São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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RECIFE

Antes de ir aos EUA, presidente vai conhecer favela à beira-mar que está sendo reurbanizada pela prefeitura petista

Visita de Lula acirra disputa entre PT e PMDB

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita hoje Recife no momento de maior tensão até agora na campanha eleitoral. O PT e o PMDB, que polarizam a disputa, trocam acusações de farsa na propaganda gratuita, tudo em meio a suspeitas de espionagem envolvendo policiais da Casa Militar do governo de Pernambuco.
Por conta do clima acirrado, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) decidiu não receber o presidente hoje. Em seu comunicado, ele diz que optou por deixar Lula "à vontade para que cumpra os compromissos agendados com seus correligionários", sinalizando que julga a visita eleitoreira.
A programação oficial de Lula contribui para essa idéia. Nas três horas em que deve permanecer na cidade -o presidente viaja em seguida para Nova York-, ele não vai inaugurar nada nem lançar projeto novo. A proposta de inaugurar o aeroporto internacional de Recife (ainda não concluído) foi descartada, após a reação de Jarbas e do candidato do PMDB, Carlos Eduardo Cadoca.
Eles afirmaram que a obra é um projeto desenvolvido, em sua maior parte, pelo Estado, em parceria com o ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. "Isso cheira a coisa eleitoreira", disse Cadoca, há dez dias. Com a desistência, Lula vai apenas visitar obras realizadas pela prefeitura petista. Justamente aquelas que mais vêm provocando polêmica.
O presidente desembarca às 11h no aeroporto internacional de Recife e segue para a comunidade de Brasília Teimosa, onde, em janeiro de 2003, prometeu aos moradores de uma favela de palafitas à beira-mar retirá-los do local.
Os favelados foram removidos, e os barracos deram lugar a uma avenida com 1,2 quilômetro de extensão, batizada de Brasília Formosa. A orla foi urbanizada, mas os antigos moradores ainda não receberam suas novas casas.
Como paliativo, a prefeitura paga para cada uma das 425 famílias retiradas da favela de palafitas R$ 150 por mês de auxílio-moradia.
Dividida, a comunidade prepara festas e protestos. Faixas de boas-vindas devem dividir espaço com cartazes de reivindicações de parte dos moradores. Lula vai passear de carro pela avenida e, depois, visita o canteiro de obras do conjunto residencial, que está sendo erguido em regime de mutirão, no bairro do Cordeiro.
Orgulho do PT recifense, que está investindo R$ 13 milhões dos R$ 21 milhões na obra, a retirada das palafitas virou alvo da oposição. O PMDB levou à TV uma ex-moradora das palafitas, a artesã Maria do Socorro dos Santos, que criticou o prefeito por não ter entregue as casas. Três dias depois, ela voltou à TV, mas desta vez no programa de João Paulo. Negou tudo o que dissera antes e, chorando, declarou que foi induzida a mentir, com a promessa de ajuda para seus filhos presos.
Duas semanas mais tarde, a artesã foi encontrada amarrada em um mangue. Ela disse que foi seqüestrada, espancada e roubada por dois desconhecidos. Na quinta-feira, o advogado dela, Dominici Mororó, pediu ajuda à Polícia Civil, alegando estar sendo seguido nas ruas por duas motos e um carro. Os veículos foram interceptados; um dos motociclistas fugiu.
Os três homens detidos foram identificados como policiais da Casa Militar do governo. Eles estavam armados e portavam máquinas fotográficas, filmadoras e um dossiê com informações pessoais do advogado e um recorte de jornal com a foto da artesã.
O GOE (Grupo de Operações Especiais) assumiu a responsabilidade pela espionagem: alegou que estava investigando as agressões sofridas pela mulher.


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