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MENOS PARA QUEM TEM MENOS
Áreas pobres têm serviços piores
Moradores da periferia avaliam pior os serviços públicos; oferta de lazer e conservação
de ruas são melhores em áreas nobres
Henrique Marenza/Folha Imagem
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Ônibus percorre rua de Marsilac, o distrito mais pobre da cidade
DA REPORTAGEM LOCAL
Quanto mais pobre o bairro,
piores são os serviços públicos.
Nas áreas "nobres", tudo é muito melhor. Isso é o que dizia o
senso comum. Agora, a opinião
é comprovada pela percepção
do morador apontada na pesquisa do instituto Datafolha.
Nas áreas mais ricas, os moradores avaliam melhor os serviços públicos que nos distritos
mais pobres e periféricos.
O contraste é mais visível
quando se avaliam serviços
não-prioritários, como áreas de
lazer, atividades de cultura e
ações para jovens e idosos.
A pior nota (1,9) para áreas de
lazer (parques, praças, centros
esportivos e culturais, etc.) é do
Lajeado (extremo leste), onde
35% dos moradores vivem com
até dois salários mínimos mensais e 43% estão desempregados ou subempregados.
A melhor nota para este item
vem do Alto de Pinheiros (zona
oeste), onde 73% dos moradores pertencem às classes A ou B
e 31% têm renda superior a dez
salários mínimos. O parque Villa-Lobos, por exemplo, fica no
Alto de Pinheiros.
A Brasilândia, distrito com o
pior índice de satisfação da cidade, tem a terceira pior nota
para o item áreas de lazer. Essa
é uma das brigas da aposentada
Maria Nazareth da Silva, 69,
fundadora de uma ONG que
atende pessoas carentes.
"Aqui falta tanta coisa... Não
tem uma área de lazer para as
crianças brincarem, para elas
fazerem um esporte. Já lutei
para ver se conseguia um espaço para elas, mas não consegui", diz Maria Nazareth.
O cientista político Marco
Antônio Carvalho Teixeira, da
FGV (Fundação Getúlio Vargas), aponta que a falta de poder de pressão dos moradores é
um dos fatores que faz com que
o serviço seja pior na periferia.
Outro aspecto a considerar é a
falta de interesse dos políticos
no desenvolvimento das regiões onde eles atuam.
"Como é a relação do político
com a comunidade? Ele procura resolver os problemas da comunidade ou atua somente como despachante local? Há casos em que ele não quer que o
problema seja resolvido para
que ele possa ajudar individualmente cada cidadão", diz.
Segundo ele, as notas apontadas na pesquisa demonstram
que o governo não atua como
deveria nas regiões mais carentes porque, quando há uma intervenção governamental para
melhorar alguma área, "a população não tem como omitir".
A conservação das ruas e avenidas é outro exemplo de como
as áreas mais ricas têm melhor
avaliação dos serviços públicos.
O tema obtém sua pior avaliação no distrito de Marsilac (extremo sul), que tem os mais
baixos índices socioeconômicos da capital -mais da metade
da população vive com até 2 salários mínimos (54%) e está desempregada ou subempregada
(51%). Alto de Pinheiros tem
também a melhor avaliação para a conservação de ruas.
Sem governo
"As necessidades são maiores na periferia, onde o poder
público não se faz tão presente", afirmou Mário Pascarelli,
coordenador do curso de gerente de cidade da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado). "O governo governa para os ricos, não para os pobres.
Não estou falando deste ou daquele governo, mas de todos os
governos. Não há presença governamental na periferia."
Andrea Matarazzo, secretário das Subprefeituras, contesta. Para ele, a impressão de que
não há ação do governo na periferia apontada, por exemplo,
nas baixas avaliações da limpeza pública e da conservação das
ruas, se dá pela própria desorganização dos bairros.
"A sensação de limpeza é
pior porque a área é mais desorganizada, tem mais terreno
baldio, mais mato", afirmou.
Matarazzo aponta ainda que
a ocupação irregular de áreas
periféricas, como regiões de
mananciais, impede a realização de investimentos públicos.
"Eu só posso fazer contrato de
varrição em ruas oficiais. Se a
área é irregular, não tem como
varrer", disse Matarazzo.
Para o coordenador do curso
de gerente de cidade, "é fácil dizer que os problemas são maiores porque a ocupação é irregular". "A administração deixa
acontecer [a ocupação] e depois força uma situação de não
dar atenção para ver se o invasor se toca e vai embora", afirmou Pascarelli.
(ES)
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