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Pesquisas melhoraram agricultura
DA REPORTAGEM LOCAL
Alface, tomate, berinjela, cebola, repolho, cenoura, couve-flor,
brócolis e pepino. A não ser que
more em Marte, você provavelmente já comeu alguma dessas
hortaliças em sua vida. E, se o fez,
deve agradecer a refeição à Universidade de São Paulo, mais especificamente à centenária Esalq
(Escola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz), em Piracicaba.
Hortaliças provêm de climas
temperados. Eram de difícil cultivo em um país tropical como o
Brasil. As sementes eram importadas. As variedades disponíveis
não se adaptavam ao verão brasileiro, só podiam ser bem cultivadas no inverno. Não se podia comer verdura o ano todo.
Essa situação foi mudando a
partir de 1945, graças aos trabalhos de genética vegetal de um
professor da Esalq, Marcílio de
Souza Dias (1915-1974), um bom
exemplo de pesquisa aplicada da
USP que beneficiou a sociedade.
Os cruzamentos selecionados de
variedades cada vez mais adequadas às condições do país possibilitaram que os genes mais "abrasileirados" se fixassem nos vegetais.
O brasileiro também pode agradecer à Esalq pela sobremesa e pelo cafezinho. Pesquisadores da escola modernizaram a indústria do
açúcar, combateram doenças da
cana e ajudaram no melhoramento genético do café. E, se passar
mal com a comida, poderá ser
atendido no Hospital das Clínicas,
ligado à Faculdade de Medicina e
um dos mais importantes do Brasil. Várias gerações de médicos da
USP contribuíram para isso.
Um dos mais importantes e
simbólicos foi Euryclides de Jesus
Zerbini, que realizou o primeiro
transplante de coração no país em
1968 (o 17º no mundo). Zerbini
criou o Instituto do Coração, um
dos centros de excelência da medicina brasileira.
Mais nova que sua colega da capital, criada em 1913, a FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto) começou a funcionar nos
anos 50. Teve a sorte de ter como
primeiro diretor, de 1952 a 1964,
um pesquisador, Zeferino Vaz,
que depois seria o primeiro reitor
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Vaz atraiu para a FMRP pesquisadores do porte de Maurício Rocha e Silva (1910-1983), o maior
nome da farmacologia brasileira,
cotado para o Nobel, e um dos
descobridores da bradicinina.
A bradicina é um vasodilatador,
um peptídio (pedaço de proteína)
que permite regular a espessura
dos vasos sangüíneos e, assim
controlar a pressão arterial. Essa
substância foi descoberta no Instituto Biológico em 1948 por Rocha e Silva, Wilson Teixeira Beraldo, então professor da Faculdade
de Medicina da USP (a da capital),
e Gastão Rosenfeld, que tinha sido do Instituto Butantan.
Os discípulos de Rocha e Silva
em Ribeirão Preto continuaram
suas pesquisas. Sérgio Henrique
Ferreira demonstrou a presença
de fatores potencializadores da
bradicinina no veneno da jararaca, descoberta que serviu à indústria farmacêutica para criar medicamentos contra a hipertensão.
Quando se fala na importância
da biodiversidade da floresta
amazônica, o nome de um pesquisador da USP, hoje aposentado logo surge. Trata-se de Otto Richard Gottlieb, do Instituto de
Química da USP, nascido na atual
República Tcheca em 1920 e naturalizado brasileiro.
Os estudos pioneiros de Gottlieb sobre química das plantas
abriram um novo campo de estudos, conhecido como sistemática
bioquímica de plantas. Trata-se
de classificar as plantas também
pelas substâncias químicas que
elas contêm em seu organismo.
Gottlieb é um dos raros pesquisadores do país que podem ser considerados "nobelizáveis".
(RBN)
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