São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

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O dia em que tudo deu errado, menos o show

Patrícia Santos/Folha Imagem
Bono Vox e a bateria da Salgueiro, no autódromo do Rio


FERNANDA DA ESCÓSSIA
MÁRIO MOREIRA

da Sucursal do Rio

Do trânsito ao estacionamento, passando pela segurança, pelos ingressos e pelos banheiros, toda a infra-estrutura montada para o show do U2 no autódromo Nelson Piquet, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio), fracassou.
A divisão dos ingressos por setores, planejada para o Maracanã, não foi adequada ao espaço do autódromo. Quem pagou R$ 175 pela cadeira especial, por exemplo, ficou numa arquibancada vizinha à ocupada por quem pagou R$ 30 pelo ingresso de arquibancada.
A Folha flagrou seguranças atuando como cambistas e facilitando a passagem dos fãs de um setor para outro. Os seguranças vendiam o ingresso de arquibancada por R$ 30, mas diziam ao comprador que ele teria acesso ao gramado (ingresso a R$ 50).
O público não sabia por onde deveria entrar, e os seguranças não sabiam informar. O público de arquibancada invadiu o gramado.
Muitos espectadores entraram sem serem revistados e pelo menos uma pessoa armada foi vista pela reportagem da Folha.
O planejamento feito para o trânsito falhou. Da zona sul aos portões do autódromo, o engarrafamento tomou conta da cidade e durou pelo menos quatro horas.
Os carros começaram a estacionar nas proximidades do autódromo. O engarrafamento tomou a zona sul, o túnel Rebouças, a Lagoa, toda a Barra da Tijuca e os acessos de chegada ao autódromo.
Muitos fãs chegaram ao local quando o U2 já tinha encerrado o show. Outros abandonaram os carros e correram até cinco quilômetros para tentar chegar a tempo. O atacante Romário ficou preso no congestionamento e por pouco não perdeu o show.
Muitos banheiros, sem água e luz, estavam fechados. Os restaurantes foram concentrados nos armazéns dos boxes e não distribuídos pelo autódromo. Ambulantes, teoricamente proibidos, tiveram livre acesso.
A advogada Daniella Myuller, 24, dona de um ingresso de cadeira especial, entrará na Justiça com uma ação de restituição por danos materiais e morais contra os produtores do show com base no Código de Defesa do Consumidor.
"Paguei para ir de cadeira especial, tomar um elevador e não enfrentar multidão. Fiquei no mesmo local de quem pagou R$ 20, quero o dinheiro de volta", disse.
Daniella Myuller entrará com a ação no Tribunal Especial Cível, para causas até 20 salários mínimos. Nesses casos, o interessado pode abrir a ação em seu próprio nome, sem ajuda de advogado.
"Pago um show com preço de Primeiro Mundo e tenho um serviço deplorável. Não comi, não fui ao banheiro, fiquei no lugar errado. Só valeu porque sou fã do U2", disse a estudante Ana Paula Neves.
Nem os convidados vips escaparam da desorganização. No camarote da Skol, patrocinadora do show, um grupo de atores -todos com ingresso na mão- foi barrado porque não havia lista de convidados na entrada.
Ao final do show, um segurança do jogador Edmundo tentou tomar o filme de uma fotógrafa de "O Dia" que flagrara o jogador com uma amiga. Houve tumulto, e o episódio acabou provocando uma discussão entre seguranças contratados pela produção e integrantes da Guarda Municipal.
Logo depois, cerca de 200 seguranças contratados cercaram a torre de controle do autódromo, onde estavam instalados a sala de imprensa e serviços da produção.
Eles queriam receber o pagamento de R$ 30 pela noite de trabalho. Após 15 minutos, o encarregado começou a pagar os funcionários. Muitos, porém, saíram sem dinheiro.


Colaborou Anna Lee, da Sucursal do Rio


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