São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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COPA 2002 - JAPÃO

Sakka derruba Besuboru

LUCIO RIBEIRO
RODRIGO BERTOLOTTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os japoneses difundiram o "besuboru" (corruptela nipônica para beisebol) no Brasil, enquanto os brasileiros ensinaram o "sakka" (soccer) no Japão.
Entre esses dois fatos passou todo o século 20 e chegou o século 21, com o Japão como anfitrião da Copa do Mundo e o Brasil como a seleção mais vitoriosa do futebol.
Passou também uma história de crises, progressos e migrações.
O futebol desembarcou em Tóquio ao mesmo tempo que o beisebol, praticados pela elite ocidentalizada do arquipélago.
Era o Período Meiji (1868-1912), em que xoguns e samurais perderam poder para que fosse forjada uma estrutura nos moldes europeus. A economia agrária passou a ser industrial. Os senhores feudais deram lugar a políticos e burocratas do imperador. O isolamento foi trocado pelo expansionismo territorial.
Nessa época, o beisebol tornouse popular. E, na década de 30, ganhou sua liga profissional. Enquanto isso, o futebol seguia como um esporte de colégio.
Sua principal incursão foi à Olimpíada de 1936, realizada na Alemanha, futura aliada na Segunda Guerra Mundial. O futebol jogou com dois atletas da anexada Coréia na campanha de um jogo só: derrota para os suecos.
Mas eram tempos de miséria para o povo japonês, abalado pela grande depressão mundial de 1929 e pelo terremoto que destruiu Tóquio. Parte dessa população acabou decidindo imigrar para Estados Unidos, Peru e, principalmente, Brasil, onde seus descendentes somam na atualidade mais de um milhão de pessoas.
A comunidade no Brasil sofreu durante o conflito mundial. Afinal, o governo de Getúlio Vargas via como inimigos os súditos de Hiroíto no país. Muitos foram confinados, perderam suas propriedades e foram proibidos de falar em seu idioma de origem.
Acabada a Segunda Guerra, o Japão derrotado, com duas bombas atômicas explodindo em seu território, teve sua reconstrução financiada por quem o destruiu: os EUA. O país asiático assinou sua rendição e foi obrigado a ter um exército só defensivo. No Brasil, muitos nipônicos acreditavam que o arquipélago tinha vencido o conflito e formaram uma seita que matava quem divulgava a capitulação: a Shindo Renmei.
Enquanto militarmente o Japão se retraiu, sua indústria cresceu com a ajuda norte-americana.
E foi nas fábricas que ressurgiu o futebol. Um ano após a Olimpíada de Tóquio-64, apareceu a JSL (Japan Soccer League) com times operários montados por empresas como Nissan, Mitsubishi, Yamaha, Hitachi e Mazda.
Na lista, faltou a Toyota, que foi importante para outro avanço futebolístico no país: a vinda do Mundial interclubes para Tóquio na década de 80.
O próximo passo foi transformar os times fabris em franquias ao estilo ianque e importar atletas estrangeiros. Isso aconteceu quando apareceu a J-League em 1993. Os brasileiros Zico, Tita, Dunga, Careca e Cerezo, além do inglês Lineker e do italiano Schillaci, jogaram por lá, ensinaram a técnica e fizeram o futebol ameaçar o beisebol como esporte preferido dos japoneses.
A média de público da J-League chegou a 19.679 pagantes nos anos 90, enquanto o beisebol despencou para uma média de 22.800 espectadores.
As participações na Olimpíada de Atlanta-96, quando derrotou o Brasil, e na Copa do Mundo de 1998 catapultaram a projeção da modalidade. A notícia de que abrigaria o primeiro Mundial do século 21, ao lado da Coréia do Sul, ajudou ainda mais.
Em 2000, uma pesquisa no país apontou que o futebol já superou o beisebol como o esporte predileto das crianças japonesas.
Agora, com o Mundial, é previsto que o futebol, tal qual um lutador de sumô, empurre o beisebol de vez para fora do ringue, principalmente entre a juventude japonesa. Ah, enquanto isso, o beisebol no Brasil...


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