São Paulo, sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

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São Carlos é líder em produtividade científica


EM 2002, CADA PROFESSOR DO INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS PUBLICOU 3,9 ARTIGOS EM REVISTAS ESPECIALIZADAS; NA QUÍMICA, ÍNDICE CHEGA A 3,4


MARCELO FERRONI
ENVIADO ESPECIAL A SÃO CARLOS (SP)

No interior do Estado, longe dos centros de ciência e tecnologia da capital paulista, estão alguns dos mais importantes grupos de pesquisa da USP -como o Instituto de Física de São Carlos, a 231 km de São Paulo.
O IFSC surgiu como um departamento da Eesc (Escola de Engenharia de São Carlos), fundada em 1954. Com a reforma universitária de 1971, passou a fazer parte do IFQSC (Instituto de Física e Química). A separação entre os dois departamentos só ocorreu em 1994. Hoje, o instituto conta com 51 professores em tempo integral e uma verba de pesquisa de cerca de R$ 12 milhões anuais, entre projetos locais e cooperações com outros centros brasileiros e internacionais.
A produtividade científica (número de publicações em revistas indexadas por professor) é o ponto forte dos institutos. Em 2002, ela foi de 3,4 por pesquisador no Instituto de Química e de 3,9 no de Instituto de Física.

Ressonância magnética
As pesquisas são também marcadas, em muitos casos, pelos benefícios diretos à comunidade. Um exemplo disso está no trabalho de Horacio Carlos Panepucci, ex-diretor do IFSC e coordenador do Grupo de Ressonância Magnética, Espectroscopia e Magnetismo. No início da década de 80, a equipe iniciou os estudos de ressonância magnética. "Produzimos as primeiras imagens da América do Sul em 1983", afirma Panepucci. "Desenvolvemos uma tecnologia totalmente brasileira."
A partir daí, a equipe desenvolveu um aparelho de ressonância magnética, o Torm 05, instalado na Santa Casa de São Carlos em 1999. Desde então, o aparelho tem funcionado em usos clínicos de rotina. "Mais de 4.000 exames já foram realizados", diz Panepucci. Segundo o pesquisador, o projeto chamou a atenção do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que estuda a viabilidade de incentivar a criação de empresas que fabriquem o aparelho.
O IFSC coordena dois Cepids (Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão da Fapesp), um dos quais dirigido por Glaucius Oliva, do Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural.
Oliva e sua equipe pesquisam a estrutura e a função de proteínas com uma técnica chamada cristalografia. A pesquisa no centro está voltada para a descoberta de novos medicamentos contra doenças endêmicas nos países em desenvolvimento, como malária, leishmaniose, mal de Chagas e esquistossomose, negligenciadas pelas grandes empresas farmacêuticas dos EUA e da Europa.
O laboratório, com tubos de ensaio, amostras de proteínas e microscópios, não se parece em nada com um centro de ciências exatas. Como o próprio pesquisador diz, é uma física muito voltada para a biologia. "As ferramentas que existem para estudar a estrutura das proteínas são físicas. Esse é o nosso foco", diz Oliva.
O processo consiste em cristalizar a proteína. Em seguida, esses cristais são expostos a raios X, e as informações obtidas permitem construir um modelo tridimensional do composto. Se ele pertence a um agente infeccioso, é possível procurar por uma molécula que bloqueie sua atuação, transformando-a, futuramente, em um novo medicamento.
Em outro ramo de pesquisa do IFSC, Osvaldo Oliveira Jr. e sua equipe, do Grupo de Polímeros, procuram desenvolver materiais especiais a partir de polímeros, compostos formados pela sucessiva aglomeração de moléculas. "Esperamos que, no futuro, as lâmpadas fluorescentes sejam substituídas por lâmpadas de polímeros, que podem ter áreas maiores, além de ser bastante baratas e flexíveis. Queremos criar também telas de computador que sejam finas, leves e resistentes", afirma Oliveira.
O grupo também desenvolve um polímero que seja capaz de armazenar informações em três dimensões. "A idéia é ter um bloco que receba dados em diferentes camadas. Isso multiplicaria sua capacidade. Já temos esse polímero e inclusive vamos publicar um estudo e patentear o material", diz o pesquisador.
Outro grupo de destaque do IFSC é o Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica, dirigido por Vanderlei Bagnato. No campo de ciência básica, a equipe estuda o chamado resfriamento de átomos. Como eles estão sempre em rápido movimento, é difícil analisar seus aspectos intrínsecos. Por meio de lasers, a equipe de Bagnato é capaz de "frear" sua locomoção, possibilitando, assim, o seu estudo. "Com isso, entendemos a natureza do átomo e como eles se aproximam para fazer as ligações químicas", afirma o pesquisador.
A experiência que o grupo adquiriu o levou às aplicações práticas. Por meio de uma fonte concentrada de luz, a equipe estuda novas formas de diagnóstico e tratamento de câncer. Em uma das pesquisas, chamada biópsia ótica, o laser é usado para detectar tumores em estágio inicial.
Bagnato usa também uma emissão concentrada de luz para tratar tumores, em especial os de pele. Chamado de terapia fotodinâmica, o processo envolve primeiro a injeção de um medicamento, a porfirina. A substância se concentra nos tumores e, quando a luz é acionada sobre eles, os tecidos são destruídos.
"Já tratamos cerca de 350 pacientes em método experimental e, nos tumores de pele, eliminamos praticamente 80% dos casos", afirma Bagnato. A técnica está sendo agora aprovada pelos conselhos de medicina.


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