São Paulo, domingo, 23 de fevereiro de 1997.

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Ex-atacante embala Gols

da Reportagem Local

O homem que vivia de fazer gols hoje vive de embalar Gols. Reinaldo Luís Xavier, atacante do Palmeiras no biênio 84-85, deixou a profissão de jogador de futebol há dois anos e hoje trabalha dentro da fábrica da Volkswagen em Taubaté, na região do Vale do Paraíba.
De jogador que chegou perto de ir para a seleção brasileira (segundo sua própria convicção), Reinaldo Xavier passou a funcionário da CRTS, empresa que executa uma tarefa terceirizada pela multinacional.
Seu salário: R$ 400,00, 1% ou menos do que ganha Luizão, que hoje veste a camisa 9 do Palmeiras.
Por esses R$ 400,00, Reinaldo trabalha das 15h à meia-noite, em regime de turno, cinco dias por semana. Sua tarefa é embalar peças de automóveis, especialmente do Gol, que serão enviadas à fábrica da Argentina, que as montará.
Curiosamente, um dos maiores acionistas das Volks argentina é Maurízio Macri, presidente do Boca Juniors, o clube mais popular do país.
Bolívia
A ligação entre Reinaldo Xavier e a Volks deve-se à existência do passe. Em 1990, logo ao ser contratado pelo Oriente Petrolero, da Bolívia, ele se desentendeu com os dirigentes.
A causa do conflito foi uma torção no joelho direito. Ele foi acusado de ter escondido um problema crônico e afastado. Acabou emprestado a clubes paulistas, como Portuguesa Santista, Taubaté e Inter, de Limeira.
Sem conseguir o passe livre, foi para Taubaté, cidade da família da mulher, e ficou quase um ano sem emprego. A chance de trabalhar na CRTS apareceu por causa de sua habilidade com a bola.
Mas como profissional não poderia jogar no time da Volks na Liga Amadora de Taubaté. Por isso, reverteu ao amadorismo.
Memórias
A reversão pôs fim a uma carreira iniciada em 1980, nos juniores do Coritiba. Após dois anos no time de cima e um emprestado ao Taubaté, ele foi contratado pelo Palmeiras, que já amargava sete anos sem conquistar um campeonato (ficaria mais nove). Nos dois anos de Palmeiras, recebeu críticas à sua técnica, a ponto de um jornal ter decidido, num certo momento, se referir a ele apenas como ''Trapalhão''.
''Não guardo rancor disso. Era até engraçado'', revela.
Mágoa, diz, só uma. Em 1983, viu-se perto da seleção, dirigida por Evaristo de Macedo.
''Tive a informação de que o Evaristo estava de olho em mim. Iria me ver num domingo, contra o Santos. Pedi ao meu técnico que não me tirasse de campo. Mas aos 30min do segundo tempo, ele me substituiu. Quase perdi a cabeça.''
Se aquela era uma chance, ele a perdeu e foi a única. Depois, foi vendido ao Juventus, que o emprestou a vários times, mas só o vendeu ao Oriente Petrolero.
Sonho
Hoje, longe do futebol (''quase não tenho contatos com os amigos daquela época''), Reinaldo Xavier tem como objetivo um emprego na própria Volks. Lá, acredita, seu salário seria de R$ 840, que, somada às horas-extras, poderia chegar a R$ 1.000,00 ou até 1.200,00.
''Nunca ninguém me prometeu nada. Fiz até para não ficar parado de tudo'', diz, como receio de que uma palavra demais ponha sua sorte a perder, mais uma vez. (MD)

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