São Paulo, sexta-feira, 28 de novembro de 2008

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RAQUEL BARROS - 3º LUGAR

Sementes da mudança

Com o sonho de ser mãe, psicóloga cria projeto que acolhe mães e filhos sob risco social

MARLENE PERET
ENVIADA ESPECIAL A SOROCABA

A psicologia e a maternidade sempre caminharam juntas na vida de Raquel Barros, 42.
Quando menina, já brincava de terapeuta com as amigas. E foi justamente ao precisar de um divã para si própria que se sentiu mãe pela primeira vez. "Em qualquer assunto, o tema central da minha terapia era sempre a maternidade. Eu dentro de mim mesma. Eu mãe, eu filha. Achava linda a mistura e me embalava", lembra.
Foi com esse movimento que ela edificou a Associação Lua Nova, em Sorocaba (SP), onde nasceu. Seu principal foco é o fortalecimento da relação mãe-filho para uma vida conjunta. "Empurrar o filho e ser puxado por ele remete à mudança."
O caminho escolhido foi o da geração de renda. "Sempre com viés social", completa Raquel. É fabricando bonecas ou sua própria casa que as meninas superam traumas e constroem a vivência de afeto com os filhos.
Mas o antigo sonho de ser mãe, o mesmo que fecundou a Lua Nova, precisou ser adiado. Dos 10 anos que viveu na Europa, 4 foram em tratamentos, sem sucesso. Triste, a psicóloga retornou ao Brasil para trabalhar ao lado de jovens mães em situação de risco social.
"Quero atuar com quem tem o que não tenho", pensou. Obra ou não do destino, dois anos depois que fundou a organização, descobriu que estava grávida das gêmeas Júlia e Sofia, 6.

Invisíveis
Para Raquel, "as meninas da lua" representam uma população que ninguém quer ver. "Coitadas, todos dizem." Daí o nome da entidade, que simboliza a mulher e o lado obscuro da lua -existente, mas invisível.
A idéia, pioneira no Brasil, também preenche uma lacuna do Estatuto da Criança e do Adolescente, que separa a criança da mãe que mora em abrigo assim que se dá o parto.
Divertida, Raquel entra na organização distribuindo recados. "Cadê o sapato, filho? Nossa, que príncipe, que princesa! Eliane, ninguém é obrigado a ver sua calcinha cor-de-rosa." Quando pára e alguém a abraça, a outra grita: "Também quero".
Essa alegria só acaba quando ouve alguém dizer que suas gêmeas estão "jogadinhas". "Para mim, a maternidade, assim como a psicologia, é coletiva. Batalho pelas minhas filhas, e isso não me impede de fazer o mesmo pelos filhos das meninas da Lua Nova", conclui.


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