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Dois filmes de Glauber Rocha entram na lista dos melhorea de todos os tempos no Brasil
Os dez melhores filmes de todos os tempos
da Equipe de Articulistas
Glauber Rocha continua soberano na
preferência dos críticos e estudiosos de
cinema brasileiro. Na enquete feita pela
Folha com 24 deles, para definir os dez
melhores filmes já produzidos no Brasil, dois clássicos do cineasta -"Deus e
o Diabo na Terra do Sol" (1964) e "Terra
em Transe" (1967)- aparecem nas três
primeiras colocações.
Além de ser o único diretor com mais
de um filme entre os dez mais votados
como os melhores do cinema brasileiro,
Glauber teve outros três títulos lembrados: "A Idade da Terra", "Cabeças Cortadas" e "O Dragão da Maldade contra
o Santo Guerreiro".
Outro cineasta bem votado foi Nelson
Pereira dos Santos. Emplacou o segundo lugar da lista, com "Vidas Secas"
(1963), e teve outras três obras lembradas: "Rio Zona Norte", "Memórias do
Cárcere" e "Fome de Amor".
Além do consenso em torno de Glauber e Nelson Pereira, o cômputo final da
votação mostra algumas tendências interessantes. A primeira delas é o predomínio absoluto da produção dos anos
60, a "época de ouro" do prestígio crítico do cinema brasileiro no Brasil e no
exterior, embora o sucesso de público
tenha sido maior na década seguinte.
Dos dez filmes mais votados, sete foram realizados nos anos 60: "Deus e o
Diabo", "Vidas Secas", "Terra em Transe", "O Bandido da Luz Vermelha",
"Macunaíma", "São Paulo S.A." e "O
Pagador de Promessas".
Numa demonstração de que o cinema
brasileiro vive de ciclos ou surtos (ou
sustos, como diz o cineasta Sylvio
Back), dois dos outros títulos da lista
-"Limite", de Mário Peixoto, e "Ganga
Bruta", de Humberto Mauro- são
clássicos mudos da mesma fase, o início
dos anos 30.
Um tanto desanimador é constatar
que o filme mais recente da lista dos dez
mais votados -"Pixote" (1980), de
Hector Babenco- já vai fazer 20 anos.
O único filme dos anos 90 que quase
conseguiu um lugar foi "Central do Brasil" (o 13º mais votado).
Outra constatação que salta aos olhos
de quem observa a lista dos campeões é
a sua pluralidade de gêneros e estilos.
Embora o predomínio seja do cinema
novo -que comparece com quatro dos
dez primeiros títulos- , há lugar também para outras concepções de cinema,
da narração bem comportada de "O Pagador de Promessas" ao experimentalismo radical de "Limite" e de "O Bandido da Luz Vermelha".
Também a eleição dos três filmes mais
importantes dos anos 90 -da chamada
"retomada" da produção- mostra
uma variedade interessante.
Os escolhidos representam tendências
bem distintas: o "cinema de exportação" de Walter Salles ("Central do Brasil"), a poesia "suja" de Carlos Reichenbach ("Alma Corsária") e a tragédia urbana da estreante Tata Amaral ("Um
Céu de Estrelas").
Os outros votos para a produção recente pulverizaram-se em dezenas de
filmes -que vão do experimentalismo
intersemiótico de Julio Bressane ("O
Mandarim") à neochanchada de Carla
Camurati ("Carlota Joaquina")-, o
que mostra que ainda é cedo para que a
escolha dos clássicos do período se torne um consenso.
A apreciação da crítica nem sempre
coincide com a repercussão internacional dos filmes. Obras indicadas ao Oscar ("O Quatrilho" e "O Que É Isso,
Companheiro?") tiveram poucos votos.
Cada um dos 24 críticos consultados
votou, em ordem de preferência, nos
dez filmes que considerava os melhores
do cinema brasileiro em todos os tempos e nos três melhores dos anos 90.
Cada vez que um filme aparecia em
primeiro lugar na lista de um crítico, ganhava dez pontos; quando aparecia em
segundo, nove pontos, e assim sucessivamente, até o décimo lugar.
Da soma de pontos alcançadas pelos
filmes em todas as listas é que se compôs a classificação geral. "Deus e o Diabo", por exemplo, conquistou 151 pontos. O segundo colocado, "Vidas Secas",
atingiu 130. "O Pagador de Promessas",
na décima colocação, ficou com 40 pontos, apenas dois à frente de "Augusto
Matraga", o 11º.
(JOSÉ GERALDO COUTO)
Colaborou Thiago Stivaletti, da Redação
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