São Paulo, quarta-feira, 23 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PROFISSIONAL

Vencer lama de estrada amazônica é desafio final

Buracos quilométricos exigem muito preparo na Transamazônica

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quem já dominou as dicas de condução "off-road" pode se considerar preparado para enfrentar uma aventura de mais fôlego. Embrenhar-se pelas rodovias Transamazônica e BR-163 é uma das mais radicais -e requer prática, habilidade, paciência e companheirismo.
Principais eixos de integração do megaprojeto de colonização agrícola implementado pelo regime militar no início dos anos 70, essas duas estradas são quase intransponíveis durante a época das chuvas.
Um prato cheio para 15 trilheiros reunidos pelo Borac (Brasil "Off-Road" Adventure Club), que organiza todo ano uma expedição para lá. Lentamente, o grupo venceu quase 3.000 quilômetros de estradas enlameadas em uma viagem de 15 dias, partindo de Brasília.
O comboio, formado por uma picape Ford Ranger, um Land Rover Discovery, um Jeep Grand Cherokee, cinco Land Rover Defender 110, dois Land Rover Defender 90 e um Toyota Bandeirante, ziguezagueou por milhares de quilômetros entre buracos e atoleiros, em média a 20 km/h.
Sob pancadas de chuvas isoladas, a jiparada seguiu para Rurópolis e subiu pela BR-163 até Santarém e Alter do Chão. E voltou pela mesma Transgarimpeira até Cuiabá.

Estrada destruída
Rodar no asfalto, só até chegar à Transamazônica. A partir de lá, apenas estradas de terra até Marabá (PA), repletas de atoleiros e de obstáculos naturais, para a alegria do grupo a bordo dos 4x4. Nessas estradas, quase destruídas por chuvas e tráfego de pesados caminhões, reinam lamaçais que atingem quilômetros de extensão.
Enormes facões cavados pelos caminhões que transportam madeira também dificultaram bastante o trajeto. Dezenas deles trafegam dia e noite, piorando as condições da estrada ou, quando atolados, impedindo a passagem de veículos.
Fora da estrada, já faz tempo que os núcleos de garimpo se tornaram vilarejos. Hoje têm status de pequenas cidades e oferecem ao viajante o conforto de hotéis, telefones e a opção de pagar com cartão de crédito.
Para o advogado paulista Wagner Gopfert, 37, a aventura foi uma "higiene mental". "Ficar longe do dia-a-dia urbano e constatar que o Brasil é um pouco mais do que se conhece no Sul e no Sudeste é uma experiência inesquecível", relata.
Jipeiro inveterado, Gopfert já esteve na Amazônia diversas vezes, conduzindo vários tipos de veículos. Dessa vez, a bordo de um Jeep Grand Cherokee, repetiu a dose e voltou feliz, apesar da quebra do veículo no meio do caminho.
Seu 4x4, com câmbio automático, ficou sem a tração dianteira por causa do grande esforço para sair dos atoleiros. "Quebras são normais num trajeto pesado como esse, mas o investimento vale a pena. É adrenalina e emoção 24 horas por dia", avalia o advogado.

Desafios amazônicos
O empresário paulista Alexandre Tomás, 30, companheiro de direção de Gopfert na expedição, levou na bagagem a experiência de ter participado de duas edições do Rally Paris-Dacar como navegador, mas se disse encantado com os desafios amazônicos.
"Nada se compara a esses caminhos no meio da floresta. No Paris-Dacar, o principal obstáculo é a areia do deserto. Na Amazônia, são a lama, os mosquitos e a malária, que está sempre rondando." (RP)


Texto Anterior: Novidades
Próximo Texto: Comboio vira "anjo da lama", mas também sucumbe a buracos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.