São Paulo, domingo, 27 de julho de 2008

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inquietações

Maiores medos são a morte e violência

60% DOS JOVENS TEMEM SAIR DE CASA; 30% DO TOTAL E 49% DOS MAIS RICOS JÁ FORAM VÍTIMAS DE ASSALTO

[por Vinicius Torres Freire, colunista da Folha]

"Atenção para o refrão/É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte", cantava a desgrenhada e hippie Gal Costa, 23, pouco antes da decretação do Ato Institucional número 5, o decreto liberticida da ditadura militar baixado no interminável ano de 1968. Era o refrão de "Divino Maravilhoso", canção com a qual Gal e Caetano Veloso disputavam o Festival da Record daquele ano, auge do tropicalismo e da rebelião de uma minoria dos jovens.
Quarenta anos depois, o Instituto Datafolha perguntou aos brasileiros de 16 a 25 anos sobre seus medos, sonhos, gostos, pessoas que admiram e opiniões sobre questões sociais controversas como pena de morte, aborto e drogas. Em mais uma ironia da história das ilusões sobre os jovens, de 1968 ou de 2008, moças e rapazes disseram que seu maior medo é mesmo o da morte.

Morte
Em geral, as respostas da pesquisa nem sugerem muita fantasia nem idéias divergentes. Os jovens ouvidos têm a mesma opinião do que o total da população sobre a proibição do aborto, fumar maconha e também sobre a pena de morte.
Somado ao medo da perda final de parentes e outras pessoas próximas, o medo da morte representou 40% das respostas ao Datafolha.
"Atenção para o sangue sobre o chão/Atenção/Tudo é perigoso/Tudo é divino maravilhoso", cantavam Gal e Veloso, tratando, no entanto, de perigos e maravilhas na visão existencialista pop avacalhada do tropicalismo. Os perigos e o sangue muito concretos da realidade de 2008, porém, não parecem afetar tanto os jovens ouvidos pelo Datafolha.
"Violência" é o terceiro maior medo, mas foi citado por apenas 13%.

Assalto
O número impressiona mais porque quase um de cada três jovens diz já ter sido assaltado. Diz ter sido vítima do mesmo crime a metade dos jovens das famílias com renda superior a R$ 4.150 por mês -dez salários mínimos.
Quando o Datafolha indaga sobre o medo de sair de casa, o quadro muda um pouco: 26% dos jovens dizem ter "muito medo" de sair de casa (18% no caso dos rapazes, 33% no caso das moças).
Mesmo assim, e obviamente, 74% dizem não ter "muito medo": 40% "não têm medo" e 34% têm "algum medo", o que dá a impressão de razoável tranqüilidade, dados os riscos de fato e a experiência real de violência dos jovens.
"Muito medo" de sair de casa é mais freqüente entre os casados (34%) e com filhos (33%) do que entre os solteiros (23%) e sem fi lhos (24%). De mais intrigante, os jovens nordestinos são muito mais temerosos (33% de "muito medo") que os do Sudeste (18%).
"Desemprego" é apontado como o maior temor de apenas 7% dos jovens; o medo de não encontrar trabalho é maior entre os que têm curso superior, o que parece compreensível, dadas as ansiedades dos recém-formados.


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