São Paulo, quinta, 23 de abril de 1998

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ISRAELENSES
Fim dos conflitos preocupa israelense


"Existe gente que diz precisar de tempos duros", diz Avraham Burg, o presidente da Agência Judaica


do enviado especial ao Oriente Médio

O desaparecimento de um inimigo externo, num eventual cenário de paz no Oriente Médio, deverá ser um desafio para Israel. Setores da população se acostumaram a viver numa situação belicosa e terão dificuldades para viver num clima de paz e prosperidade.
A análise é de Avraham Burg, o presidente da Agência Judaica, que avalia como "glorioso" o que chama de primeiro capítulo do movimento sionista. Leia a entrevista concedida em Jerusalém pelo presidente da organização não-governamental responsável por promover a imigração de judeus a Israel. (JS)

Folha - O sr. diria que o projeto sionista se concretizou?
Avraham Burg -
Eu diria que, sem dúvida, o primeiro capítulo foi escrito, mas ainda não temos o livro todo. Nos últimos 50 anos, o povo judeu passou por esforços extenuantes. O primeiro foi a tentativa de destruição por meio do Holocausto e o segundo, a construção de Israel. Tudo isso acompanhado de guerras sangrentas, esforços pela absorção de imigrantes, necessidade de desenvolver a infra-estrutura do país, em campos como agricultura e defesa.
Folha - E os próximos capítulos?
Burg -
Teremos de lidar com problemas como a identidade moderna, tensões entre judeus de diferentes origens, as relações entre judeus e não-judeus, a relação entre Israel e a Diáspora. Mas o primeiro capítulo é glorioso.
Folha - E o último capítulo?
Burg -
Não tenho idéia. Há mais de 4.000 anos existem analistas tentando descobrir qual seria, e se haveria, um último capítulo. Os próximos capítulos: continuar trazendo judeus da ex-URSS e conseguir a paz nos próximos dois anos. É difícil falar em prazos, mas a paz bate à porta. Teremos então a pergunta: pode o povo judeu viver sem um inimigo externo?
Folha - Por que a preocupação com a ausência de um inimigo externo?
Burg -
Para algumas pessoas, a ausência será uma tragédia. Existe gente que diz precisar de tempos duros, porque nesse caso eles sabem como agir. Se houver paz e prosperidade, essas pessoas ficam perdidas. Sonho com a paz, a tranquilidade e a prosperidade. Sem o inimigo externo, Israel terá de ser uma sociedade mais tolerante, mais positiva.
Folha - Qual o maior fracasso do movimento sionista?
Burg -
Houve dois fracassos. Não conseguimos convencer a maioria dos judeus a escapar da Europa antes do Holocausto e não conseguimos convencer uma numerosa parcela do povo judeu a imigrar para Israel em vez de ir aos EUA ou outro país ocidental.
Folha - E a questão palestina?
Burg -
Nós, da Agência Judaica, não temos nada com isso. Somos o braço que busca unir a sociedade israelense e as comunidades da diáspora judaica. Mas como ativista pela paz e militante do Partido Trabalhista, posso dizer que estou muito preocupado em construir pontes entre judeus e árabes.



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