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Campanha em 5 momentos
Após começo "sofrível", petista embalou ao emplacar tática de colar imagem à de Lula
VALDO CRUZ
DE BRASÍLIA
ANA FLOR
DE SÃO PAULO
Depois de um pontapé inicial considerado por aliados
"sofrível e temerário", Dilma
Rousseff (PT) tornou-se favorita ao seguir a risca os conselhos do comando de sua
campanha. Mas chega à reta
final correndo o risco de enfrentar um segundo turno
por conta do escândalo envolvendo sua ex-braço direito, Erenice Guerra.
Sua principal virtude, dizem assessores, foi aceitar
ser comandada e aprender os
segredos de algo que nunca
tinha feito antes: disputar
uma eleição. Deu seus tropeços, enfrentou dois escândalos, mas não foi o fracasso
previsto pela oposição.
Disposta a se moldar à figura de candidata criada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não quis deixar
escapar a oportunidade que
caiu no seu colo depois que
as crises do primeiro mandato lulista derrubaram José
Dirceu e Antonio Palocci.
A seguir, a trajetória da
campanha da candidata:
1
QUANDO TUDO
DAVA ERRADO
O pontapé inicial, em
abril, foi desastroso. É praticamente uma unanimidade
no comando de campanha
que o pior momento de Dilma foi logo após deixar o governo. Foram semanas de erros contínuos da pré-candidata, pela primeira vez sem a
proteção do cargo de ministra e da agenda oficial.
Logo na primeira viagem,
a Minas Gerais, virou alvo
dos tucanos por visitar o túmulo do presidente Tancredo Neves. Pior ainda, ficou
em maus lençóis com o
PMDB local ao admitir o voto
que ficou conhecido como
"Dilmasia" (dobradinha com
Antonio Anastasia, do PSDB,
para governador).
Nas palavras de um auxiliar da candidata, naquela fase "tudo dava errado para
nós, ficamos presos à agenda
criada pelo Serra, que acertava tudo". Hoje, a equipe da
petista diz que, se aquele ritmo fosse mantido, a eleição
estava perdida.
Até Lula deixou escapar
comentários negativos sobre
as roupas cheias de babados.
O criador chegou a confidenciar a aliados que Dilma se
vestia como uma "tia-avó".
Reflexo dos erros, não subiu nas pesquisas. Serra liderava com 40%, contra 29%
de Dilma, em abril.
2
NO "JN",
O DIA DA VIRADA
Em 10 de agosto, um dia
depois de sua entrevista concedida ao "Jornal Nacional",
a equipe de coordenação se
reuniu em Brasília.
A avaliação foi unânime:
se não cometessem nenhum
erro grave, dificilmente perderiam a eleição. Um dos
coordenadores, otimista,
chegou a vaticinar: "Ganhamos a eleição ontem".
O otimismo vinha do desempenho da candidata
diante de Fátima Bernardes e
William Bonner. Ali, ela se
expunha pela primeira vez,
sem a proteção do marqueteiro João Santana, a uma entrevista dura, num telejornal
de grande audiência.
Na avaliação de sua equipe, a entrevista foi o "símbolo da virada". Era o sinal de
que, nos debates que estavam por vir, Dilma não teria
dificuldades graves.
Logo depois, o Datafolha
divulgou pesquisa em que
ela aparecia pela primeira
vez à frente do tucano José
Serra, 41% contra 33%.
3
A EX-BRAÇO DIREITO
VIRA "EX-ASSESSORA"
A pouco mais de duas semanas da eleição e subindo
nas pesquisas, a campanha
sofreu um revés. As acusações de tráfico de influência
na Casa Civil derrubaram,
em 17 de setembro, Erenice
Guerra, a figura do governo
mais identificada com Dilma.
Em reunião naquela manhã no Planalto, informado
de que as pesquisas indicavam que o caso continha alto
risco de contágio e poderia
prejudicar Dilma, Lula decidiu demitir Erenice.
Antes mesmo da queda da
ministra, Dilma revelou toda
a tensão que o caso provocava. Chegou a evitar, em debate, dizer que punha a "mão
no fogo" por Erenice e afirmou que não podia ser julgada por conta de "um filho de
uma ex-assessora".
Assim como Lula rifou
aliados próximos, Dilma
abandonava Erenice para se
manter viva na disputa.
Depois da queda de Erenice, o Datafolha apontou que
a diferença entre Dilma e a
soma dos adversários caiu de
12 para 7 pontos.
4
O FOGO AMIGO
PETISTA
Antes do caso Erenice, outro escândalo gerou tensão
na campanha. Fruto de uma
disputa entre os grupos petistas de São Paulo e Minas,
foi revelado que um grupo de
inteligência havia sido criado no bunker petista, ainda
antes da campanha oficial.
Uma das missões seria
montar dossiês contra Serra
e investigar petistas de SP.
A crise, em junho, fez a primeira baixa na campanha.
Amigo de Dilma, Fernando
Pimentel perdeu espaço e
deixou a coordenação.
A saída abriu espaço para
o crescimento da influência
de Antonio Palocci, colocado
por Lula na campanha.
Em seguida, a Folha revelou que papéis que circularam na pré-campanha de Dilma continham dados fiscais
sigilosos do vice-presidente
do PSDB, Eduardo Jorge.
Mais tarde, descobriu-se
que parentes de Serra também tiveram seu sigilo fiscal
violado, entre eles Veronica
Serra, filha do tucano.
Mas o escândalo não se refletiu nas pesquisas.
5
O ÍCONE
E O CABELEIREIRO
A equipe do marqueteiro
João Santana, a mesma da
reeleição de Lula, conseguiu
estabelecer a bem-sucedida
estratégia de colar a imagem
de Dilma à do presidente.
A estratégia mostrou sua
força em maio, com o programa do PT em que Lula dizia
que Dilma iria dar continuidade a seu governo.
A peça -em que Lula chega a comparar Dilma ao sul-africano Nelson Mandela-
impulsionou a candidatura e
a vantagem foi amalgamada
no início do horário eleitoral.
O marketing foi além da
TV. Dilma repaginou roupas
e maquiagem, trazendo para
sua órbita famosos como
Alexandre Herchcovitch e
Celso Kamura, e teve cada
evento e fala planejados.
No auge da crise envolvendo Erenice, por exemplo, a
campanha optou por coletivas em cidades menores,
longe do que considerava a
imprensa "mais dura" de
Brasília e São Paulo.
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