São Paulo, quinta-feira, 19 de junho de 2008

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"Beleza" era preocupação já no auge cafeeiro

Pesquisador diz que isso era visível principalmente na arquitetura e na infra-estrutura urbana, mas também no vestuário

Uma das prioridades das cidades à época, segundo estudo, era se estruturar para conseguir inserção no mercado capitalista


DA FOLHA RIBEIRÃO

A preocupação com a estética já fazia parte da rotina ribeirão-pretana no auge do período cafeeiro, nas primeiras décadas do século passado. Passear pelas ruas da cidade, especialmente as da região central, no entorno do hoje chamado Quarteirão Paulista, era quase sinônimo de encontrar bons trajes para a época.
"No vestuário é possível verificar isso de modo muito claro. A população com poder aquisitivo tinha a questão do chapéu, do terno e da gravata. Não deixa de ser uma indicação nesse sentido", afirmou o arquiteto Rodrigo Faria, 35, doutor em história pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com pós-doutorado pela Universidade Politécnica de Madri (Espanha), e pesquisador do Centro de Estudos da Cidade da Unicamp.
A praça 15 era, então, o grande espaço público e, por isso, local de interação entre as pessoas -principalmente da elite-, na avaliação de pesquisadores ouvidos pela Folha.
Segundo Faria, autor de "Ribeirão Preto, uma Cidade em Construção (1895-1930)", que discutiu os conceitos de beleza, higiene e disciplina na cidade, a preocupação com a estética era mostrada principalmente em sua arquitetura e na infra-estrutura urbana.
"Não só em Ribeirão Preto, mas esse é um conjunto de ações dos poderes público e das pessoas no mundo todo. Era a preocupação da cidade, de se estruturar para ser inserida no mercado capitalista. A idéia de limpar, tirar a sujeira, ter água e esgoto e, também, edificações, era o assunto da época", disse o especialista.
Os teatros Carlos Gomes e Pedro 2º foram os dois pontos de ênfase do poder público e da iniciativa privada no sentido de instalar equipamentos belos, o que é perceptível em imagens da época disponíveis no Arquivo Público e Histórico de Ribeirão. Para Tânia Registro, historiadora do órgão, havia essa preocupação.
"A praça, no meio dos teatros, fecha o contexto. Qualquer ação que pressupõe promover arruamento ou colocação de palmeiras é uma ação embelezadora. A gente não desconecta a idéia de sanear com a de embelezar. Em Ribeirão, os fazendeiros, com dinheiro, investiam para promover o que era interessante para eles, que é o que acontece depois com a indústria", afirmou a historiadora.

Desconstrução
O foco do trabalho de Faria foi não questionar a beleza arquitetônica, mas desconstruir a idéia de cidade rica, moderna e progressista que Ribeirão sustentou com o passar do tempo.
"A beleza arquitetônica de fato Ribeirão tem, como a praça 15 e o Pedro 2º, que estão aí hoje. O foco foi questionar que as coisas existiam, mas eram para poucos, concentrada numa área nobre, que hoje iria do Sesc [rua Tibiriçá] até a estação ferroviária [Jerônimo Gonçalves], hoje rodoviária, e a praça Sete de Setembro. Nessa área tinha tudo isso de estrutura."
Segundo o especialista, o fenômeno se repete hoje, com a expansão da João Fiúsa e do entorno do Jardim Botânico.
"Mostram a qualidade dessas regiões com o descaso existente na zona norte. A Francisco Junqueira é diferente dependendo do lado que você vai. Do centro para um lado é uma realidade e, no mesmo eixo, para o Quintino, é outra. Teve o progresso de cidade rica, mas a renda é concentrada, e isso se mantém. Ao Pedro 2º, parte da população não tinha como ir, assim como hoje."
(MARCELO TOLEDO)


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