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Campanha em 5 momentos
Em meio a uma rota eleitoral turbulenta, tucano anota ideias em "bíblia" de 230 págs.
CATIA SEABRA
BRENO COSTA
DE SÃO PAULO
Ele descreve o presidente
Lula como o "teflon da República". E foi sob essa ótica
que o candidato do PSDB, José Serra, traçou sua rota para
a corrida presidencial.
Certo de que "nada cola
em Lula", poupou o presidente de ataques, reservando-os para a candidata petista, Dilma Rousseff (PT).
Esse exercício de equilíbrio rendeu abalos no mundo tucano, hoje minimizados
pela expectativa de que ocorra segundo turno.
Leia aqui os principais momentos da campanha.
1
SE CONSELHO
FOSSE BOM
Candidato de um partido
marcado por disputas internas, Serra resistiu à convocação de um conselho político
para a coordenação da campanha. "É pauta negativa".
Serra insinuou essa contrariedade ao senador Tasso
Jereissati (CE), durante visita
ao Ceará. "Não me avisaram
sobre esse conselho. Vai ver
que eu não faço parte."
Seu desconforto político
vem de eleições passadas,
como a de 2002, quando fatia
do tucanato abandonou sua
candidatura ao Planalto.
Já nesta campanha, Serra
foi surpreendido ao saber, no
dia seguinte, que a cúpula do
partido tinha se reunido em
São Paulo para avaliação crítica da disputa.
Outra surpresa para Serra
foi a decisão do ex-governador de Minas Aécio Neves de
anunciar, três meses antes
do combinado, que desistira
da disputa pela Presidência.
Serra e Aécio tiveram uma
delicada relação. "Por favor,
não me venha falar em prévias", chegou a apelar a Aécio, num encontro partidário
ainda na pré-campanha.
A fissura pode ser expressa pela dispersão geográfica
da campanha. Só em São
Paulo, são seis escritórios.
2
SAÚDE É O
QUE INTERESSA
"Olha uma farmácia. Não
posso deixar de entrar...Os
genéricos", justificou Serra
durante uma caminhada.
Ex-ministro da Saúde, ele
transformou obsessão em
peça de marketing.
Tema recorrente do programa eleitoral, a saúde é
destaque nos discursos. Serra abusa da fama de hipocondríaco até para descontrair.
"Alckmin tem várias vantagens sobre mim. Uma delas
é que ele entende de medicina", brincou, num discurso.
A saúde também invade a
rotina do candidato. Sofrendo de problemas gástricos,
Serra nunca dispensa anti-ácidos e evita extravagâncias
à mesa. Nada de álcool, queijo derretido e frituras.
Só toma refrigerante após
mexer com uma colher até
que fique sem gás. A dieta foi
flexibilizada na campanha,
quando, admite, seu peso
"oscilou um quilo e meio".
3
PROGRAMA
DE INDIO
"Vou dormir. Não tenho
mais idade para isso", resmungou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Eram 23h45m do dia 29 de
junho, véspera do prazo final
para registro de candidaturas, e persistia o impasse em
torno da escolha do vice.
Feito após uma maratona
de reuniões -uma delas madrugada adentro- o comentário de FHC ilustra um dos
momentos mais tensos da
campanha de Serra.
Disposto a enfrentar o
DEM e bancar a escolha do
tucano Alvaro Dias, Serra foi
obrigado a recuar quando
Osmar Dias (PDT-PR), irmão
do senador, decidiu concorrer ao governo do Paraná
aliado a Dilma.
A negociação exigiu nova
rodada de reuniões ao longo
da madrugada. Passava das
2h, e diante do computador,
Serra leu a ficha do deputado
Indio da Costa (DEM-RJ).
"O Gonzalez acha o Indio
da Costa uma boa opção",
comentou Serra, segundo
um dos participantes.
Enfim escolhido, Indio
causou controvérsia ao acusar o PT de envolvimento
com narcotráfico num programa do PSDB na internet.
4
AMADO
GURU
Mesmo sob ataques de
aliados, o jornalista Luiz
Gonzalez, centralizou a estrutura de comunicação,
controlando orçamento superior a R$ 50 milhões.
Antes de assumir a coordenação de comunicação, rejeitou a ideia de parceria de um
grande publicitário, como
defendia o presidente do
PSDB, Sérgio Guerra.
Também avisou que deixaria a campanha se tivesse
que explorar a atuação de
Dilma durante a ditadura.
Gonzalez manteve o controle da comunicação até
quando a criação de uma favela cenográfica e a opção
pelo "Zé", no lugar de Serra,
foram focos de críticas.
Sobreviveu ao bombardeio após levar ao ar cenas
de Lula ao lado de Serra.
Longe de seus domínios, a
internet teve orçamento enxuto, o que não impediu uma
experiência exótica ao mundo tucano: a contratação dos
serviços de consultoria do
"guru" americano de ascendência indiana Ravi Singh.
Homem de confiança de
Serra, Gonzalez deve ganhar
fôlego extra caso o candidato
chegue ao segundo turno.
5
ENERGÉTICO
E ALONGAMENTO
Trilhando trajetória de
queda nas pesquisas até a semana passada, Serra chegou
a esmorecer. Em conversas,
lamentou que o eleitor pudesse eleger o PT em primeiro turno, algo hoje incerto.
O medo de uma derrota
acachapante serviu de combustível para o ritmo da
agenda."Farei o que estiver
ao meu alcance", repetia.
O candidato, que leva nas
viagens o professor de alongamento, não dispensa grandes doses de energético e sessões de massagens.
Desde 1º de setembro, tem
em mãos um calhamaço de
230 páginas, alvo de rabiscos
e anotações durante seus
voos pelo país. Ali está, em
detalhes, o que Serra pretende fazer se eleito.
Foi fruto de trabalho de Xico Graziano, seu secretário
de Meio Ambiente no governo paulista, e de uma equipe
responsável por filtrar as sugestões de internautas.
Apesar da promessa de
um programa participativo,
o produto final é de conhecimento apenas de Serra e seus
mais íntimos colaboradores.
Três delas, por exemplo, foram içadas da "bíblia" só nos
últimos momentos da campanha eleitoral: o salário mínimo de R$ 600, o reajuste de
10% para os aposentados e
os pensionistas, e a criação
de um 13º salário para o Bolsa Família.
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