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PARENTE É SERPENTE
Campanha eleitoral provoca discussões acirradas entre as gerações paulistanas
Serra, Marta e Maluf dividem e animam famílias
Flávio Florido/Folha Imagem
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Ademir Gomes de Almeida (tucano), Rosa Sirlei (malufista) e Adriana Pedro de Almeida (petista) |
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A democracia começa em casa. Esse não é um clichê para os
Silva. Valdemarina Rodrigues
da Silva, 61, vota no tucano José
Serra para prefeito de São Paulo.
A filha, Valquíria, e o genro,
Wagner, em Paulo Maluf (PP).
O neto, Eduardo, tirou o título
de eleitor aos 16 só para votar na
petista Marta Suplicy em 2000.
Sem a mesma paixão, Monica, a
caçula, acompanha o irmão.
Apesar do conflito entre gerações, os Silva convivem bem entre quatro paredes. Até a noite
de um debate. Wagner e Eduardo assistem à TV em quartos separados. Do seu, o pai fala mal
de Marta. O filho retruca. "Maluf é candidato da conta no exterior. É o do "estupra mas não
mata'", provoca Eduardo, referindo-se à infeliz declaração da
campanha presidencial de 1989.
"Estupra, mas não "Marta'",
brinca Wagner, que, em defesa
de Maluf, diz que ninguém fez
tantas obras na cidade e recorre
até ao "todo mundo é inocente
até provar o contrário": "Se o
Ministério Público tem provas
documentais contra ele, por que
não cassou sua candidatura?"
De braços cruzados, Valdemarina assiste ao debate. "Como
esse menino fala!", comenta a
respeito de Eduardo. A franzina
Valdemarina mantém firme o
voto desde que Serra implantou
a distribuição de remédio no
Ministério da Saúde. Fã do governador Geraldo Alckmin
(PSDB), chega a protestar quando o programa petista exibe críticas ao sistema estadual de saúde. "É mentira", reage, dizendo-se usuária do hospital estadual.
Para ela, "é gostoso ver os dois
carequinhas [Alckmin e Serra]".
Recentemente, ao saber de uma
passagem de Marta pela zona
leste, onde todos moram, até
manifestou intenção de ver a
prefeita. Quando, brincando, o
neto disse que, para isso, teria de
votar em Marta, a avó desistiu.
"Ele inferniza minha mãe", conta, entre risos, Valquíria.
Estudante de jornalismo,
Eduardo nutre paixão por Marta. Por ela, tirou o título, filiou-se
ao PT e até atravessou a cidade
para assistir à inauguração do
túnel da Faria Lima. Elogiando a
política de educação da prefeita,
admite decepções, especialmente com a política de alianças e
com PT, partido ao qual chama
de centro-direita. Mas confessa:
"A Marta me cativa. A garra, a
coragem, a firmeza ..."
"A arrogância, o oportunismo", interrompe o pai. A discussão pode invadir a noite.
Na zona oeste, no bairro da
Lapa, não é diferente. O aposentado Ademir Gomes de Almeida
é eleitor de Serra. Sua mulher, a
costureira Rosa Sirlei Forte de
Almeida, "malufista roxa". Criada pelo casal, a sobrinha, a estudante de Letras e revisora Adriana Pedro de Almeida, vota no
PT desde os 18 anos. Tem 24.
Na casa, ouve os argumentos
do tio: o Rodoanel, a expansão
do Metrô, as obras da marginal
Tietê; o trabalho de Mário Covas
e Alckmin no Estado; a atuação
de Serra na Saúde, e a importância de uma parceria entre governador e prefeito... Adriana também escuta a tia. "Sei que ele vai
perder, mas São Paulo precisa
de grandes obras. E Maluf é arrojado para isso", diz Rosa.
Comedida, Adriana quase se
exalta quando a tia diz que votará em Serra no segundo turno.
"Só para não votar no PT, né,
tia?" Começa uma bem-humorada discussão. "Isso que ela
acabou de falar prova que o PT
não é um partido. É uma torcida
organizada", ataca o tio. Adriana mantém o controle, mesmo
sob artilharia pesada.
"Marta fez um bom mandato.
Ela herdou uma situação ruim, e
as obras darão resultado a longo
prazo", diz, acrescentando que
se identifica com a "filosofia do
PT". "A da briga", ironiza o tio.
"Todos os partidos têm seus fanáticos. No PT, só fica mais em
evidência", alega Adriana. Rosa
tenta acalmar os ânimos. Mas o
embate recomeça quando ela
expõe seu ponto de vista.
"O PT deixa a desejar na área
social". "E o CEU?", pergunta
Adriana. Então, Rosa faz a revelação da noite. Diz que votou em
Serra no primeiro turno da eleição presidencial de 2002. Mas,
para surpresa do marido, conta
que optou pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no segundo.
"Achei que Lula fosse lutar pelos pobres", justifica-se. "Mas
ele luta. Ele é o presidente. Luta
contra todo mundo", defende
Adriana. "Assim que se elegeu,
ele comprou um avião", responde Rosa. "Queria que o avião
caísse?", pergunta Adriana. E o
debate recomeça na família...
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