São Paulo, segunda-feira, 28 de outubro de 2002

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ADMINISTRAÇÃO

Partido comanda atualmente 186 prefeituras, controla 5 governos estaduais e governa 33 milhões de pessoas

No poder, PT inova e conhece escândalos

CHICO DE GOIS
ROBERTO COSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em seus 22 anos de existência, o PT introduziu grandes inovações na administração de municípios e Estados, sempre com ênfase em projetos sociais. Mas, por outro lado, o partido reproduziu práticas que antes combatia e acabou por protagonizar alguns escândalos nacionais.
Hoje, o PT administra 186 municípios, incluindo sete capitais, onde vivem cerca de 33 milhões de pessoas. O partido também governa cinco Estados, cuja população soma 27 milhões de habitantes. Em 1982, quando começou a gerir cidades, o partido conquistara apenas Diadema (SP) e Santa Quitéria (MA). Somadas, as duas cidades tinham só 250 mil habitantes.
Nesses 20 anos de prática administrativa, a legenda se notabilizou por cunhar marcas que exibe com orgulho, como a implementação do programa Renda Mínima e do Orçamento Participativo -este permite à população escolher o destino de um percentual ínfimo do Orçamento dos municípios e de alguns Estados.
Além disso, administrações públicas do partido também receberam vários prêmios internacionais por idéias criativas para solucionar problemas da população, geralmente por meio de projetos sociais.
Mas o exercício do poder também fez o partido adotar as mesmas práticas que criticava quando estava na oposição. Acostumados a serem os primeiros a atirar pedras nas administrações dos adversários, ao assumirem prefeituras e Estados, os petistas não escaparam de acusações de irregularidades que, em alguns casos, se tornaram grandes escândalos.
As pedradas mais recentes tiveram como vidraça a Prefeitura de Santo André, onde haveria um esquema de extorsão de empresários de ônibus em benefício dos cofres partidários.
Várias outras prefeituras também foram alvo de suspeitas. Na edição de 30 de setembro, a Folha informou que pelo menos 17 das 39 cidades administradas pelo PT no Estado de São Paulo contrataram empresas ligadas a petistas.
Na Prefeitura de São Paulo, os petistas contrataram, para ajudar na limpeza urbana da cidade, uma empresa que havia sido aberta um mês antes e estava em nome de um serralheiro e de um estudante de 21 anos.
Na Prefeitura de Ribeirão Preto, um secretário foi exonerado sob suspeita de negociar benefícios para uma empreiteira contratada pelo município.
O governo do Estado de Mato Grosso do Sul foi acusado de desviar recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para campanhas de petistas. Já o governo do Rio Grande do Sul sofreu denúncias de facilitar o trabalho de banqueiros do jogo do bicho, que é ilegal.
Uma piada corrente entre não-petistas tenta exemplificar a dualidade petista de ser. De acordo com a anedota, se um governante de outro partido distribui cargos entre aliados para aprovar projetos, é "fisiologismo". Se o governante for do PT e fizer a mesma coisa, é "acordo político".
Da mesma forma, o parlamentar que pede a devolução de parte do salário de seus funcionários de gabinete cobra "pedágio"; mas, se for petista, promove "redistribuição de recursos". E os "funcionários-fantasmas" são tidos pelos petistas como "liberados para atuar nas bases sociais".
Outras duas práticas são características do PT no governo: reuniões e discussões. Para os petistas, as reuniões não constituem um defeito, mas uma prova de democracia e amadurecimento.
Quanto às discussões, nestes 20 anos, não foram poucos os que deixaram o partido por não suportarem a pressão -ou intromissão, como classificam alguns: Gilson Menezes, de Diadema (SP); Luiza Erundina, de São Paulo; Jacó Bittar, de Campinas; Maria Luiza Fontenelle, de Fortaleza; e Maurício Soares, de São Bernardo do Campo, entre outros.
Os petistas procuram seguir uma espécie de cartilha sobre o jeito de administrar. Cabe à Secretaria Nacional de Assuntos Institucionais (SNAI) "acompanhar e recolher informações da atuação dos governos municipais administrados pelo partido, fomentar o debate de políticas públicas e prestar orientações".
É por meio dessa secretaria que as prefeituras fazem uma espécie de clonagem de outras práticas petistas. "Há cinco anos, a coqueluche da vitrine petista era a cidade de Porto Alegre; depois, passou a ser Santo André", afirma Vicente Trevas, secretário da SNAI.


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