São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2008

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FHC e Lula colocaram tema na agenda

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para o sociólogo Carlos Hasenbalg, professor aposentado do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e especialista em desigualdades e relações raciais, o Brasil passou, no período entre as duas pesquisas Datafolha sobre racismo, por um "momento de inflexão" na relação da sociedade com o tema, semelhante ao que ocorreu nos EUA durante os anos 60.
"Nos Estados Unidos", ele diz, "até a década de 50, operava um sistema de segregação racial muito forte". "Um ponto de inflexão lá foi a campanha de direitos civis, começada nos anos 60, com uma mobilização não só dos negros mas também de outras minorias."
Em conseqüência dessas pressões internas, diz Hasenbalg, o governo norte-americano criou respostas políticas na forma de ações afirmativas. "Tudo isso acaba culminando com o que vimos agora, a eleição de um presidente negro. Coisa impensável há 40 anos."
No caso do Brasil, o "ponto de inflexão" no tratamento da questão racial, defende o sociólogo, aconteceu justamente no ano da publicação do caderno "Racismo Cordial", em que a Folha apresentava o primeiro levantamento do Datafolha sobre o tema.
"Um ponto de inflexão foi 1995, quando pela primeira vez se admite, desde a Presidência da República, a existência de racismo no Brasil. E começa a implementação de uma série de programas para promover a igualdade racial."
Integrantes do governo, acadêmicos e representantes de movimentos sociais afirmam que os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo que aquém das reais necessidades, ajudaram a incluir os negros e a diminuir o preconceito.
Segundo eles, mesmo discursos e canetadas simbólicas- ou quase, como a criação da Secretaria da Igualdade Racial, com função apenas de articulação dentro do governo- ajudaram a amenizar o preconceito, como indica o Datafolha, e, ao mesmo tempo, aumentar a auto-estima dos negros.
FHC, por exemplo, citou a questão racial nos discursos de posse de seus dois mandatos, reconheceu Zumbi dos Palmares como herói nacional e criou um grupo interministerial para desenvolver políticas de valorização dos negros no país.
Lula também partiu para ações simbólicas sobre o tema. Em 2005, em visita à ilha de Gorée, no Senegal, onde em séculos passados os africanos embarcavam em navios negreiros, pediu "perdão" pelos anos de escravidão no Brasil.
O petista, por outro lado, não conseguiu mobilizar ou encontrar um consenso nos partidos da base aliada para a aprovação na Câmara (onde está parado desde 2005) do Estatuto da Igualdade Racial, que estabelece sistema de cotas raciais para diferentes setores (como universidades e serviço público).
(EDUARDO SCOLESE E RAFAEL CARIELLO)


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