São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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TERCEIRO SETOR EM FOCO

Gestão amadora entrava projetos

Sem profissionalização e avaliação, ONGs encontram dificuldades para conseguir verba, apoio de empresas e benefício fiscal

ANDRESSA ROVANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

De boas intenções os planos dos empreendedores sociais estão repletos. Para grande parte, porém, o passo que falta para que eles se tornem sustentáveis é demonstrar que a organização tem boa gestão e transparência para receber verbas.
Entre as 256 mil organizações não-governamentais que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) contabiliza no país, é muito pequeno o número das que têm boa gestão, segundo o professor Luiz Carlos Merege, da FGV (Fundação Getulio Vargas).
A expansão do terceiro setor acirrou a competição por recursos públicos e privados, e a seleção ficou mais criteriosa.
Assim, profissionalização e credibilidade passaram a ser essenciais, e a qualidade na administração virou critério prioritário para captar recursos.
"O mais importante para o investidor é saber se a ONG consegue gerir bem os recursos", afirma Marcos Kissil, presidente do Isis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social).
"As empresas querem saber dos resultados esperados, dos indicadores, de como o empreendedor tem certeza de que vai conseguir atingir a missão."

Prestação de contas
Merege ressalta que, para ter acesso a verbas governamentais, benefícios fiscais ou apoio de empresas privadas, estarão um passo à frente as organizações que conseguirem atestar sua credibilidade e o compromisso ético com as causas pelas quais trabalham.
É nessa hora que entra em cena a auditoria externa, realizada periodicamente. Com ela, o grau de sofisticação e a qualidade da governança da organização tendem a crescer.
"Muitas vezes [a ONG] usa o dinheiro direitinho, mas, por não conseguir demonstrar, acaba parecendo desvio", ressalta Wagner Cassimiro, da consultoria Gesto.
A falta de transparência financeira foi um quesito que brecou o acesso de muitos inscritos no Prêmio Empreendedor Social 2007 à fase final.
Entre os 12 pré-finalistas que foram selecionados, 2 foram eliminados por falta de transparência financeira.
Por outro lado, entre os que chegaram à final, dois (Luciano Huck e Tião Rocha) passam por auditoria externa todo ano, e um (Mauricio Ruiz) está contratando empresa para fazê-lo. Já o finalista André Soares terceirizou a gestão das finanças.

Legislação
Antes de chegar lá, porém, ainda é preciso superar alguns obstáculos à profissionalização de sua gestão.
O desconhecimento da legislação é o maior problema enfrentado pelas ONGs, segundo Hércules Soares, presidente da Central de Projetos, entidade de capacitação para a gestão.
Em alguns casos, porém, os próprios contadores das organizações cometem equívocos por não estarem familiarizados com o terceiro setor.
Para Cassimiro, da Gesto, há concentração de recursos em ONGs que já têm excelência na gestão. "São sempre as mesmas que recebem. A chance de sobreviver é muito pequena para quem não pensa em melhorar."
"As instituições que quiserem avançar terão de passar obrigatoriamente pela profissionalização", concorda Miguel Milano, representante da Fundação Avina.






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