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TERCEIRO SETOR EM FOCO
Gestão amadora entrava projetos
Sem profissionalização e avaliação, ONGs encontram dificuldades para conseguir verba, apoio de empresas e benefício fiscal
ANDRESSA ROVANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
De boas intenções os planos
dos empreendedores sociais
estão repletos. Para grande
parte, porém, o passo que falta
para que eles se tornem sustentáveis é demonstrar que a organização tem boa gestão e transparência para receber verbas.
Entre as 256 mil organizações não-governamentais que o
IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) contabiliza no país, é muito pequeno
o número das que têm boa gestão, segundo o professor Luiz
Carlos Merege, da FGV (Fundação Getulio Vargas).
A expansão do terceiro setor
acirrou a competição por recursos públicos e privados, e a
seleção ficou mais criteriosa.
Assim, profissionalização e
credibilidade passaram a ser
essenciais, e a qualidade na administração virou critério prioritário para captar recursos.
"O mais importante para o
investidor é saber se a ONG
consegue gerir bem os recursos", afirma Marcos Kissil, presidente do Isis (Instituto para o
Desenvolvimento do Investimento Social).
"As empresas querem saber
dos resultados esperados, dos
indicadores, de como o empreendedor tem certeza de que
vai conseguir atingir a missão."
Prestação de contas
Merege ressalta que, para
ter acesso a verbas governamentais, benefícios fiscais ou
apoio de empresas privadas, estarão um passo à frente as organizações que conseguirem
atestar sua credibilidade e o
compromisso ético com as causas pelas quais trabalham.
É nessa hora que entra em
cena a auditoria externa, realizada periodicamente. Com ela,
o grau de sofisticação e a qualidade da governança da organização tendem a crescer.
"Muitas vezes [a ONG] usa
o dinheiro direitinho, mas,
por não conseguir demonstrar,
acaba parecendo desvio",
ressalta Wagner Cassimiro,
da consultoria Gesto.
A falta de transparência financeira foi um quesito que
brecou o acesso de muitos inscritos no Prêmio Empreendedor Social 2007 à fase final.
Entre os 12 pré-finalistas
que foram selecionados, 2 foram eliminados por falta de
transparência financeira.
Por outro lado, entre os que
chegaram à final, dois (Luciano
Huck e Tião Rocha) passam por
auditoria externa todo ano, e
um (Mauricio Ruiz) está contratando empresa para fazê-lo.
Já o finalista André Soares terceirizou a gestão das finanças.
Legislação
Antes de chegar lá, porém,
ainda é preciso superar alguns
obstáculos à profissionalização
de sua gestão.
O desconhecimento da legislação é o maior problema enfrentado pelas ONGs, segundo
Hércules Soares, presidente da
Central de Projetos, entidade
de capacitação para a gestão.
Em alguns casos, porém, os
próprios contadores das organizações cometem equívocos
por não estarem familiarizados
com o terceiro setor.
Para Cassimiro, da Gesto, há
concentração de recursos em
ONGs que já têm excelência na
gestão. "São sempre as mesmas
que recebem. A chance de sobreviver é muito pequena para
quem não pensa em melhorar."
"As instituições que quiserem avançar terão de passar
obrigatoriamente pela profissionalização", concorda Miguel
Milano, representante da Fundação Avina.
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