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PAULISTANOS
Capão Redondo/Jardim Ângela
Maioria quer ir embora de São Paulo
DA REPORTAGEM LOCAL
A história de Paulo Lima (o nome é fictício), 17, é um bom exemplo da realidade na região do
Campo Limpo, na zona sul de São
Paulo, onde o rapaz nasceu e vive
-se depender dele, não por muito tempo. Uma região cheia de
problemas, violenta, pobre, com
quase nenhuma opção de lazer e
muito poucas perspectivas, onde
a ausência do poder público é
compensada pela presença de entidades que tentam apoiar as pessoas e levantar a auto-estima dos
moradores.
Pego roubando um carro, Lima
recebeu uma pena alternativa:
prestar serviço voluntário numa
entidade por três meses. Segundo
a pesquisa Datafolha, a região que
agrega o Campo Limpo é considerada a mais violenta da capital
paulista (19% dos entrevistados
disseram isso). A falta de segurança é também apontada como
principal problema de quem vive
nos bairros que formam a área
(35% dos ouvidos contra uma
média de 31% na cidade em geral)
e é a primeira coisa que vem à cabeça dos moradores da região
quando pensam na cidade de São
Paulo (32% contra 27%).
A descrição feita por Lima do
local bate com a imagem que os
paulistanos têm dessa localidade
(que inclui ainda os distritos de
Capão Redondo, Cidade Dutra,
Grajaú, jardins Ângela e São Luís,
Marsilac e Parelheiros). "Não tem
muita coisa para fazer. É feio, sujo
e longe de tudo", diz o rapaz.
Ela é vista como a mais feia (10%
dos entrevistados), a mais pobre
(12%) e a segunda com menos opções de lazer (7%). Em um cenário quase desolador como esse,
não é à toa que a maioria dos que
lá vivem (56%), se pudesse, faria
as malas para deixar a capital paulista. O jovem Lima não quer ir
tão longe. "Meu sonho é ir morar
no centro", afirma.
É no distrito de Santa Cecília, a
uma hora e vinte minutos de distância -"com sorte, se o ônibus
não quebrar"-, onde ele passa a
maior parte do tempo, estudando, trabalhando ou namorando.
"No centro dá para ir a shows, ao
cinema, ao shopping. É tudo mais
perto, mais fácil. É tudo melhor."
Um dos poucos aspectos em
que Lima destoa do perfil do morador de sua região é no nível de
escolaridade. Ele vai começar a
cursar o 2º ano do ensino médio,
enquanto 61% de seus vizinhos
ouvidos pelo Datafolha têm apenas o ensino fundamental (a média na cidade é de 49%).
Lima diz que quer fazer cursinho para prestar vestibular, mas
conta que desistiu de tentar cursar direito. "Você nunca vai conseguir defender o que é certo", lamenta. Com o trabalho voluntário, o rapaz afirma estar aprendendo "a dar valor às coisas".
É justamente a se dar o devido
valor que todo o extremo sul paulistano precisa aprender, diz Neide de Fátima Martins Abati, 65,
presidente da União Popular de
Mulheres do Campo Limpo, que
mantém uma outra instituição na
região, a Casa da Mulher e da
Criança, por onde passam por dia
até 200 pessoas -entre as que vão
pegar leite, fazer cursos de alfabetização, bordado, fuxico, culinária, tai-chi-chuan ou tomar um livro emprestado na biblioteca.
Numa região onde as pessoas,
para se divertir, não costumam
fazer nada e São Paulo não é vista
como a cidade onde é possível encontrar de tudo, as poucas opções
que a casa oferece são vistas como
preciosidades. "Em vez de ficar
em casa, assistindo a programas
violentos, venho para cá e me distraio", afirma o aposentado Valfrido Simões da Silva, 80.
Ele é um dos idosos que não
perdem uma aula de tai-chi-chuan. Todo sábado, às 9h, cerca
de 20 pessoas praticam os exercícios numa pracinha que só foi
construída graças à mobilização
dos vizinhos em mutirão.
"Como quase todo mundo está
desempregado, fica o dia inteiro
sem fazer nada", diz Valéria Batista Martins, 30, cinco filhos, sem
trabalho há cinco anos. Como ela,
23% dos que vivem na região não
têm emprego (a média geral na cidade é de 17%).
(MARIANA VIVEIROS)
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