São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

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Ciências da saúde

Centros urbanos têm mais cursos e menos vagas

Longe de metrópole e em programa do governo, salários são melhores

RENATA DE GÁSPARI VALDEJÃO
Colaboração para a Folha

Apesar de concentrarem as ofertas de cursos de pós-graduação, os grandes centros urbanos não conseguem absorver tantos especialistas em saúde.
A Organização Mundial da Saúde considera ideal que uma rede de atenção à saúde tenha 1 médico para cada 1.000 habitantes. No Brasil, a relação é de 1/455 na região Sudeste. Rio de Janeiro (1/302) e Distrito Federal (1/309) são os que apresentam a maior concentração de profissionais, seguidos por São Paulo (1/471).
Já no interior do Pará, a relação é de 1 médico para 4.466 moradores, segundo dados compilados pelo CFM (Conselho Federal de Medicina).
"Há uma superlotação de especialistas nos grandes centros", diagnostica Genário Alves Barbosa, diretor-tesoureiro e coordenador da comissão de ensino médico do CFM.
Uma das explicações, diz, é cultural. "A grande maioria dos profissionais simplesmente não quer ir para o interior."
A recusa não leva em conta nem o fato de que, longe das metrópoles, os salários podem ser melhores. Segundo José Erivalder de Oliveira, secretário-geral da Fenam (Federação Nacional dos Médicos), em São Paulo, a média salarial é de R$ 1.700 a R$ 2.000 por 20 horas semanais. Em Osasco, o valor sobe para R$ 3.100.
"Estamos discutindo com o Ministério da Saúde um plano de carreira para o médico, o que deverá minimizar a má distribuição", afirma Barbosa.
Com o plano, transferências, salários e condições de trabalho seriam previamente estabelecidos, o que daria segurança a quem quisesse migrar.
Outra explicação para a concentração é a falta de cursos de especialização em algumas regiões, diz o presidente da Associação Médica Brasileira, José Luiz Gomes do Amaral.
"Nossos programas são muito curtos, e os profissionais se tornam obsoletos rapidamente. Acontece que é nos grandes centros que está a maioria das escolas", explica.

O melhor salário
Uma iniciativa do governo federal -o Programa Saúde da Família- é apontada por especialistas como uma das melhores medidas para minimizar a falta de profissionais em algumas regiões brasileiras.
O programa tem equipes com um médico, um enfermeiro e um auxiliar de enfermagem, além de agentes comunitários de saúde. Dependendo do município, há dentistas.
O salário é o melhor do país, segundo a Fenam: de R$ 5.000 a R$ 8.000 (40 horas/semana). Dados do Ministério da Saúde mostram que a população coberta aumentou de 6,55%, em 1988, para 46,19% em 2006.
O Nordeste teve o crescimento mais elevado, pulando de 9,32% para 67,2%. Em cidades com menos de 20 mil habitantes, 65% deles eram atendidos pelo programa em 2004, contra 27,5% nas cidades com mais de 80 mil habitantes.

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