São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Obras na marginal engessam o futuro do rio

Para especialistas, Tietê se tornará rio urbano que deve ser despoluído

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A nova marginal engessou o futuro do rio Tietê, com pistas que passam a três metros da margem, segundo arquitetos como Fábio Valentim.
O projeto de um rio que tenha uma memória do que ele foi um dia, com margens que alagavam e locais para prática de esportes, é só uma utopia. O futuro do Tietê, na melhor das hipóteses, é tornar-se um rio urbano, como o Sena em Paris, o Tâmisa em Londres e o Hudson em Nova York, de acordo com pesquisadores como a engenheira Monica Porto.
"Essa ideia de rio urbano não é necessariamente ruim", diz ela, chefe do departamento de engenharia hidráulica da Escola Politécnica da USP e coordenadora de dois dos planos para a bacia do Alto Tietê, encomendados pelo governo do Estado. "O Sena e o Tâmisa estão colados à rua e ninguém reclama."
Valentim, do escritório de arquitetura Una, premiado na Bienal de Veneza, tem uma visão oposta à da engenheira: "Com a nova marginal, o rio vai piorar do ponto de vista ambiental e paisagístico. Podiam até alargar a marginal, como um ato emergencial, mas não há plano para o futuro."
Para ele, a ausência de planos é decorrência da prática -"de todos os partidos", como frisa- de realizar obras de olho nas próximas eleições. "Não existe projeto urbano que possa ser feito em quatro, cinco anos. Precisa de 40, 50. Como aqui tudo é ditado pelas campanhas políticas, não há urbanismo."
Porto, que se diz otimista, acha que o Tietê tem tudo para tornar-se um Pinheiros, com áreas valorizadas nas margens. "Peixinho não vai ter, mas em 2020 o rio estará limpo e os caminhões vão passar no Rodoanel. Aquela região tem tudo para trocar as garagens de caminhão por prédios de escritório."

Com poluição, sem futuro
Julio Cerqueira Cesar Neto, professor aposentado de engenharia hidráulica da Poli e consultor, diz não ver a menor condição para o Tietê virar um Sena. A questão central, para ele, é a qualidade da água que a Sabesp joga no rio. "O esgoto tratado que vai para o rio não passa de 22% do total despejado."
Segundo ele, a Sabesp trata 14 metros cúbicos por segundo de esgoto na região metropolitana, mas joga no rio outros 50 metros cúbicos sem tratamento. Esses números, conforme ele, não foram alterados na última década, nos governos de Geraldo Alckmin e José Serra, ambos do PSDB. Cerqueira Cesar e Porto só concordam num ponto: sem despoluir o rio, não há futuro para o Tietê.
A professora da Poli diz que pela primeira vez em seus 30 anos de carreira há um plano para o futuro. Ela cita quatro iniciativas: o programa Córrego Limpo, que visa recuperar os afluentes do Tietê, o parque linear, o projeto da Sabesp para aumentar o tratamento de esgoto e a construção da pista norte do Rodoanel. "É por isso que eu acho que em 2020 o Tietê estará como o Sena", diz.
Cerqueira Cesar, que chama a nova marginal de "gambiarra que vai ficar congestionada em seis meses", diz que as novas pistas deveriam preservar as margens do rio que foram concretadas no governo Alckmin.


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