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A morte mais lenta da história do showbizz
Jackson pagou alto preço pelo dom do fogo criativo
JOÃO MARCELLO BÔSCOLI
ESPECIAL PARA A FOLHA
O artista é um ser com
aptidões contraditórias. Por um lado, é um
"homem comum" com apetites, desejos, frustrações, contas
para pagar. Por outro, é um homem em um sentido maior: um
"homem-coletivo". Aquele que
capta e dá forma ao inconsciente da raça humana e o devolve
sob a forma de uma obra de arte. E a realização dessa tarefa
mobiliza uma grande quantidade de energia.
É como se fossem dotados de
um certo capital de energia ao
nascer, e o lado que precisa realizar essa tarefa sobre-humana
tentasse tomá-la integralmente para si.
Nada pode impedir a execução de sua missão -muito menos o lado humano. Este é visto
quase como um erro, uma limitação do artista.
Talvez, por isso, os artistas
permaneçam infantis e vaidosos depois de adultos, desenvolvendo uma série de más características e idiossincrasias
no campo pessoal, para evitar
que o "homem comum" desperdice energia e tempo, atrapalhando sua jornada. De certa
forma, ele se torna sua obra.
"Fausto" define Goethe, "Billie Jean" define MJ -e não o
contrário. O artista permite
que a obra se manifeste através
de si -e não o contrário.
Como regra, a vida do artista
é altamente insatisfatória -para não dizer trágica-, afinal,
duas forças opostas duelam o
tempo todo dentro dele, tentando tomar o poder. Há de se
pagar um alto preço pelo dom
do fogo criativo.
A dualidade dos sexos é fundamental para a concepção de
um novo ser, assim como a razão e a loucura são necessárias
para a criação artística.
Pode ser ou parecer uma limitação o tal lado humano, mas
ao costurar sua fantasia em seu
próprio corpo, Michael Jackson abriu mão de sua dualidade, da energia gerada entre os
extremos e, consequentemente, de sua fonte criativa.
Foi a morte mais lenta da história do show-business.
Baseado em um texto de Carl Jung
JOÃO MARCELLO BÔSCOLI é produtor-executivo do selo Trama
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