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No Rio, acordo cria vagas para vigias de cavalete
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O acordo entre o Tribunal Regional Eleitoral do Rio e os partidos para não poluir a capital do
Estado com faixas e banners em
locais públicos, além de deixar as
ruas mais limpas, trouxe outra
conseqüência para a campanha
eleitoral carioca: incrementou o
mercado de trabalho informal de
pessoas cuja única função é ficar
horas sentadas ao lado de um cavalete com propaganda política.
Apesar de ser permitido pela legislação eleitoral em vigor, o tribunal e os partidos no Rio fizeram
um acordo para não afixar faixas e
cartazes em postes, viadutos, passarelas e demais locais públicos.
Sem a opção de fixar cartazes por
toda a cidade, a solução encontrada pelos candidatos, principalmente ao cargo de vereador, foi
contratar essa "militância" paga.
Na quarta-feira passada, às 13h,
a Folha contou, apenas na orla de
Copacabana (zona sul do Rio), 79
pessoas que ganhavam diárias
que variam de R$ 10 a R$ 30 para
tomar conta de cavaletes ou segurar faixas e bandeiras de candidatos. Na avenida Dom Helder Câmara (zona norte), eram 29.
À primeira vista, a contratação
desse serviço pode parecer um caso típico de exploração eleitoral
de uma população alienada. Uma
conversa com esses "militantes"
mostra, porém, que a maioria, assim como os marqueteiros que
trabalham em campanhas, separa
a parte profissional da ideologia.
"Estou fazendo um serviço como outro qualquer, mas não vendo o voto de jeito nenhum", diz
Gisele Ferreira Santana, 16, que
ganha R$ 60 por semana para tomar conta do cavalete de um candidato na zona sul. Ela conta que,
antes de aceitar o trabalho, pesquisou para ver quem paga mais.
O segurança Anderson dos Santos, 20, teve mais sorte do que Gisele. Achou um candidato disposto a pagar R$ 30 por dia. Ele afirma, porém, que o trabalho não vai
influenciar seu voto. "Não pretendo votar nele, até porque, lá em
casa, a gente sempre faz um debate para escolher o candidato", diz.
A manicure Ivana Ramos, 32,
tem a mesma posição. "Eles [os
coordenadores da campanha] me
pagam direitinho, providenciam
meu transporte e me dão um tíquete-refeição, mas ninguém me
pediu para votar nesse candidato", diz ela, que recebe R$ 50 por
semana, para agitar bandeiras e,
eventualmente, ir a passeatas.
O aumento da contratação dessas pessoas é explicada pela legislação eleitoral, que permite apenas que esses cavaletes sejam colocados em locais públicos desde
que não atrapalhem a locomoção
de pedestres e que sejam móveis.
Para isso, é preciso que uma pessoa esteja sempre ao lado de um
cavalete, para não caracterizar,
aos olhos dos fiscais do TRE, que
se trata de uma propaganda fixa.
A candidata a vereadora Andrea
Gouvêa Vieira (PSDB), que diz
usar 40 cavaletes e dividir a "militância" em dois turnos, cobra
profissionalismo. "As pessoas vão
lá para trabalhar. É um trabalho
como outro qualquer. Às vezes,
temos problemas com os que
abandonam o cavalete na rua."
A candidata Dalva Lazaroni
(PV), uma das que mais usa esse
tipo de serviço no Rio, estima que
contratou entre 250 e 300 pessoas
para tomar conta dos cavaletes.
O uso desses serviços não é unânime. O vereador Eliomar Coelho
(PT), que tenta a reeleição, critica
a prática. "Condeno este negócio.
Acho meio desumano pagar R$
20 por dia e obrigar a se submeter
a este trabalho humilhante", diz.
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