São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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1930

Um torneio abalado pela depressão

Crash da Bolsa de Nova York, em 1929, dificulta a ida de seleções europeias ao Uruguai, sede da primeira Copa

Associated Press
Multidão se aglomera em frente à Bolsa de Valores de Nova York após o crash de 24 de outubro de 1929

MARCO ANTONIO VILLA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A história das Copas começa assombrada por uma grande crise econômica. O crash da Bolsa de Valores de Nova York, em outubro de 1929, avançou rapidamente para além das fronteiras dos EUA e comprometeu o primeiro Mundial de futebol profissional.
Os efeitos da crise dificultaram a participação dos países europeus, insatisfeitos com a escolha de uma sede do outro lado do Atlântico. Bicampeão olímpico, o Uruguai recebeu da Fifa a incumbência de organizar a Copa de 1930. Resultado: um torneio sem eliminatórias, com apenas 13 seleções, das quais só quatro eram europeias (Romênia, França, Iugoslávia e Bélgica).
E decidido por dois sul-americanos, o próprio Uruguai e a Argentina. A primeira final de Copa do Mundo atraiu mais de 90 mil espectadores, o maior público para um jogo de futebol na América do Sul até então.
O Brasil não passou da primeira fase. Uma briga entre cariocas e paulistas -rivalidade que marcou a seleção brasileira durante meio século- impediu a convocação de atletas que atuavam em São Paulo, com exceção do atacante Araken.
A participação brasileira acabou marcada não pelo futebol, mas pela polêmica arbitragem da partida vencida pela Argentina contra a França por 1 a 0. Guilherme de Almeida Rego encerrou o jogo seis minutos antes do tempo regulamentar.
O impacto da Grande Depressão se estendeu pelos anos 30. Na América Latina, países como Argentina e Brasil vivenciaram profundas mudanças políticas, um reflexo da crise.
A URSS, então único país socialista, foi menos atingida porque tinha pequena participação no comércio internacional.
A África também foi afetada pela crise. A produção de gêneros agrícolas e a exploração de minerais, bases econômicas das colônias, tiveram seus preços sensivelmente rebaixados.
Desde 1919, após o tratado de Versalhes, o continente, excetuando a Libéria, o Egito (independente em 1922) e a Etiópia, era domínio quase exclusivo de Inglaterra e França.
A Alemanha perdeu todos os seus territórios após a derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), em uma nova partilha decidida pela então recém-criada Sociedade das Nações, antecessora da ONU (Organização das Nações Unidas).
Para a nova entidade, os povos africanos não eram "capazes de se dirigir por si mesmos nas condições particularmente difíceis do mundo moderno".
Portanto França e Inglaterra tinham recebido a tutela provisória das colônias até que elas pudessem caminhar sozinhas.
Tal decisão da Sociedade das Nações firmou o princípio de que a relação entre colonizador e colonizado não era um fim em si mesmo, mas um caminho que preparava os povos africanos para sua independência.


MARCO ANTONIO VILLA, 54, é historiador, professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e autor, entre outros livros, de "Breve História do Estado de São Paulo" (Imprensa Oficial, 2009)

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