São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

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Posse ocorre entre duas mensagens de celular

Telão vira termômetro de aprovação popular; Bush e Cheney lideram as vaias

Frio transforma ruído de aplausos; Colin Powell, Ted Kennedy e Al Gore são os mais comemorados por público da cerimônia


DE WASHINGTON

A história começa na madrugada de ontem, com um SMS (mensagem curta por celular) do comando do ainda presidente eleito avisando que, para os que se dirigem à cerimônia de posse, o melhor rumo é o sul; os que vão para o desfile a seguir devem optar pelo norte.
Nas escadarias do metrô, as filas começam a se formar. Lá embaixo, pessoas empurram a multidão vagões adentro, à maneira dos trens japoneses. Apesar da muvuca, o clima é cordialmente patriótico. "Happy new president!" (feliz presidente novo), grita um.
Todos vamos para uma das alas dos convidados da cerimônia da posse, no gramado imediatamente à frente da escadaria do terraço do Capitólio onde Barack Obama falaria horas depois. Quanto mais próximo do local, maior a segurança.
Passa-se por dois detectores de metal. Mochilas são proibidas, e bolsas abandonadas no lixo ao lado do policial com cão farejador são a prova do rigor da revista. Franco-atiradores são avistados na abóboda do Capitólio. Ainda assim, o clima continua informal. "Acho que vi o Larry David!", grita uma mulher, referindo-se ao co-criador da série "Seinfeld".
Viu mesmo. Com sua calva protegida por um chapéu, ele também se acotovela sob o frio democrático, que gela igualmente o povo e as estrelas e os grandes doadores que bancaram uma festa cujo preço final pode ultrapassar os US$ 170 milhões. Viu também a apresentadora Oprah Winfrey e os músicos P. Diddy e Beyoncé, membros da realeza negra que por fim chega ao poder.
Uma vez instalados, começa um júri popular espontâneo. Cada pessoa a aparecer nos telões merece vaia, aplauso ou silêncio revelador. Os vaiados: George W. Bush, Dick Cheney e o democrata Joe Lieberman, que apoiou John McCain e desvirou a casaca após a eleição.
Os (mais) aplaudidos: Ted Kennedy, Colin Powell e Al Gore. O frio causa um efeito curioso nos aplausos. Como todos vestem luvas, o clap-clap-clap habitual é substituído por um abafado plaf-plaf-plaf. Começa a cerimônia. Joe Biden é empossado. Plaf-plaf-plaf. Aretha Franklin entoa a canção "America". Plaf-plaf-plaf.
Ao iniciar o processo de repetir as 39 palavras faladas pelo chefe da Suprema Corte, John Roberts, Obama adianta-se e começa antes que a primeira frase fosse completada.
Por fim, Obama discursa. Às 12h26, o discurso acaba. Plaf-plaf-plaf. Às 12h31, novo e último SMS: "Barack Obama é agora o 44º presidente dos EUA".
(SÉRGIO DÁVILA)


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