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PONTO DE EQUILÍBRIO
Santa Cruz equaciona educação humanista e busca de sucesso
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Santa Cruz é há várias décadas reconhecido por formar algumas gerações da elite intelectual e
econômica de São Paulo e do país.
No colégio, estudaram o cantor
Chico Buarque, o cineasta Fernando Meirelles, o presidente do
Itaú, Paulo Setúbal, e o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. É lá que hoje outros filhos da
elite desfilam tão confortavelmente em chinelos e bermudas
quanto em roupas da moda. Hippies, nerds e camilinhas dividem
o mesmo espaço.
"Aqui tem todo tipo de gente.
Em geral, a convivência é boa,
mas alguns se acham melhores do
que os outros porque têm mais
grana. Tem muita panelinha", diz
Thais Pahl, 17, que não lembra de
ter tido um colega negro.
Mais do que outros igualmente
renomados, o colégio vive o conflito entre a defesa de uma formação humanista e que estimule o
espírito crítico do alunos, por um
lado, e as demandas, cada vez
mais fortes, por uma educação de
perfil pragmático, voltada para o
êxito profissional e no vestibular.
O equilíbrio entre essas duas vocações faz parte da história do
Santa, como a escola é chamada
pelos alunos.
"O colégio oferece reflexões sobre a realidade do mundo, sem ter
objetivos imediatos, como o vestibular, mas pensando a longo prazo, a fim de dar aos alunos uma
educação global com tendência
diversa, que é o desenvolvimento
de uma visão humanista", diz
Luiz Eduardo Cerqueira Magalhães, diretor-geral da escola.
O campus do Santa Cruz lembra o de uma universidade norte-americana: um espaço amplo,
cheios de árvores e de estudantes
deitados à sombra na hora do recreio. Para entrar, é preciso atravessar uma dura seleção: quem
vem de fora (não fez o ensino fundamental lá) passa por um vestibulinho no qual cada vaga é disputada por três concorrentes.
O currículo mescla uma carga
grande das disciplinas tradicionais -física, química, literatura- com aulas de cinema, filosofia e ética e cidadania. A escola
oferece ainda atividades não-obrigatórias de aprofundamento
nas matérias regulares, como preparação para as provas de ingresso na universidade.
A escola não promove simulados e a maioria faz cursinho. Dos
aprovados nos cursos mais disputados da USP em 2005, 89% dos
alunos do colégio freqüentaram
algum pré-vestibular.
O Santa é considerado um colégio liberal em matéria de comportamento. É permitido namorar no
intervalo, não há uniforme e,
quando toca o sinal do início da
aula, cada aluno decide se entra
ou não na classe: uma prática chamada pela direção de "autonomia
progressiva".
"Vou jogar uma bolinha em detrimento de algum conhecimento
de biologia", admite Pedro Betti,
17, ao decidir matar uma aula da
disciplina.
"Aqui, tem de saber aproveitar a
liberdade que se tem, porque a
gente também arca com as conseqüências do que faz. Alguns amigos faltaram demais e repetiram
na matéria", conta.
Afinidades pessoais à parte, os
alunos do Santa Cruz afirmam
que as aulas são interessantes e os
professores, muito bons. "Eles envolvem os alunos no assunto, interligando e aprofundando as
matérias", diz Thais Pahl.
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