São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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JUVENTUDE ENTEDIADA

Morador depende da criatividade para se divertir

Com ampla população entre 16 e 24 anos e de baixa renda familiar, extremo leste de SP sofre com falta de áreas verdes e de lazer

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Garotos improvisam jogo de bola em Cidade Tiradentes; região tem poucas opções de áreas de lazer

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando bate um vento no extremo leste de São Paulo, o que tremula são os restos de pipas enrolados nos fios elétricos. As árvores são escassas e as áreas de lazer, mais ainda.
Com a maior parcela de famílias com renda mensal de até dois salários mínimos (32%) e muitos jovens (27% dos moradores têm entre 16 e 24 anos), a diversão depende de criatividade e jogo de cintura. Moradores de Lajeado deram nota 1,9 às áreas de lazer, a menor da cidade; os de São Rafael, 2 e os de Itaim Paulista, 2,2. A média da região é 3,3; a paulistana é 4.
No fim de semana, é comum ver garotos sobre a laje das casas empinando pipas, uma das principais brincadeiras da região. As disputas, muitas vezes com cerol, também acontecem em terrenos baldios e no parque do Carmo, o principal da região. O vigia Jerry Adriani Matos, 40, diz apreender cerca de dez latas de cerol por final de semana. "Há acidentes de duas a três vezes por semana".
Futebol de várzea é outro passatempo popular. No Itaim Paulista, campeonatos locais acontecem aos domingos no campo do Tossan, como é chamado.
Já para se divertir à noite, há quem vá a outra região. De São Rafael, o caixa Diego Santos Silva, 21, precisa juntar mais três pessoas para dividir um táxi "que sai uns R$ 100" para ir a clubes de música eletrônica, como os da Vila Olímpia (zona oeste). Quando sai do trabalho, em uma padaria, à meia-noite, "não tem mais como ir de ônibus". O balconista Luiz Carlos de Oliveira, 30, morador de Lajeado, diz que praticamente desistiu de sair à noite. "Por falta de carro e porque também não há nenhum lugar interessante para sair no Lajeado."

Árido
Segundo o Atlas Ambiental do Município de São Paulo, o extremo leste é uma das áreas mais urbanizadas da cidade, com vias pouco arborizadas e carência de praças e jardins residenciais. "A paisagem da zona leste é tão árida que a temperatura pode ficar até dois graus acima da das áreas mais arborizadas da cidade", diz o arquiteto Paulo Brazil, um dos responsáveis pela implantação do Parque da Integração, que, recém-inaugurado e com quase 8 km, vai de São Mateus a Sapopemba.
Construído sobre uma adutora da Sabesp, o projeto integra um programa da Escola da Cidade -faculdade de arquitetura e urbanismo- que começou a ser implantado em 2001.
Naquela época, nem estava definido ainda que se trataria de um parque. A decisão foi um desdobramento das conversas de alunos e professores com a comunidade. "As principais demandas eram sobre segurança e área de lazer", conta Brazil.
Uma ciclovia permeia a área, mas a via serve muito mais para o tráfego do que para diversão: a bicicleta é um meio de transporte comum na região.

Shopping
Comércio também é escasso: apenas 16% dos moradores do extremo leste consideram o quesito o melhor de onde vivem; a média paulistana é de 23,3%.
Segundo dados de 2006 da Secretaria Municipal de Planejamento, a quantidade de salas de cinemas e teatros dos 16 distritos da região era, somada, equivalente a um oitavo do que há na Consolação (maior quantidade da cidade): 6 contra 51. A estatística, porém, não contabiliza as oito salas do shopping Itaquera, inaugurado no final de 2007. Os ingressos têm alguns dos preços mais acessíveis da cidade, de R$ 5 a R$ 13.
Mas não são apenas os cinemas que atraem os visitantes. Alguns vão ao shopping apenas para passear. "As pessoas freqüentam o shopping mais como lazer mesmo", afirma a vendedora Daiane de Jesus, 23. "A gente que vende, sofre."
(TALITA BEDINELLI, JOÃO PEQUENO E MARIANA BARROS)



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