São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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MENOS PARA QUEM TEM MENOS

Áreas pobres têm serviços piores

Moradores da periferia avaliam pior os serviços públicos; oferta de lazer e conservação de ruas são melhores em áreas nobres

Henrique Marenza/Folha Imagem
Ônibus percorre rua de Marsilac, o distrito mais pobre da cidade

DA REPORTAGEM LOCAL

Quanto mais pobre o bairro, piores são os serviços públicos. Nas áreas "nobres", tudo é muito melhor. Isso é o que dizia o senso comum. Agora, a opinião é comprovada pela percepção do morador apontada na pesquisa do instituto Datafolha.
Nas áreas mais ricas, os moradores avaliam melhor os serviços públicos que nos distritos mais pobres e periféricos.
O contraste é mais visível quando se avaliam serviços não-prioritários, como áreas de lazer, atividades de cultura e ações para jovens e idosos.
A pior nota (1,9) para áreas de lazer (parques, praças, centros esportivos e culturais, etc.) é do Lajeado (extremo leste), onde 35% dos moradores vivem com até dois salários mínimos mensais e 43% estão desempregados ou subempregados.
A melhor nota para este item vem do Alto de Pinheiros (zona oeste), onde 73% dos moradores pertencem às classes A ou B e 31% têm renda superior a dez salários mínimos. O parque Villa-Lobos, por exemplo, fica no Alto de Pinheiros.
A Brasilândia, distrito com o pior índice de satisfação da cidade, tem a terceira pior nota para o item áreas de lazer. Essa é uma das brigas da aposentada Maria Nazareth da Silva, 69, fundadora de uma ONG que atende pessoas carentes.
"Aqui falta tanta coisa... Não tem uma área de lazer para as crianças brincarem, para elas fazerem um esporte. Já lutei para ver se conseguia um espaço para elas, mas não consegui", diz Maria Nazareth.
O cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), aponta que a falta de poder de pressão dos moradores é um dos fatores que faz com que o serviço seja pior na periferia. Outro aspecto a considerar é a falta de interesse dos políticos no desenvolvimento das regiões onde eles atuam.
"Como é a relação do político com a comunidade? Ele procura resolver os problemas da comunidade ou atua somente como despachante local? Há casos em que ele não quer que o problema seja resolvido para que ele possa ajudar individualmente cada cidadão", diz.
Segundo ele, as notas apontadas na pesquisa demonstram que o governo não atua como deveria nas regiões mais carentes porque, quando há uma intervenção governamental para melhorar alguma área, "a população não tem como omitir".
A conservação das ruas e avenidas é outro exemplo de como as áreas mais ricas têm melhor avaliação dos serviços públicos. O tema obtém sua pior avaliação no distrito de Marsilac (extremo sul), que tem os mais baixos índices socioeconômicos da capital -mais da metade da população vive com até 2 salários mínimos (54%) e está desempregada ou subempregada (51%). Alto de Pinheiros tem também a melhor avaliação para a conservação de ruas.

Sem governo
"As necessidades são maiores na periferia, onde o poder público não se faz tão presente", afirmou Mário Pascarelli, coordenador do curso de gerente de cidade da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado). "O governo governa para os ricos, não para os pobres. Não estou falando deste ou daquele governo, mas de todos os governos. Não há presença governamental na periferia."
Andrea Matarazzo, secretário das Subprefeituras, contesta. Para ele, a impressão de que não há ação do governo na periferia apontada, por exemplo, nas baixas avaliações da limpeza pública e da conservação das ruas, se dá pela própria desorganização dos bairros.
"A sensação de limpeza é pior porque a área é mais desorganizada, tem mais terreno baldio, mais mato", afirmou.
Matarazzo aponta ainda que a ocupação irregular de áreas periféricas, como regiões de mananciais, impede a realização de investimentos públicos. "Eu só posso fazer contrato de varrição em ruas oficiais. Se a área é irregular, não tem como varrer", disse Matarazzo.
Para o coordenador do curso de gerente de cidade, "é fácil dizer que os problemas são maiores porque a ocupação é irregular". "A administração deixa acontecer [a ocupação] e depois força uma situação de não dar atenção para ver se o invasor se toca e vai embora", afirmou Pascarelli. (ES)

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