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FHC e Lula colocaram tema na agenda
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para o sociólogo Carlos Hasenbalg, professor aposentado
do Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e especialista em desigualdades e relações raciais, o
Brasil passou, no período entre
as duas pesquisas Datafolha sobre racismo, por um "momento
de inflexão" na relação da sociedade com o tema, semelhante ao que ocorreu nos EUA durante os anos 60.
"Nos Estados Unidos", ele
diz, "até a década de 50, operava um sistema de segregação
racial muito forte". "Um ponto
de inflexão lá foi a campanha de
direitos civis, começada nos
anos 60, com uma mobilização
não só dos negros mas também
de outras minorias."
Em conseqüência dessas
pressões internas, diz Hasenbalg, o governo norte-americano criou respostas políticas na
forma de ações afirmativas.
"Tudo isso acaba culminando
com o que vimos agora, a eleição de um presidente negro.
Coisa impensável há 40 anos."
No caso do Brasil, o "ponto de
inflexão" no tratamento da
questão racial, defende o sociólogo, aconteceu justamente no
ano da publicação do caderno
"Racismo Cordial", em que a
Folha apresentava o primeiro
levantamento do Datafolha sobre o tema.
"Um ponto de inflexão foi
1995, quando pela primeira vez
se admite, desde a Presidência
da República, a existência de
racismo no Brasil. E começa a
implementação de uma série
de programas para promover a
igualdade racial."
Integrantes do governo, acadêmicos e representantes de
movimentos sociais afirmam
que os governos de Fernando
Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo que
aquém das reais necessidades,
ajudaram a incluir os negros e a
diminuir o preconceito.
Segundo eles, mesmo discursos e canetadas simbólicas- ou
quase, como a criação da Secretaria da Igualdade Racial, com
função apenas de articulação
dentro do governo- ajudaram
a amenizar o preconceito, como indica o Datafolha, e, ao
mesmo tempo, aumentar a auto-estima dos negros.
FHC, por exemplo, citou a
questão racial nos discursos de
posse de seus dois mandatos,
reconheceu Zumbi dos Palmares como herói nacional e criou
um grupo interministerial para
desenvolver políticas de valorização dos negros no país.
Lula também partiu para
ações simbólicas sobre o tema.
Em 2005, em visita à ilha de
Gorée, no Senegal, onde em séculos passados os africanos embarcavam em navios negreiros,
pediu "perdão" pelos anos de
escravidão no Brasil.
O petista, por outro lado, não
conseguiu mobilizar ou encontrar um consenso nos partidos
da base aliada para a aprovação
na Câmara (onde está parado
desde 2005) do Estatuto da
Igualdade Racial, que estabelece sistema de cotas raciais para
diferentes setores (como universidades e serviço público).
(EDUARDO SCOLESE E RAFAEL CARIELLO)
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