São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

1/4 dos alunos deixa faculdades

DA REPORTAGEM LOCAL

Um quarto dos alunos da USP abandona o curso, a maioria ainda no primeiro semestre. O maior índice de desligamentos se concentra nas áreas de humanas (33%) e exatas (25%), mas há cursos em que a evasão chega a 79%.
O levantamento, realizado pelo Naeg, ligado à pró-reitoria de graduação da USP, acompanhou a trajetória de 27.789 alunos ingressantes em 131 cursos de graduação nos anos de 1995 a 1998 e mapeou a evasão, a permanência prolongada e a conclusão até janeiro de 2003.
Os números de evasão reúnem casos de pessoas que deixaram um determinado curso e optaram por outro e de pessoas que abandonaram de fato a universidade. A USP ainda não tem um levantamento dos dados em separado.
Em 1995, de um total de 2.366 desligamentos, 56,1% foram no primeiro semestre. Em 1998, dos 1.626 alunos que abandonaram o curso, 44,3% o fizeram também no primeiro semestre.

Perfil dos desistentes
Dentro desse estudo, os pesquisadores agruparam os cursos com maior e com menor aproveitamento acadêmico. O grupo 1, formado por 28 cursos das áreas biológica, humana e exatas, apresenta as menores taxas de evasão, de 1,9% (imediata) a 4,6% (até janeiro de 2003). A maioria é formada por cursos de período integral, e as taxas de conclusão são as mais altas em toda a USP (87,3%).
Os grupos 4 (formado por 20 cursos das áreas de humanas e exatas) e 5 (12 cursos) foram os que apresentaram os menores índices de conclusão e as taxas mais altas de evasão.
Metade dos alunos do grupo 4 (50,6%) se desligou do curso ao longo da vida acadêmica. A maioria estudava à noite. Apenas 21,3% chegaram ao final do curso.
O grupo 5 é o mais problemático de toda a USP: 46,7% dos alunos se evadiram após a matrícula e outros 31,2%, no decorrer do curso. Ou seja, 78,7% dos alunos não concluíram seus estudos. Dos 12 cursos, 11 são habilitações em letras para o magistério (5 são noturnos) e as notas de corte para o ingresso no vestibular são as mais baixas da universidade.
Segundo a pró-reitora de graduação, Sonia Penin, está sendo feita uma pesquisa para identificar o perfil de aluno que se evade em cada curso da USP. Ela afirma que, de posse desses dados, as unidades poderão identificar o aluno com potenciais características para a evasão logo no início do curso e estabelecer programas para "segurá-lo" na universidade.
Além das razões socioeconômicas, a pró-reitora avalia que o desencanto com algumas disciplinas pode ser uma das razões para o alto índice de evasão de determinados cursos. "Podemos repensar uma estrutura curricular que seduza o aluno, tornando os cursos mais atraentes", diz.
Também será possível, segundo ela, aumentar o número de intercâmbios nacionais e internacionais, além de apoio pedagógico e metodológico aos professores. O objetivo da USP, afirma, é reduzir a evasão em 10% nos próximos quatro anos.
O período noturno, na avaliação da pró-reitora, é o mais problemático porque muitos alunos trabalham. "Há casos de evasão em que não podemos intervir, como os provocados por problemas pessoais ou financeiros."
Mas há outros que estão relacionados à própria estrutura das unidades. A Faculdade de Educação, por exemplo, fez um levantamento entre os alunos evadidos e descobriu que muitos deles já eram profissionais formados e que entraram na USP para cursar disciplinas específicas que os ajudariam nas atividades profissionais.
"Alguns alunos, depois que fazem esses cursos, se evadem", diz Penin. Nesses casos, avalia, seria mais interessante para a USP criar cursos de extensão que atendessem a esse perfil de aluno.
Outro dado que preocupa a USP: apenas 27% dos alunos acompanhados na pesquisa conseguiram concluir seus estudos no tempo ideal -de quatro a seis anos, dependendo do curso.
Em geral, segundo Sonia Penin, os alunos que mais demoram para concluir os cursos estudam à noite e trabalham, portanto, não teriam necessidade de concluir rapidamente os estudos para conseguir um emprego.
Ela admite, porém, que há problemas internos. Algumas disciplinas optativas são muito concorridas, e o aluno fica esperando por uma vaga.
"Estamos estudando formas de tornar a estrutura mais eficiente para que um número maior de alunos se forme no tempo previsto. Uma universidade pública precisa agilizar o fluxo até para permitir novos acessos."
O rendimento escolar da USP é considerado alto pelo estudo da pró-reitoria. O índice de aprovações de alunos nas diferentes disciplinas varia de 85% (ciências exatas e humanas) a 95% (ciências biológicas). (CC)


Texto Anterior: USP forma 30% dos doutores brasileiros
Próximo Texto: Pesquisa de ponta: USP faz 25% da ciência do país com 10% de pesquisadores
Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.