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Obras na marginal engessam o futuro do rio
Para especialistas, Tietê se tornará rio urbano que deve ser despoluído
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A nova marginal engessou o
futuro do rio Tietê, com pistas
que passam a três metros da
margem, segundo arquitetos
como Fábio Valentim.
O projeto de um rio que tenha uma memória do que ele
foi um dia, com margens que
alagavam e locais para prática
de esportes, é só uma utopia. O
futuro do Tietê, na melhor das
hipóteses, é tornar-se um rio
urbano, como o Sena em Paris,
o Tâmisa em Londres e o Hudson em Nova York, de acordo
com pesquisadores como a engenheira Monica Porto.
"Essa ideia de rio urbano não
é necessariamente ruim", diz
ela, chefe do departamento de
engenharia hidráulica da Escola Politécnica da USP e coordenadora de dois dos planos para
a bacia do Alto Tietê, encomendados pelo governo do Estado.
"O Sena e o Tâmisa estão colados à rua e ninguém reclama."
Valentim, do escritório de arquitetura Una, premiado na
Bienal de Veneza, tem uma visão oposta à da engenheira:
"Com a nova marginal, o rio vai
piorar do ponto de vista ambiental e paisagístico. Podiam
até alargar a marginal, como
um ato emergencial, mas não
há plano para o futuro."
Para ele, a ausência de planos
é decorrência da prática -"de
todos os partidos", como frisa-
de realizar obras de olho nas
próximas eleições. "Não existe
projeto urbano que possa ser
feito em quatro, cinco anos.
Precisa de 40, 50. Como aqui
tudo é ditado pelas campanhas
políticas, não há urbanismo."
Porto, que se diz otimista,
acha que o Tietê tem tudo para
tornar-se um Pinheiros, com
áreas valorizadas nas margens.
"Peixinho não vai ter, mas em
2020 o rio estará limpo e os caminhões vão passar no Rodoanel. Aquela região tem tudo para trocar as garagens de caminhão por prédios de escritório."
Com poluição, sem futuro
Julio Cerqueira Cesar Neto,
professor aposentado de engenharia hidráulica da Poli e consultor, diz não ver a menor condição para o Tietê virar um Sena. A questão central, para ele,
é a qualidade da água que a Sabesp joga no rio. "O esgoto tratado que vai para o rio não passa de 22% do total despejado."
Segundo ele, a Sabesp trata
14 metros cúbicos por segundo
de esgoto na região metropolitana, mas joga no rio outros 50
metros cúbicos sem tratamento. Esses números, conforme
ele, não foram alterados na última década, nos governos de
Geraldo Alckmin e José Serra,
ambos do PSDB. Cerqueira Cesar e Porto só concordam num
ponto: sem despoluir o rio, não
há futuro para o Tietê.
A professora da Poli diz que
pela primeira vez em seus 30
anos de carreira há um plano
para o futuro. Ela cita quatro
iniciativas: o programa Córrego
Limpo, que visa recuperar os
afluentes do Tietê, o parque linear, o projeto da Sabesp para
aumentar o tratamento de esgoto e a construção da pista
norte do Rodoanel. "É por isso
que eu acho que em 2020 o Tietê estará como o Sena", diz.
Cerqueira Cesar, que chama
a nova marginal de "gambiarra
que vai ficar congestionada em
seis meses", diz que as novas
pistas deveriam preservar as
margens do rio que foram concretadas no governo Alckmin.
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