São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006 |
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A Neta do Cuspida
Clarah Averbuck
Tenho problemas com futebol. Não o tipo de problema comum, de histeria e lágrimas, fogos e testosterona, alegria e tristeza. Eu nunca gostei de futebol. "Pra que time você torce?" "Eu torço para o futebol acabar", diria meu amigo Marcelo Mirisola. Mas não é tanto assim. Oquei, talvez seja. Sempre teve alguma coisa em mim que me fazia fugir do futebol. E agora me pediram (logo eu!) para escrever sobre esse esporte tão barulhento quer dizer, na verdade, barulhentos são os torcedores, que gritam, urram e soltam fogos no meio da noite, acordando a minha filha, assustando meus gatos e enchendo o meu saco. Mas não era só isso que me incomodava. Tinha algo mais profundo. E agora, neste momento, acabo de ter uma epifania: eu não gosto de futebol porque sou neta do Cuspida. Antes que saiam achando por aí que o Cuspida também não gostava de futebol e que é tudo uma questão de genética, já esclareço: o Cuspida não só amava futebol, como praticava. E não que nem você, na várzea do lado de casa, não. Ele era jogador, e dos melhores. Foi campeão pelo Renner em 54 e depois jogou grandiosamente no Grêmio, e era um típico zagueiro gaúcho, nada de futebol arte, nada de firula, só raça. (Gostaria de esclarecer que estou copiando fielmente o que diziam os jornais da época que meu pai me passou, porque não sei o que estou dizendo. Obrigada) |
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