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Posse ocorre entre duas mensagens de celular
Telão vira termômetro de aprovação popular; Bush e Cheney lideram as vaias
Frio transforma ruído de aplausos; Colin Powell,
Ted Kennedy e Al Gore
são os mais comemorados por público da cerimônia
DE WASHINGTON
A história começa na madrugada de ontem, com um SMS
(mensagem curta por celular)
do comando do ainda presidente eleito avisando que, para os
que se dirigem à cerimônia de
posse, o melhor rumo é o sul; os
que vão para o desfile a seguir
devem optar pelo norte.
Nas escadarias do metrô, as
filas começam a se formar. Lá
embaixo, pessoas empurram a
multidão vagões adentro, à maneira dos trens japoneses. Apesar da muvuca, o clima é cordialmente patriótico. "Happy
new president!" (feliz presidente novo), grita um.
Todos vamos para uma das
alas dos convidados da cerimônia da posse, no gramado imediatamente à frente da escadaria do terraço do Capitólio onde
Barack Obama falaria horas depois. Quanto mais próximo do
local, maior a segurança.
Passa-se por dois detectores
de metal. Mochilas são proibidas, e bolsas abandonadas no lixo ao lado do policial com cão
farejador são a prova do rigor
da revista. Franco-atiradores
são avistados na abóboda do
Capitólio. Ainda assim, o clima
continua informal. "Acho que
vi o Larry David!", grita uma
mulher, referindo-se ao co-criador da série "Seinfeld".
Viu mesmo. Com sua calva
protegida por um chapéu, ele
também se acotovela sob o frio
democrático, que gela igualmente o povo e as estrelas e os
grandes doadores que bancaram uma festa cujo preço final
pode ultrapassar os US$ 170
milhões. Viu também a apresentadora Oprah Winfrey e os
músicos P. Diddy e Beyoncé,
membros da realeza negra que
por fim chega ao poder.
Uma vez instalados, começa
um júri popular espontâneo.
Cada pessoa a aparecer nos telões merece vaia, aplauso ou silêncio revelador. Os vaiados:
George W. Bush, Dick Cheney e
o democrata Joe Lieberman,
que apoiou John McCain e desvirou a casaca após a eleição.
Os (mais) aplaudidos: Ted
Kennedy, Colin Powell e Al Gore. O frio causa um efeito curioso nos aplausos. Como todos
vestem luvas, o clap-clap-clap
habitual é substituído por um
abafado plaf-plaf-plaf. Começa
a cerimônia. Joe Biden é empossado. Plaf-plaf-plaf. Aretha
Franklin entoa a canção "America". Plaf-plaf-plaf.
Ao iniciar o processo de repetir as 39 palavras faladas pelo
chefe da Suprema Corte, John
Roberts, Obama adianta-se e
começa antes que a primeira
frase fosse completada.
Por fim, Obama discursa. Às
12h26, o discurso acaba. Plaf-plaf-plaf. Às 12h31, novo e último SMS: "Barack Obama é agora o 44º presidente dos EUA".
(SÉRGIO DÁVILA)
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