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Eterna candidata
Após 3 tentativas frustradas, Brasil usa Pan do Rio para tentar emplacar Olimpíada de 2016
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO
O Brasil já tentou
três vezes, sem sucesso, receber
uma Olimpíada.
Em todas as
oportunidades, o roteiro do
fracasso parece se repetir: políticos utilizando a campanha
olímpica para chamar a atenção, projetos inconsistentes e
muito dinheiro público desperdiçado. O Brasil nunca chegou
ao grupo de finalistas na eleição promovida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).
A primeira derrapada foi do
projeto Brasília-2000. No início dos anos 90, o então presidente Fernando Collor de Melo e o então governador do Distrito Federal, Paulo Octavio,
lançaram a candidatura, que tinha como objetivo principal
promover a festa de 500 anos
do descobrimento do Brasil.
Feita às pressas pelo governo, Brasília-2000 nem chegou
a participar oficialmente da
disputa do COI.
O espanhol Juan Antonio Samaranch, ex-presidente do comitê internacional, descartou o
Brasil da disputa por antecipação. Após estudar o projeto, Samaranch chamou João Havelange, ex-presidente da Fifa e
seu amigo particular, ao COI e
pediu que entregasse uma carta ao presidente Collor.
Nela, o comitê rejeitava a capital federal. Anos depois, a
australiana Sydney venceu a
parada e sediou os Jogos.
Em 1995, os brasileiros trocaram de cidade, mas pouca
coisa mudou. O Rio de Janeiro
foi escolhido como representante nacional para sede dos
Jogos Olímpicos de 2004.
O problema principal foi novamente político. Com o apoio
do presidente Fernando Henrique Cardoso, o então deputado federal Ronaldo Cezar Coelho (PSDB) presidiu o comitê
na reta final e usou a candidatura como trampolim para sua
carreira política.
A Rio-2004 mobilizou os cariocas, mas dividiu os dirigentes. Havelange, apoiou. Já o
presidente do COB (Comitê
Olímpico Brasileiro), Carlos
Arthur Nuzman, preferiu um
papel secundário. Ele só participava dos eventos oficiais.
Na visita dos dirigentes do
COI ao Rio, milhares de pessoas foram às ruas apoiar a
candidatura da cidade. Mas o
projeto não empolgou.
O custo estimado atrapalhou
muito -US$ 3,7 bilhões, o mais
caro entre as cidades candidatas. Pelo planejamento, os atletas ficariam concentrados na
Ilha do Fundão (zona norte),
local cercado de favelas e palco
de constantes tiroteios.
No final, o Rio ainda passou
pelo constrangimento de ser
""derrotado" por Buenos Aires,
que se classificou para a fase final, vencida por Atenas.
A ressaca foi ainda maior. O
comitê do Rio-2004 deixou
uma dívida de R$ 3 milhões.
Vários prestadores de serviços
não receberam e alguns apelaram para a Justiça.
Em 2003, o Brasil insistiu.
Numa disputa interna que se
arrastou por sete meses, o Rio
venceu São Paulo e tentou a
Olimpíada de 2012. Na época, o
prefeito do Rio, Cesar Maia, comemorou a vitória zombando
dos adversários paulistas.
""Que me perdoem as feias,
mas beleza é fundamental",
ironizou o político carioca, que
não teve muitos motivos para
comemorar no final.
Liderado dessa vez por Nuzman, o projeto carioca foi alterado e vendia a prévia realização do Pan-Americano como
sua principal carta na manga.
Sem ter realizado o evento
continental, a Rio-2012 perdeu
feio. Para passar para a fase final, o Rio teria que preencher
requisitos técnicos mínimos
em setores como infra-estrutura, estrutura e impacto ambiental, acomodações, transporte, segurança e apoio financeiro. A cidade ficou em sétimo
entre as nove aspirantes.
O relatório criticou duramente o planejamento financeiro apresentado pelos brasileiros, considerado por demais
""otimista", assim como o planejamento de transporte. Sobre segurança, o COI criticou o
que o Rio achava ser o seu ponto alto: concentrar as competições na Barra da Tijuca.
Mesmo assim, a campanha
movimentou muito dinheiro
público. No total, a Prefeitura
do Rio gastou cerca de R$ 5,5
milhões até a decisão dos estrangeiros. O município já havia reservado mais R$ 53 milhões até o final da campanha.
""Separamos os meninos dos
homens", disse o presidente do
COI, o belga Jacques Rogge, ao
justificar a decisão do comitê
de eliminar Rio, Leipzig, Havana e Istambul da corrida olímpica, vencida por Pequim.
Mesmo sem nunca conseguir empolgar os dirigentes do
comitê internacional, o país
anunciou novamente que vai
apresentar candidatura aos Jogos de 2016. Como nas duas últimas tentativas, o Rio será o
representante nacional.
""Desta vez, será diferente. O
Pan é uma oportunidade única
para o Brasil sediar os Jogos
Olímpicos. A experiência e o legado que estamos adquirindo,
além das instalações que estão
prontas ou em andamento, serão fundamentais para esta
conquista", repete o hoje também presidente do Co-Rio (Comitê Organizador do Pan),
Carlos Arthur Nuzman, que teve participação em todas as
campanhas anteriores.
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