, "Vidas Secas", atingiu 130. "O Pagador de Promessas", na décima colocação, ficou com 40 pontos, apenas dois à frente de "Augusto Matraga", o 11º. (JOSÉ GERALDO COUTO)


Colaborou Thiago Stivaletti, da Redação


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