São Paulo, quinta-feira, 22 de novembro de 2007

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VINICIUS FERREIRA

Agrônomo cobre de verde terra corroída

Criado na roça, mineiro recupera solo devastado por erosões com plantas da mata atlântica e do cerrado

Danilo Verpa/Folha Imagem


MARLENE PERET
ENVIADA ESPECIAL A NAZARENO (MG)

Criado entre ingás e candeias, mal sabia o menino Vinicius Ferreira, hoje com 36 anos, que usaria essas plantas do cerrado para recuperar graves erosões do solo de Minas Gerais.
Amarga herança de mineradores, a mesma que levou o poeta Carlos Drummond de Andrade a abandonar a sua Itabira e a capital mineira -que, em sua literatura, transformou-se em "Triste Horizonte".
Da infância simples e saudável em São João del-Rei (MG), Vinicius conta com orgulho: "Fui criado na roça, em contato com a natureza". E, de frente para o seu Rio Grande, revela emocionado: "Isso aqui faz parte da minha essência".
Para atingir a serenidade, o "matuto" teve pressa. "Minha mãe conta que comecei a andar com dez meses e que aos quatro anos ia pra escola sozinho." Mais tarde, fez colegial em escola da Aeronáutica em Barbacena (MG), onde assistiu ao filme "Gandhi", hoje seu grande mentor espiritual.
De lá, seguiu a correnteza do seu rio, a caminho de São Paulo. Entrou no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), mas dois anos bastaram para alçar outro tipo de vôo.
Foi parar no curso de ciências sociais da USP (Universidade de São Paulo). Os pais não aprovaram a rebeldia. "Precisei enfrentá-los", diz Vinicius, que, na época, tinha a mente povoada por imagens da infância com a avó, professora rural e artesã.
"Meus avós eram auto-suficientes. Vó Dadina só ia à cidade comprar sal." Sal que fez Gandhi cruzar a Índia rumo ao mar para mostrar ao povo que o produto não era dos ingleses, mas de todos os indianos. Se Vó Dadina soubesse dessa história e morasse perto do oceano, talvez ela não fosse mais à cidade só para comprar sal.

Pé na terra
Em São Paulo conheceu o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e viu nascer a preocupação com os camponeses de sua terra.
Decidiu voltar às origens: as ciências biológicas foram sua última tentativa acadêmica. Já no sétimo período de agronomia, foi de carona à Paraíba, a um encontro ecológico.
Lá, tornou-se militante ambiental e, quando retornou a Minas, encontrou terreno propício para a primeira batalha: a região onde nascera fora escolhida para sediar duas hidrelétricas. Revoltado, alugou um sítio para se engajar na luta pacífica e defender as comunidades ribeirinhas desalojadas.
A partir daí, Vinicius encontrou seu remanso -o projeto social. Mas o que fez ele tomar o caminho inverso ao de Drummond foi a reflexão. "Parei para ouvir os sinais, e o caminho apareceu", lembra.
Como autêntico "filho de Gandhi" e neto de Vó Dadina, Vinicius, hoje vegetariano e espiritualista, já pode cantarolar sossegado Tom Jobim: "Na barranceira do rio / o ingá se debruçou / e a fruta que era madura / a correnteza levou".

VINICIUS FERREIRA - www.projetomariadebarro.org.br





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