São Paulo, sábado, 23 de junho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Eterna candidata

Após 3 tentativas frustradas, Brasil usa Pan do Rio para tentar emplacar Olimpíada de 2016

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

O Brasil já tentou três vezes, sem sucesso, receber uma Olimpíada.
Em todas as oportunidades, o roteiro do fracasso parece se repetir: políticos utilizando a campanha olímpica para chamar a atenção, projetos inconsistentes e muito dinheiro público desperdiçado. O Brasil nunca chegou ao grupo de finalistas na eleição promovida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).
A primeira derrapada foi do projeto Brasília-2000. No início dos anos 90, o então presidente Fernando Collor de Melo e o então governador do Distrito Federal, Paulo Octavio, lançaram a candidatura, que tinha como objetivo principal promover a festa de 500 anos do descobrimento do Brasil.
Feita às pressas pelo governo, Brasília-2000 nem chegou a participar oficialmente da disputa do COI.
O espanhol Juan Antonio Samaranch, ex-presidente do comitê internacional, descartou o Brasil da disputa por antecipação. Após estudar o projeto, Samaranch chamou João Havelange, ex-presidente da Fifa e seu amigo particular, ao COI e pediu que entregasse uma carta ao presidente Collor.
Nela, o comitê rejeitava a capital federal. Anos depois, a australiana Sydney venceu a parada e sediou os Jogos.
Em 1995, os brasileiros trocaram de cidade, mas pouca coisa mudou. O Rio de Janeiro foi escolhido como representante nacional para sede dos Jogos Olímpicos de 2004.
O problema principal foi novamente político. Com o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, o então deputado federal Ronaldo Cezar Coelho (PSDB) presidiu o comitê na reta final e usou a candidatura como trampolim para sua carreira política.
A Rio-2004 mobilizou os cariocas, mas dividiu os dirigentes. Havelange, apoiou. Já o presidente do COB (Comitê Olímpico Brasileiro), Carlos Arthur Nuzman, preferiu um papel secundário. Ele só participava dos eventos oficiais.
Na visita dos dirigentes do COI ao Rio, milhares de pessoas foram às ruas apoiar a candidatura da cidade. Mas o projeto não empolgou.
O custo estimado atrapalhou muito -US$ 3,7 bilhões, o mais caro entre as cidades candidatas. Pelo planejamento, os atletas ficariam concentrados na Ilha do Fundão (zona norte), local cercado de favelas e palco de constantes tiroteios.
No final, o Rio ainda passou pelo constrangimento de ser ""derrotado" por Buenos Aires, que se classificou para a fase final, vencida por Atenas.
A ressaca foi ainda maior. O comitê do Rio-2004 deixou uma dívida de R$ 3 milhões. Vários prestadores de serviços não receberam e alguns apelaram para a Justiça.
Em 2003, o Brasil insistiu. Numa disputa interna que se arrastou por sete meses, o Rio venceu São Paulo e tentou a Olimpíada de 2012. Na época, o prefeito do Rio, Cesar Maia, comemorou a vitória zombando dos adversários paulistas.
""Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental", ironizou o político carioca, que não teve muitos motivos para comemorar no final.
Liderado dessa vez por Nuzman, o projeto carioca foi alterado e vendia a prévia realização do Pan-Americano como sua principal carta na manga.
Sem ter realizado o evento continental, a Rio-2012 perdeu feio. Para passar para a fase final, o Rio teria que preencher requisitos técnicos mínimos em setores como infra-estrutura, estrutura e impacto ambiental, acomodações, transporte, segurança e apoio financeiro. A cidade ficou em sétimo entre as nove aspirantes.
O relatório criticou duramente o planejamento financeiro apresentado pelos brasileiros, considerado por demais ""otimista", assim como o planejamento de transporte. Sobre segurança, o COI criticou o que o Rio achava ser o seu ponto alto: concentrar as competições na Barra da Tijuca.
Mesmo assim, a campanha movimentou muito dinheiro público. No total, a Prefeitura do Rio gastou cerca de R$ 5,5 milhões até a decisão dos estrangeiros. O município já havia reservado mais R$ 53 milhões até o final da campanha.
""Separamos os meninos dos homens", disse o presidente do COI, o belga Jacques Rogge, ao justificar a decisão do comitê de eliminar Rio, Leipzig, Havana e Istambul da corrida olímpica, vencida por Pequim.
Mesmo sem nunca conseguir empolgar os dirigentes do comitê internacional, o país anunciou novamente que vai apresentar candidatura aos Jogos de 2016. Como nas duas últimas tentativas, o Rio será o representante nacional.
""Desta vez, será diferente. O Pan é uma oportunidade única para o Brasil sediar os Jogos Olímpicos. A experiência e o legado que estamos adquirindo, além das instalações que estão prontas ou em andamento, serão fundamentais para esta conquista", repete o hoje também presidente do Co-Rio (Comitê Organizador do Pan), Carlos Arthur Nuzman, que teve participação em todas as campanhas anteriores.


Texto Anterior: Co-Rio diz que legado é problema do Estado
Próximo Texto: Outros Pans - O primeiro - Buenos Aires - 1951
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.