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CULTURA
Ronaldinho e Pelé lideram menções, mas a maioria dos citados é de nomes ligados à cultura popular, como atores, músicos e escritores
Música e futebol moldam imagem dos brasileiros
do enviado especial a Lisboa
Não há nada de particular ou original no fato de os portugueses colocarem os nomes de Ronaldinho
(12%) e Pelé (10%) no topo da lista
de personalidades mais lembradas
quando se fala em Brasil. Muito
provavelmente os dois encabeçariam a lista em qualquer país do
mundo onde o futebol é popular.
O que mais chama a atenção no
rol de personagens lembrados pelos portugueses é o peso da cultura
nas escolhas. Dos 21 nomes mais
citados, 13 pertencem ao universo
da música, da literatura e da TV.
O primeiro, depois de Ronaldo e
Pelé, é Roberto Carlos (7%) -o
cantor, não o jogador de futebol do
Real Madrid. É instrutivo notar
que só as pessoas com mais de 24
anos se lembram espontaneamente de Roberto Carlos (que ganhou
seu último disco de platina em
Portugal em 1991).
Logo a seguir, com 5%, surge o
escritor Jorge Amado. É um nome
bem conhecido dos portugueses,
não apenas por seus livros, mas
também pelas versões que eles receberam da Globo no vídeo. Entre
os que têm mais de 40 anos, Amado (8%) só perde para Pelé (10%).
Também com 5% no total das escolhas, surge Fafá de Belém. "Ela é
conhecida em Portugal desde o
tempo que cantava hino no Brasil", diz o crítico de música João
Gobern (leia texto à pág. 7). O
grande estouro da cantora, que
participou da política portuguesa
apoiando o socialista Mário Soares, está também ligado ao futebol.
Explica-se: o Benfica, tradicional
time lisboeta, cuja cor é o vermelho, vem obtendo maus resultados
nos últimos tempos, o que tem ferido o orgulho de seus numerosos
torcedores. Certa vez, numa jogada promocional, Fafá de Belém foi
levada ao estádio do clube num dia
de clássico para cantar. Surgiu vestida de vermelho, com aquelas
proeminências de sempre, e entoou para as arquibancadas uma
canção com o nome da cor do time. No dia seguinte, estava nas
primeiras páginas dos diários portugueses. E a canção "Vermelho",
que a rigor nada tem a ver com o
Benfica, propagou-se pela capital.
Daniela Mercury, hoje o grande
sucesso da música brasileira em
Portugal, aparece logo abaixo de
Fafá, com o mesmo percentual de
menções (4%) que mereceu o piloto Ayrton Senna, morto em 1994.
Daniela é, claramente, uma escolha mais jovem: é a personalidade
mais citada depois de Ronaldinho
entre os entrevistados na faixa de
16 a 24 anos, com 12%.
Na sequência, vem Fernanda
Montenegro (3%), impulsionada
pelas novelas e pela indicação ao
Oscar. Curiosamente, 11% dos entrevistados dizem ter grande interesse pelo cinema brasileiro, e 30%
afirmam ter interesse médio.
Na faixa dos 2%, está o cantor
baiano Netinho, acompanhado de
Pedro Álvares Cabral, do ator Lima Duarte, da cantora Gal Costa e
de Chico Buarque de Holanda.
O compositor, criticado por Fernando Henrique Cardoso em sua
penúltima visita a Portugal, é mais
lembrado do que o primeiro mandatário, citado por 1%. Na mesma
faixa de FHC, pulverizam-se menções às cantoras Carmen Miranda
(por sinal nascida em Portugal) e
Maria Bethânia, aos ex-presidentes Getúlio Vargas, José Sarney e
Collor de Mello, e às atrizes Cláudia Raia e Maitê Proença.
As explicações para as preferências são, de um modo geral, bastante óbvias. A fama do futebol e a
marcante presença da música e da
telenovela brasileiras nos meios de
comunicação moldam as escolhas.
Segundo dados da pesquisa, 52%
dizem ter grande interesse pela
música, e 34%, pelas novelas.
A pesquisa testou, submetendo
previamente os nomes aos entrevistados, o grau de conhecimento
dos portugueses a respeito de algumas personalidades brasileiras.
Regina Duarte, que não surge nas
respostas espontâneas, é a mais conhecida, com 92%. A seguir, vêm
Jorge Amado (84%), Fernanda
Montenegro (77%), Chico Buarque (74%). O escritor oitocentista
Machado de Assis, surpreendentemente, é bem mais conhecido
(28%) do que o popular Paulo Coelho (18%).
(MAG)
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