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RECIFE
Antes de ir aos EUA, presidente vai conhecer favela à beira-mar que está sendo reurbanizada pela prefeitura petista
Visita de Lula acirra disputa entre PT e PMDB
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva visita hoje Recife no momento de maior tensão até agora
na campanha eleitoral. O PT e o
PMDB, que polarizam a disputa,
trocam acusações de farsa na propaganda gratuita, tudo em meio a
suspeitas de espionagem envolvendo policiais da Casa Militar do
governo de Pernambuco.
Por conta do clima acirrado, o
governador Jarbas Vasconcelos
(PMDB) decidiu não receber o
presidente hoje. Em seu comunicado, ele diz que optou por deixar
Lula "à vontade para que cumpra
os compromissos agendados com
seus correligionários", sinalizando que julga a visita eleitoreira.
A programação oficial de Lula
contribui para essa idéia. Nas três
horas em que deve permanecer
na cidade -o presidente viaja em
seguida para Nova York-, ele
não vai inaugurar nada nem lançar projeto novo. A proposta de
inaugurar o aeroporto internacional de Recife (ainda não concluído) foi descartada, após a reação
de Jarbas e do candidato do
PMDB, Carlos Eduardo Cadoca.
Eles afirmaram que a obra é um
projeto desenvolvido, em sua
maior parte, pelo Estado, em parceria com o ex-presidente tucano
Fernando Henrique Cardoso. "Isso cheira a coisa eleitoreira", disse
Cadoca, há dez dias. Com a desistência, Lula vai apenas visitar
obras realizadas pela prefeitura
petista. Justamente aquelas que
mais vêm provocando polêmica.
O presidente desembarca às 11h
no aeroporto internacional de Recife e segue para a comunidade de
Brasília Teimosa, onde, em janeiro de 2003, prometeu aos moradores de uma favela de palafitas à
beira-mar retirá-los do local.
Os favelados foram removidos,
e os barracos deram lugar a uma
avenida com 1,2 quilômetro de
extensão, batizada de Brasília Formosa. A orla foi urbanizada, mas
os antigos moradores ainda não
receberam suas novas casas.
Como paliativo, a prefeitura paga para cada uma das 425 famílias
retiradas da favela de palafitas R$
150 por mês de auxílio-moradia.
Dividida, a comunidade prepara festas e protestos. Faixas de
boas-vindas devem dividir espaço
com cartazes de reivindicações de
parte dos moradores. Lula vai
passear de carro pela avenida e,
depois, visita o canteiro de obras
do conjunto residencial, que está
sendo erguido em regime de mutirão, no bairro do Cordeiro.
Orgulho do PT recifense, que
está investindo R$ 13 milhões dos
R$ 21 milhões na obra, a retirada
das palafitas virou alvo da oposição. O PMDB levou à TV uma ex-moradora das palafitas, a artesã
Maria do Socorro dos Santos, que
criticou o prefeito por não ter entregue as casas. Três dias depois,
ela voltou à TV, mas desta vez no
programa de João Paulo. Negou
tudo o que dissera antes e, chorando, declarou que foi induzida
a mentir, com a promessa de ajuda para seus filhos presos.
Duas semanas mais tarde, a artesã foi encontrada amarrada em
um mangue. Ela disse que foi seqüestrada, espancada e roubada
por dois desconhecidos. Na quinta-feira, o advogado dela, Dominici Mororó, pediu ajuda à Polícia
Civil, alegando estar sendo seguido nas ruas por duas motos e um
carro. Os veículos foram interceptados; um dos motociclistas fugiu.
Os três homens detidos foram
identificados como policiais da
Casa Militar do governo. Eles estavam armados e portavam máquinas fotográficas, filmadoras e
um dossiê com informações pessoais do advogado e um recorte
de jornal com a foto da artesã.
O GOE (Grupo de Operações
Especiais) assumiu a responsabilidade pela espionagem: alegou
que estava investigando as agressões sofridas pela mulher.
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