São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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FLAVIO PIMENTA

Músico afina jovens para compor destino

Tocando com seus meninos e meninas, ele divide as responsabilidades para transformá-los em protagonistas

Danilo Verpa/Folha Imagem


BRUNA MARTINS FONTES
EDITORA-ASSISTENTE DE SUPLEMENTOS

Como bom artista, o percussionista Flavio Pimenta, 49, declara-se movido a paixão. E sempre embala no ritmo de uma para compor sua história.
Foi assim com a música. O menino que tocava corneta na fanfarra da escola primária se interessou pela bateria, e o flerte com baquetas logo virou caso sério. Aos dez anos começou a estudar percussão erudita.
Sob o olhar desconfiado dos pais, equilibrava-se entre as tarefas da escola e as das bandas -aos 12 já gravava profissionalmente e, aos 14, caía na estrada. Para comprar a bateria, foi trabalhar como office-boy.
Afinada a carreira de baterista, passou os anos 70 tocando em bares e gravando. Após o nascimento da filha, em 1981, passou a dar aulas em conservatórios, montou escola de música e estúdio de gravação, fez trilhas e vinhetas publicitárias. Tudo para comprar uma casa.
Um dia o combustível acabou. Em meados da década de 90, separado da mulher e desanimado com as perspectivas de sua carreira, ele decidiu sair do país rumo aos Estados Unidos. "Sozinho, comecei a ficar muito triste aqui. Faltava uma razão para continuar, um sonho."
Foi uma cena familiar que o fez mudar os planos. Caminhando pelo Morumbi, bairro nobre na zona oeste de São Paulo, avistou meninos à toa na praça Vinicius de Moraes e perguntou se não queriam formar uma banda com ele.
Desconfiados, os meninos foram. Voltaram. E trouxeram amigos. Como diz Flavio, "uma pessoa sozinha, em percussão, não faz o verão". Como já não cabia na casa, o bloco foi ensaiar na rua. "Acabei me apaixonando. Você só sabe o quanto é forte quando, com o que possui, transforma o outro."

Sonho coletivo
Os vizinhos não gostaram nada da história: chamavam a polícia e jogavam ovos. E Flavio distribuía cada vez mais instrumentos: "Dizia que íamos ter prédio, computador, tocar fora do Brasil. Alcançamos tudo".
Hoje 4.000 meninos e meninas de todas as idades, muitas cores e diferentes origens sociais já tiveram aulas de percussão, canto, dança, capoeira, inglês e informática, entre outras.
Na quadra de ensaio, o percussionista não divide só as baquetas. A cada um cabe a responsabilidade pela evolução da banda -é o que Flavio chama de "empoderamento".
"Isso reflete para a vida: eu posso, eu alcanço, eu vou lutar. Não é atender a miséria o que me atrai, e sim a idéia de a gente conseguir ser cada vez melhor, de que eles são protagonistas e responsáveis por isto aqui."

FLAVIO PIMENTA - www.meninosdomorumbi.org.br





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