|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOAQUIM DE MELO NETO - 2º LUGAR
Realeza na periferia
Teólogo e líder comunitário cria modelo inovador para dinamizar a economia de áreas carentes o capital na comunidade
CÁSSIO AOQUI
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA
João Joaquim de Melo Neto
Segundo. O nome é de realeza,
mas foi nos grotões do Nordeste que o líder comunitário encontrou o maior tesouro de sua
vida: a luta contra a pobreza.
Filho de pai andarilho, Joaquim, 46, como prefere ser chamado, nasceu em Recife e se
criou em Belém, mas só encontrou "a parte que lhe cabia nesse latifúndio" em um lixão na
periferia de Fortaleza, para onde se mudou aos 22 anos com
o objetivo de se formar padre.
Abandonou a batina, mas não
sem antes prometer ao cardeal
que dedicaria sua vida aos pobres -promessa que cumpre
todos os dias há exatos 24 anos
no esquecido Conjunto Palmeira, a 18 km da capital.
"Para mim, este é o canto
mais lindo do mundo", diz, com
o sorriso de "garoto cearense".
Baseado na crença de que
"não há pobres, mas, sim, pessoas que empobrecem", desenvolveu um sistema econômico
local de enfrentamento da pobreza. Em 1998, criou o primeiro banco comunitário de finanças solidárias do país, o Palmas.
"O Conjunto Palmeira tinha
sua riqueza, mas todo dinheiro
que entrava saía, como em um
balde furado. O pressuposto do
banco comunitário é ser a rolha
do balde", define Joaquim.
O desafio lançado era desenvolver a economia do bairro a
partir da criação de uma rede
de "prossumidores" (produtores e consumidores). Para fomentar a geração de renda, lançou instrumentos como crédito
com garantia baseada na palavra da vizinhança, suporte à
criação de empresas comunitárias e qualificação profissional.
Também trouxe a inovação
da moeda social local, o palma,
que circula apenas na comunidade-alvo do banco, a fim de estimular a poupança interna.
Mil bancos
A experiência deu certo: hoje
são 32 bancos comunitários no
país, geridos pelo Instituto Palmas, inaugurado em 2005.
Sonhador e visionário, gesticulador e articulador, Joaquim
tem consciência de que essa
jornada está apenas no começo.
Mas não pensa em tomar outro
rumo: "O Instituto Palmas é a
minha vida. Abdiquei da vida
pessoal, nunca tirei férias, não
tive filhos, casei, descasei, casei
de novo, nem bom marido sou.
Mas me considero privilegiado
por conhecer minha missão".
A missão à qual o "moleque
cearense" se refere é criar um
grande movimento entre os excluídos no Brasil a fim de produzir riqueza e combater a pobreza pelo desenvolvimento.
"Minha tarefa hoje é criar mil
bancos comunitários. Temos
de levar essa metodologia para
o mundo", reitera Joaquim,
provando que a nobreza não
consta apenas de seu nome.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Quem é ele Índice
|