São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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ANDRÉ ALBUQUERQUE - 1º LUGAR

Moderador de conflitos

Advogado cria metodologia para resolver conflitos de posse da terra, com melhoria da qualidade de vida nas periferias

BRUNA MARTINS FONTES
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA

A fala suave e o ouvido atento são os trunfos do curitibano André Albuquerque, 42, para fazer uma disputa acabar em acordo, em vez de virar um confronto. E olha que as brigas que ele compra não são pequenas -medem-se em hectares.
De um lado estão famílias que moram em áreas ocupadas irregularmente e que não têm a posse legal dos terrenos. De outro, os proprietários das terras.
No meio, um advogado que tem o equilíbrio como norte. "Se é para entrar num caso para brigar, prefiro nem começar", diz André, com a serenidade de quem se define um idealista.
Ele desenvolveu uma metodologia de atuação legal para agilizar o processo de dar título de propriedade aos ocupantes e indenizar os proprietários.
Esse é o foco da empresa que fundou, a Terra Nova Regularizações Fundiárias, que, em seus sete anos, soma 30 mil contratos de regularização.
André gosta de dizer que a providência marcou a trajetória. Seguindo a veia da família, formou-se advogado, como 2 de seus 3 irmãos, tios e primos. Na Prefeitura de Pinhais (PR), iniciou-se em questões fundiárias. "Não elegi fazer media-ção, a vida me pôs nisso."
Ao ficar sem o emprego, resolveu abrir uma empresa social com fins lucrativos. Não só porque já era pai de três filhos mas também para ser mais independente do poder público.
A Terra Nova recebe uma porcentagem do valor do terreno que regulariza e reinveste parte do lucro na comunidade. Os moradores pagam, em parcelas, pela posse da terra.
"O mal não é ganhar dinheiro, e sim acumular riqueza. O que a empresa angaria tem de ser devolvido, gerar potencial para atender outros lugares. Se ela tivesse US$ 1 bilhão, estaria na África, na América Latina."
Sua idéia é capitalizar quem não tem capital. Quando o ocupante vira dono, pode ter acesso a financiamentos bancários. A comunidade, legalizada, passa a ter direito a melhorias como asfaltar e sanear ruas. "Quando se junta a comunidade para pressionar o poder público, exerce-se força política."

Equilíbrio energético
A resolução de disputas tem também outro significado para André. "O conflito entre a vila e o proprietário cria uma atmosfera desfavorável. Quando o dissolvemos, ela se harmoniza energeticamente. O ser humano, equilibrado, prospera."
Seguindo essa filosofia, o advogado atua no primeiro projeto de reassentamento integral de famílias em grandes obras.
A experiência inicial se dá com ribeirinhos atingidos pelas obras da usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Porto Velho. Segundo André, é o começo de um trabalho-modelo que deve ser levado para a África.
"Eu miro o mundo", diz, à espera, com a segunda mulher, do quarto filho. Uma geração que ele acredita já nascer melhor.


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