São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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JOAQUIM DE MELO NETO - 2º LUGAR

Realeza na periferia

Teólogo e líder comunitário cria modelo inovador para dinamizar a economia de áreas carentes o capital na comunidade

CÁSSIO AOQUI
ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA

João Joaquim de Melo Neto Segundo. O nome é de realeza, mas foi nos grotões do Nordeste que o líder comunitário encontrou o maior tesouro de sua vida: a luta contra a pobreza.
Filho de pai andarilho, Joaquim, 46, como prefere ser chamado, nasceu em Recife e se criou em Belém, mas só encontrou "a parte que lhe cabia nesse latifúndio" em um lixão na periferia de Fortaleza, para onde se mudou aos 22 anos com o objetivo de se formar padre.
Abandonou a batina, mas não sem antes prometer ao cardeal que dedicaria sua vida aos pobres -promessa que cumpre todos os dias há exatos 24 anos no esquecido Conjunto Palmeira, a 18 km da capital.
"Para mim, este é o canto mais lindo do mundo", diz, com o sorriso de "garoto cearense".
Baseado na crença de que "não há pobres, mas, sim, pessoas que empobrecem", desenvolveu um sistema econômico local de enfrentamento da pobreza. Em 1998, criou o primeiro banco comunitário de finanças solidárias do país, o Palmas.
"O Conjunto Palmeira tinha sua riqueza, mas todo dinheiro que entrava saía, como em um balde furado. O pressuposto do banco comunitário é ser a rolha do balde", define Joaquim.
O desafio lançado era desenvolver a economia do bairro a partir da criação de uma rede de "prossumidores" (produtores e consumidores). Para fomentar a geração de renda, lançou instrumentos como crédito com garantia baseada na palavra da vizinhança, suporte à criação de empresas comunitárias e qualificação profissional.
Também trouxe a inovação da moeda social local, o palma, que circula apenas na comunidade-alvo do banco, a fim de estimular a poupança interna.

Mil bancos
A experiência deu certo: hoje são 32 bancos comunitários no país, geridos pelo Instituto Palmas, inaugurado em 2005.
Sonhador e visionário, gesticulador e articulador, Joaquim tem consciência de que essa jornada está apenas no começo. Mas não pensa em tomar outro rumo: "O Instituto Palmas é a minha vida. Abdiquei da vida pessoal, nunca tirei férias, não tive filhos, casei, descasei, casei de novo, nem bom marido sou. Mas me considero privilegiado por conhecer minha missão".
A missão à qual o "moleque cearense" se refere é criar um grande movimento entre os excluídos no Brasil a fim de produzir riqueza e combater a pobreza pelo desenvolvimento.
"Minha tarefa hoje é criar mil bancos comunitários. Temos de levar essa metodologia para o mundo", reitera Joaquim, provando que a nobreza não consta apenas de seu nome.


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