São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009

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MEDICINA

CIRURGIÃO GANHA 50% MAIS QUE CLÍNICO

Dificuldade para quem segue primeiro caminho é que se exige mais do médico

FLÁVIA MARTIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Anos 80, os três filhos ainda pequenos, a família reunida na casa de praia no Guarujá (litoral paulista) e a tranquilidade do cirurgião cardiovascular Noedir Stolf, 67, era interrompida pelo mesmo motivo: alguém ligara para informar que aparecera um doador de coração para um de seus pacientes.
Atual diretor do Incor (Instituto do Coração) e professor da Faculdade de Medicina da USP, Stolf deixava a família no Guarujá e corria para São Paulo.
"Era uma falta de privacidade e de liberdade enorme. Estatisticamente, transplantes costumam acontecer [mais] de madrugada ou em finais de semana", diz o cirurgião, que, em razão dos compromissos administrativos do cargo no Incor, hoje faz menos operações.
Especialidades como a de Stolf, que incluem cirurgias, costumam ser as mais bem remuneradas na medicina, a carreira cujos profissionais, por sua vez, são atualmente os mais bem pagos no mercado, segundo pesquisa da FGV.
O Simesp (Sindicato dos Médicos de São Paulo) estima que um cirurgião costuma ganhar em média 50% a mais do que os colegas que só clinicam.
Mas o próprio presidente do Simesp, o neurocirurgião Cid Carvalhaes, faz a ressalva: "É uma profissão de alta exigência. O profissional começa a estudar antes do vestibular e só para depois que morre".
Carvalhaes diz que a dedicação começa no início da graduação: "A faculdade é em tempo integral, o período letivo é maior do que o das demais graduações e, a partir do quarto ano, praticamente não há férias, porque o aluno se envolve em estágios e treinamentos".

Questão de escolha
Para Daniel Comparato, 33, que concluiu em 2004 os quatro anos de residência em cirurgia cardíaca no hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo, a vontade de seguir a especialidade veio no terceiro ano da faculdade, ao assistir a uma cirurgia no coração do tio.
"Na outra semana, já estava dando plantão no pós-operatório. Ficava mais tempo no centro cirúrgico que na faculdade."
A remuneração alta, para Comparato, é relativa, já que, depois da residência, segundo ele, há duas opções.
A primeira é integrar equipes maiores -com até quatro cirurgiões-, que atendam a muitos convênios de saúde e façam várias cirurgias. Nesse caso, o contracheque é mais polpudo, mas a chance de participar do ato cirúrgico é menor.
A segunda (que foi a opção de Comparato) é entrar para uma equipe menor, de dois ou três cirurgiões, em que todos têm de por a mão na massa, mas que, em compensação, realiza menos cirurgias. "A responsabilidade é muito maior, mas é a chance de praticarmos."


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