do enviado especial a Lisboa

A idéia de que os brasileiros são preguiçosos não é, de modo algum, estranha à cultura do país. O herói nacional sem caráter, Macunaíma, retratado pelo modernista Mário de Andrade, vivia a falar de sua própria preguiça. São também parte desse patrimônio simbólico a idéia da indolência indígena e a crença na inferioridade da mestiçagem e nos efeitos negativos do clima tropical sobre o trabalho.
Teorias foram escritas a esse respeito e, por mais que tenham sido repelidas, sobrevivem num substrato ideológico que ajuda a moldar a imagem do brasileiro.
Apesar disso, portugueses que conhecem bem as relações entre os dois países, como o professor de história Arlindo Caldeira e o jornalista José Carlos Vasconcelos, editor do "Jornal de Letras", dão outras pistas para entender como Portugal vê a preguiça brasileira.
Ambos crêem que essa imagem também está relacionada à visão que os portugueses, no final do século passado e nas primeiras décadas do atual, tinham da ex-colônia.
O Brasil figurava no imaginário português como um lugar de oportunidades, um país imenso, com muitas riquezas naturais e fantástico potencial. Com essa terra mítica na cabeça muitos vieram para cá -e, apesar de muitas vezes ignorantes e despreparados, acabaram prosperando.
Disso derivaria a idéia de que os brasileiros não seriam capazes de explorar as potencialidades de seu próprio país. De que tinham, ao contrário dos portugueses, tudo para enriquecer, mas não o faziam por pouca dedicação ao trabalho.
Na pesquisa, verifica-se que essa idéia não é desprezível em Portugal: 12% vêem os brasileiros como gente que não gosta de trabalhar e 6% como "despreocupados ou acomodados".
Essa imagem, curiosamente, é acompanhada por outra, a do tipo falastrão (3%), convencido (4%), abusado (4%) e vaidoso (3%), características que, agrupadas, teriam um peso importante (14%) na percepção negativa que os portugueses têm dos brasileiros. A figura formada pelos traços acima é igualmente reconhecível na cultura brasileira e provavelmente reflete, em Portugal, um modo não muito polido de os brasileiros manifestarem a crença de que são "melhores" do que os portugueses.
Nada disso, no entanto, supera a imagem positiva que os portugueses guardam dos brasileiros, associada à alegria, ao bom humor, à cordialidade, à espontaneidade, à amizade e à sociabilidade, campo semântico que reúne 61% das citações dos entrevistados.
É também relevante nos resultados da pesquisa a associação que se faz entre brasileiro e cultura: 9% dos lisboetas apontam como principal qualidade dos brasileiros o fato de serem bons músicos, bons atores e bons autores.


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