|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ISRAELENSES
Fim dos conflitos preocupa israelense
"Existe gente que diz precisar de tempos duros", diz Avraham Burg, o presidente da Agência Judaica
|
do enviado especial ao Oriente Médio
O desaparecimento de um inimigo externo, num eventual cenário de paz no Oriente Médio, deverá ser um desafio para Israel. Setores da população se acostumaram
a viver numa situação belicosa e
terão dificuldades para viver num
clima de paz e prosperidade.
A análise é de Avraham Burg, o
presidente da Agência Judaica,
que avalia como "glorioso" o
que chama de primeiro capítulo
do movimento sionista. Leia a entrevista concedida em Jerusalém
pelo presidente da organização
não-governamental responsável
por promover a imigração de judeus a Israel.
(JS)
Folha - O sr. diria que o projeto
sionista se concretizou?
Avraham Burg - Eu diria que,
sem dúvida, o primeiro capítulo
foi escrito, mas ainda não temos o
livro todo. Nos últimos 50 anos, o
povo judeu passou por esforços
extenuantes. O primeiro foi a tentativa de destruição por meio do
Holocausto e o segundo, a construção de Israel. Tudo isso acompanhado de guerras sangrentas,
esforços pela absorção de imigrantes, necessidade de desenvolver a
infra-estrutura do país, em campos como agricultura e defesa.
Folha - E os próximos capítulos?
Burg - Teremos de lidar com
problemas como a identidade moderna, tensões entre judeus de diferentes origens, as relações entre
judeus e não-judeus, a relação entre Israel e a Diáspora. Mas o primeiro capítulo é glorioso.
Folha - E o último capítulo?
Burg - Não tenho idéia. Há
mais de 4.000 anos existem analistas tentando descobrir qual seria, e
se haveria, um último capítulo. Os
próximos capítulos: continuar trazendo judeus da ex-URSS e conseguir a paz nos próximos dois anos.
É difícil falar em prazos, mas a paz
bate à porta. Teremos então a pergunta: pode o povo judeu viver
sem um inimigo externo?
Folha - Por que a preocupação
com a ausência de um inimigo externo?
Burg - Para algumas pessoas, a
ausência será uma tragédia. Existe
gente que diz precisar de tempos
duros, porque nesse caso eles sabem como agir. Se houver paz e
prosperidade, essas pessoas ficam
perdidas. Sonho com a paz, a tranquilidade e a prosperidade. Sem o
inimigo externo, Israel terá de ser
uma sociedade mais tolerante,
mais positiva.
Folha - Qual o maior fracasso do
movimento sionista?
Burg - Houve dois fracassos.
Não conseguimos convencer a
maioria dos judeus a escapar da
Europa antes do Holocausto e não
conseguimos convencer uma numerosa parcela do povo judeu a
imigrar para Israel em vez de ir aos
EUA ou outro país ocidental.
Folha - E a questão palestina?
Burg - Nós, da Agência Judaica,
não temos nada com isso. Somos o
braço que busca unir a sociedade
israelense e as comunidades da
diáspora judaica. Mas como ativista pela paz e militante do Partido
Trabalhista, posso dizer que estou
muito preocupado em construir
pontes entre judeus e árabes.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|