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O dia em que tudo deu errado, menos o show
Patrícia Santos/Folha Imagem
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Bono Vox e a bateria da Salgueiro, no autódromo do Rio
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FERNANDA DA ESCÓSSIA
MÁRIO MOREIRA
da Sucursal do Rio
Do trânsito ao estacionamento,
passando pela segurança, pelos ingressos e pelos banheiros, toda a
infra-estrutura montada para o
show do U2 no autódromo Nelson
Piquet, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), fracassou.
A divisão dos ingressos por setores, planejada para o Maracanã,
não foi adequada ao espaço do autódromo. Quem pagou R$ 175 pela
cadeira especial, por exemplo, ficou numa arquibancada vizinha à
ocupada por quem pagou R$ 30
pelo ingresso de arquibancada.
A Folha flagrou seguranças
atuando como cambistas e facilitando a passagem dos fãs de um
setor para outro. Os seguranças
vendiam o ingresso de arquibancada por R$ 30, mas diziam ao
comprador que ele teria acesso ao
gramado (ingresso a R$ 50).
O público não sabia por onde deveria entrar, e os seguranças não
sabiam informar. O público de arquibancada invadiu o gramado.
Muitos espectadores entraram
sem serem revistados e pelo menos
uma pessoa armada foi vista pela
reportagem da Folha.
O planejamento feito para o
trânsito falhou. Da zona sul aos
portões do autódromo, o engarrafamento tomou conta da cidade e
durou pelo menos quatro horas.
Os carros começaram a estacionar nas proximidades do autódromo. O engarrafamento tomou a
zona sul, o túnel Rebouças, a Lagoa, toda a Barra da Tijuca e os
acessos de chegada ao autódromo.
Muitos fãs chegaram ao local
quando o U2 já tinha encerrado o
show. Outros abandonaram os
carros e correram até cinco quilômetros para tentar chegar a tempo.
O atacante Romário ficou preso no
congestionamento e por pouco
não perdeu o show.
Muitos banheiros, sem água e
luz, estavam fechados. Os restaurantes foram concentrados nos armazéns dos boxes e não distribuídos pelo autódromo. Ambulantes,
teoricamente proibidos, tiveram
livre acesso.
A advogada Daniella Myuller,
24, dona de um ingresso de cadeira
especial, entrará na Justiça com
uma ação de restituição por danos
materiais e morais contra os produtores do show com base no Código de Defesa do Consumidor.
"Paguei para ir de cadeira especial, tomar um elevador e não enfrentar multidão. Fiquei no mesmo local de quem pagou R$ 20,
quero o dinheiro de volta", disse.
Daniella Myuller entrará com a
ação no Tribunal Especial Cível,
para causas até 20 salários mínimos. Nesses casos, o interessado
pode abrir a ação em seu próprio
nome, sem ajuda de advogado.
"Pago um show com preço de
Primeiro Mundo e tenho um serviço deplorável. Não comi, não fui
ao banheiro, fiquei no lugar errado. Só valeu porque sou fã do U2",
disse a estudante Ana Paula Neves.
Nem os convidados vips escaparam da desorganização. No camarote da Skol, patrocinadora do
show, um grupo de atores -todos
com ingresso na mão- foi barrado porque não havia lista de convidados na entrada.
Ao final do show, um segurança
do jogador Edmundo tentou tomar o filme de uma fotógrafa de
"O Dia" que flagrara o jogador
com uma amiga. Houve tumulto, e
o episódio acabou provocando
uma discussão entre seguranças
contratados pela produção e integrantes da Guarda Municipal.
Logo depois, cerca de 200 seguranças contratados cercaram a
torre de controle do autódromo,
onde estavam instalados a sala de
imprensa e serviços da produção.
Eles queriam receber o pagamento de R$ 30 pela noite de trabalho. Após 15 minutos, o encarregado começou a pagar os funcionários. Muitos, porém, saíram
sem dinheiro.
Colaborou Anna Lee, da Sucursal do Rio
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