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GASTOS PÚBLICOS
Presidente aumentou valores nominais, mas manteve percentual do PIB dedicado ao setor
No social, FHC gasta o mesmo que Itamar
da Reportagem Local
O governo do presidente Fernando Henrique Cardoso aumentou, em valores nominais, os gastos sociais. Mas, quando se compara o investimento com o crescimento de todas as riquezas produzidas no país (o PIB), os recursos
estão estacionados no mesmo patamar de 1994.
A área de educação e cultura, tida como menina dos olhos do governo, perdeu 20,5% dos recursos
entre 1994 e 1997.
A conclusão é de um organismo
do próprio governo, o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento.
Em valores nominais, o gasto social do governo federal passou de
R$ 80,9 bilhões em 1994 para R$
111,4 bilhões no ano passado, um
aumento de 37,8%.
Mas, quando esses valores são
confrontados com o aumento o
PIB, o discurso de FHC de ênfase
no social não pára de pé. Em 1994,
último ano do governo de Itamar
Franco, o gasto social correspondia a 11,7% do PIB. No ano passado, FHC aplicou na área social o
equivalente a 11,9% do PIB.
Caso sejam contabilizadas as
despesas financeiras, decorrentes
do aumento dos juros no final do
ano passado, o gasto social sobe
para 11,8% do PIB em 94 e 12,5%
em 1997. Como aumento de juros
não é política social, optou-se pelo
percentual sem essas despesas.
Gasto social, segundo o critério
seguido por Maria Alice da Cunha
Fernandes, que coordenou a pesquisa do Ipea, engloba desde benefícios da previdência, gastos em
saúde e educação a investimentos
em ciência e tecnologia (leia quadro ao lado com todas as áreas).
Esse critério elástico, segundo
Fernandes, não foi inventado pelo
Ipea. É uma norma internacional,
para poder comparar os gastos de
diferentes países.
O Ipea não contabilizou os gastos por ministérios, mas pela finalidade que o recurso tem. Aposentadoria de professores entra como
benefício a servidores inativos,
não como educação. Gastos com
hospitais universitários estão na
rubrica saúde, não educação.
Previdência lidera
A maior fatia dos gastos sociais é
consumida pela previdência (45%,
em média). A rigor, deveria ser
considerado gasto social só o déficit da previdência. O que não é déficit é dinheiro do contribuinte
que o governo recolheu durante
sua vida profissional.
Previdência e benefícios a servidores inativos representam pouco
mais de 60% dos gastos sociais. No
ano passado, consumiram 64,4%.
O restante tem de ser dividido por
outras dez áreas.
A área em que houve o maior aumento no período de FHC foi a de
habitação e urbanismo -333,3%.
A razão desse crescimento, segundo Fernandes, é que o investimento era muito baixo no governo
Collor, porque tentava-se sanear o
FGTS (Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço), de onde saem
recursos para a habitação. O investimento de FHC subiu tanto
porque não se gastava quase nada
em habitação no governo Collor.
A reforma agrária foi a área em
que houve o segundo maior aumento de gastos nos três primeiros anos do governo FHC
(166,1%). O governo esbraveja
contra as invasões do MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra), mas, consequência ou
não, os gastos com a reforma
agrária saltaram de R$ 580,5 milhões em 1994 para R$ 1,54 bilhão
no ano passado.
A queda em educação, segundo
Fernandes, pode ser uma decorrência de transferências federais
para Estados e municípios -a
pesquisa não contabiliza os gastos
sociais nessas duas esferas.
O economista Sérgio Piola, que
pesquisa políticas sociais para o
Ipea, diz que não ocorreram grandes mudanças nos gastos sociais
no governo FHC "porque é muito
difícil realocar recursos" nessa
área. "Como a previdência, educação e saúde representam mais
de 80% dos recursos, a margem de
manobra é pequena", afirma.
O que mudou, segundo Piola, foi
o impacto do gasto após o Plano
Real. Antes, a inflação consumia
parte dos recursos.
O Real foi também a mais efetiva
política social de FHC. A estabilização da moeda dobrou a renda
dos mais pobres nas regiões metropolitanas. O aumento de juros
no final do ano passado, porém,
deteriorou os ganhos e deixou um
rastro de desemprego e redução de
renda.
(MARIO CESAR CARVALHO)
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