São Paulo, sexta-feira, 26 de junho de 2009

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Esquisitice aumentou alvoroço no Brasil

Cantor fez dois shows no Morumbi em 93 e gravou clipe com Spike Lee em 96

Aos nove anos, Junior, da dupla com Sandy, perdeu parte da adoração pelo rei do pop ao participar de show e ver "sua cara branca"


LÚCIO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O nariz estranho, a pele esbranquiçada e esquisita, o risoto de polvo com pedaços de pimentão no almoço do hotel.
Cercado pela sua grandiosidade pop e muito também pelos aspectos bizarros que marcavam sua persona, Michael Jackson chegou ao Brasil em outubro de 1993 para dois intensos shows no Morumbi.
O forte ruído da presença do ícone jovem no país viria não só de sua pegajosa, dançante e ultra-rentável música mas de tudo o que compunha o "estranho mundo de Michael". Do garçom subornado para revelar suas refeições ao lixo revirado no hotel em que o cantor estava hospedado, tudo era notícia.
Era a segunda das três visitas que o cantor faria ao país. A primeira foi com os irmãos da formação Jackson 5, em 1974. Mas, ali em 1993, Michael Jackson era MICHAEL JACKSON. E a turnê era "Dangerous".
No embaraçoso calor das primeiras acusações de pedofilia nos EUA, ele desembarcou no Brasil e foi recebido com flores por Junior, da dupla Sandy & Junior, com nove anos à época.
"O promotor do show [Dody Sirena, empresário de Roberto Carlos] de Michael Jackson no Brasil sabia que eu era muito fã e me chamou para ir recebê-lo no aeroporto. Cheguei lá, me levaram até a porta do avião, entreguei um buquê que me deram e disse "oi" para o Michael. Ele só riu", lembra Junior.
No segundo show do Morumbi, Junior ficou ao lado de Jackson no palco, durante a música "Heal the World". O artista mirim havia sido treinado para executar a linguagem dos surdos-mudos na canção.
"Lembro que me atrapalhei todos nos sinais. E deixei o palco de mãos dadas com o Michael. Eu era superfã, mas confesso que, vendo ele ali perto de mim, todo esquisito, cheio de maquiagem branca na cara, deu uma esfriada na adoração."
A passagem pelo Brasil foi devastadora, não só pelas duas horas de show nos dia 15 e 17 de outubro daquele ano, que reuniram perto de 180 mil pessoas.
Assim que botou os pés em São Paulo, o cantor foi brincar no Playcenter, com o parque fechado só para ele. Também foi visitar a fábrica da Estrela para comprar brinquedos "para doar às criancinhas brasileiras". Na saída, um dos furgões da comitiva que fazia a segurança atropelou dois fãs, um de 14 e outro de 15 anos, quebrando a perna do mais velho.
No dia seguinte, Jackson foi visitar o garoto Marcio Alberto de Paula no hospital. A produção do show entregou ao menino um cheque para ajudar nos custos de sua recuperação.
O Rei do Pop voltaria ao Brasil três anos depois, para gravar o vídeo de "They Don't Care about Us", do álbum "HIStory" (95). O cineasta Spike Lee foi o responsável pelas filmagens.
Jackson botou o grupo Olodum para tocar tambores pelas ruas do Pelourinho, em Salvador, e depois ainda gravou na favela Dona Marta, no Rio, quando conseguiu a liberação do traficante Marcinho VP.
No fim, ele fez história no Brasil mais pelos bastidores de suas visitas do que pelos shows.


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